“Só falta botar pá de cal e fechar o caixão”, diz Siufi sobre Bernal
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Calote, vereador Paulo Siufi (PMDB), já não tem mais dúvidas de que existem fatos suficientes para a cassação do prefeito Alcides Bernal (PP). “Só falta botar pá de cal e fechar o caixão”, afirmou Siufi, nesta sexta-feira, ao fazer um balanço do trabalho da comissão. “Tem tanta coisa que estamos perplexos”, acrescentou.
Depois de 50 dias de atuação, a CPI do Calote, instalada no dia 6 de junho, já acumula um grande número de denuncias e milhares de páginas de contratos e documentos. As investigações, segundo Siufi, se ampliaram muito desde a instauração da CPI. “Agora começou a reclamar um monte de gente que não recebe da prefeitura”, informou.
No começo a CPI do Calote se concentrou em empresas que estavam em crise por não receber pelos serviços prestados à Prefeitura de Campo Grande, desde que Alcides Bernal tomou posse em janeiro. Já foram ouvidos representantes da Solurb, Vyga, RDM Recuperadora de Créditos e até mesmo do Sisem (Sindicato dos Servidores Municipais), que já até ingressou com pedido de ação por improbidade administrativa contra Bernal no Ministério Público Estadual (MPE), em razão da urgência, já que teve retidos quase R$ 600 mil em Imposto Sindical e Contribuição Assistencial e a entidade atrasou pagamentos de funcionários e fornecedores em decorrência disso.
Hoje, o prefeito Alcides Bernal oficializou a contratação da microempresa Salute Distribuidora de Alimentos, criada no dia 1º de abril deste ano, pelo valor de R$ 4,3 milhões. A Salute também passou a ser investigada pela CPI do Calote, assim como a MegaServ, que recebeu antecipadamente o contrato de R$ 4,4 milhões, em regime emergencial e sem licitação, para substituir a Total Serviços Gerais na limpeza de postos de saúde. A Total deixou o serviço depois de ficar sem receber o R$ 1,4 milhão em janeiro e fevereiro.
“Muitos reclamam que estamos investigando empresas que recebem em dia e outras de forma antecipada. A CPI não tem como investigar só os que levam calote, mas também os que também as empresas que não tem endereço fixo, como a Salute e a MegaServ, que já descobriram onde funciona”, explicou Paulo Siufi. “Não estamos desviando o foco. À prefeitura basta enviar contratos, pagamentos, notas e comprovar que está tudo certo”, emendou. “A CPI foi criada para analisar inadimplência de contratos em todas as empresas. Como saber se tem ou não inadimplência? Tenho de ter documentos na mão. Se não manda, a gente tem de fazer inquérito e investigar”, disse.
Para ele, o caso da Salute é realmente muito grave, até porque o prefeito Alcides Bernal só reconheceu que tinha saído os R$ 4,3 milhões nesse contrato depois da divulgação na imprensa. “Só hoje ele publicou. Há algo de errado nisso. Ele tem de encontrar o foco certo, administrar Campo Grande com lisura”, ponderou.
Também teria ficado evidente a irregularidade na compra de gás, após a reclamação da Jagás. Segundo Siufi, o relator da CPI do Calote, vereador Elizeu Dionízio (PSL), descobriu que a empresa perdeu a concorrência e, depois de dispensar a vencedora, a Prefeitura de Campo Grande comprou dela. “É carta marcada”, acusou.
A CPI do Calote, conforme Siufi, está trabalhando com responsabilidade e lisura. Lembrou que o prefeito Alcides Bernal rejeitou-o como presidente da comissão e acusou-o de estar fazendo o papel de “advogado de luxo” de empresas
Ao falar da Maternidade Cândido Mariano, que só hoje recebeu R$ 287 mil, após mais de seis meses de retenção, Siufi lamentou que só a partir das ações da CPI do Calote o prefeito faça os pagamentos devidos, situação que já tinha sido constatada também em relação à Solurb, que recebeu dois dias depois de reclamar na comissão um débito de R$ 18 milhões referente a 90 dias de atraso.
Estranhou, porém, que a Solurb não tenha cobrado juros pelo atraso no pagamento. “Se você fica com dívida na conta de luz, telefone ou no banco, não paga para ver”, comparou Siufi. “Ou Solurb é muito boazinha ou tem alguma coisa aí”, disparou.
Juntando todos esses fatos, Paulo Siufi acredita que já há provas suficientes para processar o prefeito Alcides Bernal por “improbidade administrativa” na Câmara de Campo Grande. “Não dá para ficar arrastando muito. Já temos indícios suficientes para fechar”, admitiu. "Se vão fazer alguma coisa depois, eu não sei", acrescentou.
Observa, porém, que há ainda oitivas por realizar, acareações, especialmente entre o procurador-geral do Município, Luiz Carlos Santini, e o representante da RDM, e provas a serem incluídas e analisadas, antes de o relator Elizeu Dionízio elaborar o relatório final. “O relator muito intenso nessa análise”, garantiu. O prazo é de 90 dias, devendo terminar no começo de setembro, caso não haja pedido de prorrogação.