Cemitério cobra dívida de jazigo do 1º governador de MS, hoje abandonado
Responsáveis por tumulo do ex-governador não pagam taxa de manutenção há 21 anos e nem a lápide existe mais
O jazigo que guarda os restos mortais de Harry Amorim Costa, o primeiro governador de Mato Grosso do Sul, está abandonado no Cemitério Parque das Primaveras. A informação é de que as taxas para os serviços de manutenção não são pagas há 21 anos.
Edital publicado em classificados, no dia 13 de junho, convoca os sucessores legais para que, no prazo de 30 dias, procurem a administração do cemitério e resolvam o problema. Caso contrário, os restos podem ser removidos para um ossário.
O edital ressalta que o chamamento está relacionado “ao não cumprimento da cláusula 10 (dez) da promessa de cessão de jazigo”. Na lista, constam clientes que devem de R$ 1 mil a R$ 10 mil. O Campo Grande News foi até o cemitério e confirmou que o local tem dívidas relacionadas à taxa de manutenção.
Em respeito à família do ex-governador e aos demais clientes, a Cempar – Empreendimentos Sociais Ltda – empresa que administra o cemitério – se limitou em dizer que a publicação é um procedimento padrão quando se perde o contato com a família. Além disso, e empresa deixou claro que cada caso possui uma particularidade e o cancelamento da cessão do jazigo, exumação do cadáver ou transferência de restos mortais, não ocorrem de forma imediata.
Ao Campo Grande News, a Cempar explicou ainda que o cemitério cobra 1/3 do salário mínimo (cerca de R$ 300), anualmente, pela manutenção – quantia que seria a menor em comparação a cemitérios do País.
No local, é possível ver que, diferente dos demais túmulos, o do ex-governador está entre os que nem possui lápide.
Conseguimos contato um dos 6 filhos do ex-governador, que atualmente mora em Porto Alegre (RS). José Carlos Giordani Costa garante que hoje mesmo a família entrou em contato com a administração do cemitério para levantar os débitos e quitar as dívidas.
Segundo ele, quando o pai morreu, o governo estadual providenciou todos os trâmites do funeral ao lado da segunda esposa de Harry Amorim. "Meu pai sempre falou que gostaria de ser cremado, para os filhos não terem trabalho depois da sua morte. Mas como o cerimonial do governo providenciou tudo na época, ele foi sepultado. Até hoje a gente pensava que o Estado mantinha o jazigo. Depois que descobrimos a situação, resolvemos as pendências", afirma.
Governo - Harry Amorim Costa assumiu o governo em 1979, após ser nomeado pelo presidente Ernesto Geisel, como primeiro governador do novo estado de Mato Grosso do Sul, criado em 1977.
Natural de Cruz Alta (RS), ficou seis meses apenas no cargo. Como veio de fora, a indicação do gaúcho Harry Amorim não foi bem recebida por grupos políticos fortes da região. Teve como principais opositores José Fragelli, Pedro Pedrossian e Mendes Canale, que no mesmo ano entregaram ao novo presidente da República, general João Batista Figueiredo, um dossiê contra o governador, alegando concessão de favores a prefeitos e deputados da Arena.
Porém, o trunfo maior contra ele foi artigo aprovado pela Assembleia Constituinte estadual que equiparava seu mandato aos dos demais governadores, modificando lei sobre os nomeados que até então assegurava ao presidente da República, a qualquer momento, a destituição do subordinado. Diante disso, Harry Amorim foi demitido e no seu lugar assumiu Marcelo Miranda, então prefeito de Campo Grande
Ele foi também deputado estadual e secretário de estado do Meio Ambiente. Morreu em 1988, vítima de acidente automobilístico. Seu funeral teve todas as honras de uma grande personalidade, mas até hoje não há qualquer identificação no lugar que destaque a importância histórica de Harry Amorim.
No Parque das Nações Indígenas, há uma escultura representada pelo busto do ex-governador Harry Amorim Costa, feita com a contribuição da colônia gaúcha radicada no Mato Grosso do Sul.
Curiosidades - Há 4 anos, atendendo a um pedido da família, o Governo do Estado trocou o nome do Presídio de Segurança Máxima de Dourados, um dos maiores complexos penitenciários do Estado.
A família entendeu que o nome de Amorim Costa em um local como uma penitenciária prejudica sua imagem. A publicação feita no Diário Oficial do Estado no dia 26 de dezembro 2014 renomeia o presídio como “PED (Penitenciária Estadual de Dourados) - MS”.