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Política

Ex-assessor confessa troca de cheques, mas nega promessas

Antonio Marques e Leonardo Rocha | 05/02/2016 11:21
Ronan Feitosa, de camisa azul, chega à sessão acompanhado de assessor do Tribunal de Justiça,  para o depoimento ao desembargador Luiz Claudio Bonassini, ao fundo. (Foto: Marcos Ermínio)
Ronan Feitosa, de camisa azul, chega à sessão acompanhado de assessor do Tribunal de Justiça, para o depoimento ao desembargador Luiz Claudio Bonassini, ao fundo. (Foto: Marcos Ermínio)

Primeiro a depor na audiência de instrução no processo que é acusado junto com Gilmar Olarte (PP) de lavagem de dinheiro, Ronan Feitosa reconheceu que trocava cheques para fazer empréstimos e que o valor chegou a R$ 140 mil. Disse que é músico e teria uma renda de R$ 3 mil mensais e fazia assessoria do prefeito Alcides Bernal (PP), além de negar que atuava fazendo falsas promessas em nome da Prefeitura.

Segundo ele, participava de um grupo político e muitas promessas não foram cumpridas. Ronan relatou que contratou cabos eleitorais durante as eleições municipais de 2012 para campanha de Bernal e Gilmar Olarte e precisava pagá-los. “Fui pressionado e recebi ameaças. Ninguém me reembolsou”, declarou Ronan, um dos réus da ação decorrente da chamada Operação Adna (sigla de Assembleia de Deus Nova Aliança, igreja de Olarte).

Ronan negou que fazia promessas de cargos e vantagens a ninguém. “Não tinha caneta e nem poder. Nunca coagi ninguém a me dar cheques. As pessoas eram próximas de mim”, afirmou ele, acrescentando que nem conhecia direito o empresário Salém Pereira Vieira e mesmo assim teria emprestado R$ 7 mil a ele.

Em seu depoimento em novembro do ano passado, ao ser questionado onde teria conhecido Ronan, Salém disse que o conheceu há três anos, que Ronan se apresentava como chefe da Sedesc (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Ciência e Tecnologia e Agronegócio) e era “homem de confiança do Olarte”.

Disse também que Feitosa ofereceu várias vantagens para ele, como liberação mais rápida de burocracias para liberação de documentos relativos a terrenos e imóveis, além de regularização de áreas públicas, já que Salém trabalha no ramo de obras há 15 anos.

Salém, que também seria um dos agiotas apontados pelo MPE, confirmou que trocava cheque para algumas pessoas, e em função dos benefícios oferecidos aceitou fazer o mesmo para Ronan, tudo a pedido de Olarte. Salém não citou qualquer empréstimo que teria feito do ex-assessor de Olarte.

Ao ser questionado sobre o vídeo gravado por Salém em que mostra Ronan falando dos cheques e fazendo promessas, Ronan disse ao desembargador Luiz Claudio Bonassini que iria ver se poderia ajudar o empresário em questões de habitação, “mas que ele mesmo (Salém) poderia resolver com a prefeitura”.

Ronan Feitosa disse ao desembargador que o aposentado Ito Melo Andrade doou R$ 30 mil para a igreja em que ele e Olarte eram pastores. Informou que o valor seria para uma festa e que teria sido usado para pagar os cantores e transportes das pessoas. “Recebi este recurso na agência do banco e não houve depósito em outra conta. A igreja tem o controle desta fase”, garantiu.

Em seu depoimento, na primeira audiência, Ito Melo disse que Ronan propôs uma parceria no ramo de consultoria e assessoria financeira, dizendo que eles teriam trânsito fácil na prefeitura e com empresários de várias cidades do interior. Ele ainda revelou que o negócio deu certo por um tempo até que Ronan pediu dinheiro dizendo que precisava "fomentar a empresa".

Ito lembrou que passou R$ 70 mil em cheque para Ronan e que quando começou a cobrá-lo a resposta foi de que estava sem dinheiro. O aposentado estimou que, com juros, o prejuízo chegue aos R$ 80 mil.

Ito ainda lembrou que eles se encontraram no edifício Evidence, uma vez, em março de 2013 o Gilmar Olarte estava junto, quando ainda era vice-prefeito. Olarte teria comentado que estava pensando em se lançar como deputado federal. Em nenhum momento o aposentado citou doação de R$ 30 mil para a igreja Assembleia de Deus Nova Aliança.

O ex-assessor de Olarte revelou ainda que ao começar receber ameaças dos agiotas resolveu sair de Campo Grande, em setembro de 2013, quando ainda era funcionário da prefeitura. “Fui exonerado apenas em 2014”, e confirmou ter continuado recebendo salário neste período. Ele disse ter ido para a cidade de Araçatuba, no interior do estado de São Paulo.

Ronan disse que no período que ficou na cidade paulista recebeu uma ajuda de R$ 6 mil, mas não soube informar quem havia mandado o dinheiro. E teria vindo a Campo Grande por 4 a 5 vezes neste tempo. “Fui preso por quase 24 horas sem mandado”, reclamou ele, que chegou a desmentir algumas declarações que deu ao Gaeco (Grupo de Atuação e Repressão ao Crime Organizado).

O depoente revelou ao promotor Marcos Alex Veras que chegou a fazer um vídeo direcionado aos irmãos da sua igreja em que pediu perdão a eles. Informou ainda que o ex-secretário de governo da gestão de Gilmar Olarte, Rodrigo Pimentel, apenas teria acalmada sua mãe, e que Pimentel queria ajudá-lo.

Ronan negou que os valores dos cheques que ele teria trocado ficaram com ele. “Era para pagar conta de campanha”, declarou. Em resposta ao promotor, também negou que jamais fez promessa de ajudar alguém na prefeitura e que nas negociações com as pessoas que lhe emprestaram os cheques “nunca Olarte estava junto. Não sei nada de atos irregulares de Olarte”, afirmou seu ex-assessor.

Ao ser perguntado pelos advogados de defesa, Ronan revelou que os vereadores Derly dos Reis de Oliveira, o Cazuza (PP), e Evander Vendramini (PP), de Corumbá, aliados do prefeito Alcides Bernal teriam tentado falar com ele há cerca de cinco dias atrás por intermédio da Marli Débora, ex-assessora de Olarte. “Eu respondi que não queria falar com ninguém”, garantiu. Ele ainda informou que o vereador Vendramini teria dito, por meio do irmão, que poderia ajudá-lo como advogado.

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