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Política

“Maior do que eu imaginava”, diz Rose sobre “ganhar” com a derrota nas eleições

Nova superintendente da Sudeco, a ex-deputada diz que foco agora são projetos para MS, MT, GO e DF

Anahi Zurutuza | 12/05/2023 22:03
Rose Modesto durante entrevista, na tarde desta sexta-feira (12), na volta de Brasília. (Foto: Alex Machado)
Rose Modesto durante entrevista, na tarde desta sexta-feira (12), na volta de Brasília. (Foto: Alex Machado)

Há menos de uma semana com gabinete novo, a ex-candidata ao Governo de Mato Grosso do Sul e ex-deputada federal, Rose Modesto (UB), chegou à sede do Campo Grande News, na tarde desta sexta-feira (12), com ar de cansaço, mas feliz. Comentou, aos risos, que até tentou se livrar da ponte aérea Brasília (DF)/Campo Grande (MS), mas não conseguiu.

Só que pior que os últimos quatro anos da vida atribulada como parlamentar federal, ela diz que foi viver os últimos quatro meses num certo marasmo, nas férias “forçadas” após o fim dos trabalhos no Congresso. “De 98 pra cá, eu praticamente não parei de trabalhar”.

À reportagem, Rose falou sobre os planos para a Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste), cargo federal que assumiu na terça-feira, dia 9. Disse entender o tamanho da responsabilidade que é ser a primeira mulher a comandar uma autarquia deste porte.

Na entrevista, a professora Rosiane Modesto, que foi vereadora por Campo Grande, se elegeu vice-governadora, foi secretária estadual de Direitos Humanos, concorreu à Prefeitura da Capital e chegou à Câmara Federal, também falou de política, embora tenha feito mistério sobre os planos para o futuro. Confira:

Campo Grande News - Impossível não começar essa conversa sem falar de eleição. A senhora ficou em quarto lugar, conquistando só 12,42% dos votos dos sul-mato-grossenses. Mas o que acha que ganhou perdendo essa eleição? Assumir uma superintendência com um orçamento de quase R$ 170 milhões para 2023, é a volta por cima?

Rose Modesto - Realmente, é um projeto maior do que eu imaginava porque o meu sonho de ser governadora era pra cuidar do Mato Grosso do Sul. Agora, eu tenho que cuidar do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, de Goiás e do Distrito Federal, nessa área do desenvolvimento econômico, social, cultural, ambiental, que é a finalidade da Sudeco. Os projetos que tem lá, os fundos que tem lá, os recursos que estão lá. Então, eu penso que ao ter disputado a eleição de governo, eu tive uma derrota eleitoral, mas uma vitória política. Primeiro por ter me posicionado, ter colocado as minhas ideias pra que o eleitor sul-mato-grossense analisasse. Eu sempre disse e continuo dizendo, era importante ter uma voz feminina e acabou que depois, teve duas [além de Rose, a candidata Gisele Marques, do PT]. Depois de 20 anos. E foi legal, porque nem candidata tinha.

E vocês conseguiram debater propostas para Mato Grosso do Sul. Não foi?

Exatamente. Então, eu vejo como algo positivo. Saí fortalecida. Tive oportunidade de ouvir ainda mais as demandas do Estado pra criar o nosso plano de governo. Então, a gente ganha. Eu não vejo assim, como uma derrota. É eleitoral, porque quem tem mais voto é que ganha. Mas é uma vitória política, é uma vitória da democracia. Tudo isso me ajudou a assumir essa cadeira como superintendente da Sudeco, mais experiente inclusive por ter disputado a eleição. Então, acho que eu ganhei experiência, me sinto mais forte, porque perder também é importante, sabia? Eu acho que só está pronto mesmo é quem já ganhou e já perdeu. Quem sabe a alegria de você comemorar uma vitória eleitoral, mas também a tristeza de você terminar a eleição e não ter conseguido um objetivo naquele momento. Isso tudo nos torna mais fortes para os próximos desafios que vem aí. E esse [comandar a Sudeco] chegou mais rápido do que eu imaginava.

Quais são seus primeiros planos à frente de uma superintendência tão importante, como a Sudeco? 

A minha meta principal é alavancar o desenvolvimento econômico pra nossa região do Centro-Oeste, que é uma região muito importante para o resultado econômico que o Brasil precisa ter. Somos a região que mais produz no País. Acho que a minha meta principal é fortalecer o setor produtivo, do rural, do empresarial ou industrial, mas que esse desenvolvimento econômico, ele possa estar aliado com o desenvolvimento e o crescimento social. O que eu estou querendo dizer é que não adianta alguém morar em estado rico, em região rica, se as pessoas que vivem aqui não estão conseguindo emprego, se elas não estão conseguindo ter salário um pouco melhor, para viver com mais qualidade de vida. Minha meta é fazer com que esse desenvolvimento econômico no Centro-Oeste venha aliado com os índices e com os números melhores para o campo social.

Na opinião da senhora, o agronegócio, vocação econômica do Centro-Oeste, é que vai tirar o País da crise? Como fazer crescer protegendo o meio ambiente? 

Outro exemplo, 3% do valor do FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste), que é mais de mais de R$ 10,5 bilhões em recursos, têm de ser investidos em projetos que vão trabalhar nas regiões pantaneira do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso e nas regiões de Cerrado. Para que essas regiões trabalhem com o agro sustentável. Fazendo o nosso agro ser mais forte e ao mesmo tempo trabalhar com sustentabilidade. Está dentro do nosso PRDCO (Plano Regional de Desenvolvimento do Centro-Oeste), fazer a região Centro-Oeste produzir mais, de forma sustentável.

E no campo social, como a senhora ressaltou, e que é o seu campo de atuação também, o que é possível dar destaque como projetos para os próximos anos?

Olha como é ampla a atuação da Sudeco? Tem também para trabalhar o FCO estudantil, com foco nas instituições que trabalham o Ensino Superior para que possamos dar bolsas de estudo para famílias mais vulneráveis. Esse é um propósito nosso dentro da Sudeco. Tem gente que acha que é só administrar o FCO e FDCO. Mas não é só isso não. Tem um olhar muito específico para o campo social, da educação, da cultura e do meio ambiente. Nesta semana, tivemos reuniões com todas as diretorias que temos lá. Tivemos uma oficina com a UnB (Universidade de Brasília), as universidades, na verdade, eu quero trazer para perto. Quero interagir com os outros ministérios, não só o MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional), mas todos os outros. Se a gente começar a discutir sozinho, você perde tempo, perde dinheiro. Vamos colocar, então, todo mundo na mesa.

Governadores estão bastante preocupados com mudanças propostas no Congresso na maneira de cobrar tributos (unificar impostos, dentre outras ideias). O Centro-Oeste, em geral, estima que vai perder muito em arrecadação, logo agora num momento econômico muito positivo, apesar dos pesares, num cenário de crescimento acima da média nacional, puxado pelo agro. Que papel uma agência de fomento tem nesse cenário preocupante?

Primeiro, vamos falar de juros. É uma coisa que deixa todo mundo preocupado. Os juros altos e momento econômico delicado, a preocupação do governo é muito forte. Mas, quando a gente fala da Sudeco, a gente pode ter certeza que oferecemos os melhores juros para todos os setores. Nesse momento delicado, já é um alívio. E nessa semana eu também tive uma reunião muito importante com um vice-presidente do BB (Banco do Brasil) para discutir inclusive buscar outros fundos para os setores rural, empresarial e industrial, até fundos internacionais.O Banco do Nordeste já trabalha com outros fundos e foi a pauta que eu levei. Nós vamos agora começar a desenrolar. E penso que o Congresso precisa acelerar essa questão da Reforma Tributária, unificar os impostos e simplificar, para que o Brasil cresça com mais equidade. A reforma tem essa força para isso e o mercado está esperando isso.

Voltando a falar de política... A gente entende que a senhora começou a carreira na política do começo, no âmbito municipal, mas já teve atuação em âmbito nacional, durante os quatro anos que passou na Câmara. Acredita que, mesmo assim, o comando da Sudeco é uma maneira mais eficaz de projetá-la nacionalmente do ponto de vista político?

É um processo natural. A política é muito dinâmica e exige que a gente viva um dia de cada vez. Mas os melhores desempenhos no projeto política têm quem também apresenta os melhores resultados. Então, confesso que neste momento, vai ser em conseguir fazer boas entregas nessa missão tão importante que é ser a primeira mulher a comandar essa superintendência. Agora, é natural que meu nome fique mais em evidência, porque eu vou trabalhar com quatro estados e quatro estados muito importantes para o Brasil. Então, no cenário político, dentro do meu partido, tudo isso tem um peso. No cenário político, tive o apoio da grande maioria da nossa bancada e sou muito grata. O Vander [Loubet], como o nosso presidente da bancada, e a Camila [Jara], que são do PT, e que mesmo eu não sendo do PT e não tendo trabalhado a campanha do presidente Lula eu tive o carinho deles de terem assinado embaixo da minha indicação da Sudeco.

E a senhora acha que o seu eleitor vai se incomodar com isso ou vai ficar confuso? Afinal, fez campanha no segundo turno para o candidato do Bolsonaro em Mato Grosso do Sul e agora, faz parte do governo Lula, num Brasil tão polarizado ainda.

Meu eleitor, aquele que realmente me acompanha, sabe que eu sempre enxerguei os interesses de Campo Grande, de Mato Grosso do Sul e do Brasil acima dos interesses de partido. Foi assim que fiz quando foi candidata à deputada federal. O Bolsonaro não foi meu candidato a presidente em 2018. Me elegi apoiando o Alckmin, como candidato a presidente. E aí eu chego lá e como deputado, voto 90% de todas as pautas que tiveram e que eu entendia que eram importantes para o Brasil, com ele [Bolsonaro]. E vou fazer de tudo para que o governo do Lula dê certo. Porque se der para ele, dá certo para todo mundo. Pode ser que algum eleitor, nesse momento, não compreenda. Mas vou reconquistar com o meu trabalho.

Coragem não faltou para enfrentar o grupo ao qual pertencia (PSDB) e enfrentar outros sete candidatos que pleiteavam o comando do Estado. Vou insistir numa pergunta. A senhora tem planos de alçar voos mais altos na carreira política e se atirar numa candidatura à Presidência, por exemplo, como fizeram no ano passado Simone Tebet e Soraya Thronicke? Isso já passou pela sua cabeça?

Eu sempre digo que ninguém pode ser candidato a nada de si mesmo. Minha pretensão é, no momento, focar nos projetos que tenho de tocar. O amanhã para muita gente, infelizmente, nem chega. Claro que a gente tem de sonhar. Mas meu sonho é fazer boas entregas, porque aí o resultado é natural, que se você for cair, cai para cima. Com esse sentimento que estou, pensando muito mais agora no meu exercício no Poder Executivo. Muita gente me perguntou, ‘por que você não sai de novo deputada federal?’. Talvez fosse mais fácil. Mas eu queria ir para o Executivo e agora estou tendo essa oportunidade. Vou me dedicar, sem pensar em eleição, e uma coisa eu posso dizer, medo eu não tenho de nada não.

Vai fazer campanha daqui um ano ou só daqui três?

Nós acabamos de sair de uma eleição e o eleitor agora quer resultado. Vou focar nisso. Minha prioridade número 1 é fazer da Sudeco uma autarquia mais importante do que ela é. Sou apaixonada pela política e vou estar lá, colocando o meu nome à disposição ou apoiando. Mas eleição vai ser na hora certa. Quero trabalhar agora ao lado aqui do governo. Não tenho nada contra ninguém, nem contra o Riedel, meu colega de trabalho. Então, quero agora trabalhar junto.

Se for preciso, para concretizar seus planos, a senhora muda de partido novamente? Pergunto isso até para entender o que está acontecendo no União Brasil. O impasse sobre o comando do partido está caminhando para ser resolvido ou nem perto disso?

Meu desejo não é sair do União Brasil. Tive um partido antes do União Brasil, que foi o PSDB. O que acontece é que não dá pra aceitar quando não é respeitado o processo democrático. Logo dentro de um partido? Eu acho que tem de oxigenar, tem de ter alternância no comando. Ninguém é dono de partido. E foi quando alguns membros da executiva pediram para eu colocar meu nome e eu coloquei, mas antes de ter a eleição, todos nós fomos destituídos e novas pessoas entraram, sem votação, e aí isso tudo caminhou para uma briga judicial. Isso quem vai resolver vai ser a Justiça, porque agora teve duas eleições, duas chapas eleitas. Uma, que a nacional disse que tinha de ser cancelada, pelos vícios do processo e o juiz também, cancela e manda convocar novas eleições. Eles recorrem e o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) dá uma nova decisão validando a eleição deles. Agora, nós que recorremos e esperamos que seja votado o mérito, porque é uma liminar que eles têm, o grupo da senadora Soraya. E aí o que a Justiça decidir está decidido e vida que segue. Nunca fiz política brigando com ninguém.

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