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Política

Na CPI, ruralista duvida que índios invadam terras por vontade própria

Paulo Yafusso e Juliana Brum | 20/10/2015 17:33
Juscimara Bacha fala à CPI do Cimi, na Assembleia Legislativa. Convicção de que os índios não invadem áreas por vontade própria (Foto: Gerson Walber)
Juscimara Bacha fala à CPI do Cimi, na Assembleia Legislativa. Convicção de que os índios não invadem áreas por vontade própria (Foto: Gerson Walber)

Ao ser ouvida hoje a tarde pela CPI do Cimi da Assembleia Legislativa, a produtora rural Juscimara Barbosa da Fonseca Bacha, foi taxativa em dizer que tem certeza que as invasões de propriedades pelos índios em Mato Grosso do Sul tem a participação de outras pessoas além dos indígenas. “Duvido se existe a real vontade deles (os índios) de invadir por contra própria”, afirmou. Ela e o marido, o ex-deputado e ex-presidente da Enersul, Ricardo Bacha, foram convidados pela Comissão para falar da invasão da Fazenda Buriti, que pertence à família e foi cenário da fatídica tentativa de reintegração de posse que acabou na morte de um índio terena em 2013.

Juscimara Bacha contou aos deputados que foi morar na fazenda quando tinha 18 anos e na época o marido era engenheiro da antiga Cemat (Centrais Elétricas de Mato Grosso) e ficou lá durante 40 anos, convivendo em harmonia com os índios terena da região. Segundo ela, os terenas pediam autorização para entrar para pegar frutas ou pescar. Ela conta que tudo começou a mudar em 1998, quando o então deputado Zeca do PT, ao participar da Festa de São Sebastião, prometeu terra aos índios. “A partir daí os índios começaram a mudar, começaram a entrar sem autorização”, comentou.

A produtora rural afirmou ainda, que em 2000 veio a notícia da primeira invasão da propriedade da família, com a chegada de um caminhão cheio de índios. Em 2004, segundo ela, os índios, que geralmente não são diretos nas afirmações, mas mandam recados. “Uns índios amigos falaram que tinham pessoas poderosas por trás das invasões e que era melhor abandonar a fazenda”, disse Juscimara Bacha.

Mas o caso mais dramático foi em maio de 2013. Cerca de 600 índios ocuparam a Fazenda Buriti e durante o cumprimento de reintegração de posse determinado pela Justiça, policiais militares e federais entraram em confronto com os índios e o terena Oziel Gabriel, de 35 anos, foi atingido por um tiro e morreu antes de receber atendimento médico no hospital de Sidrolândia (cidade a 65 quilômetros de Campo Grande). Para Juscimara Bacha, esse episódio serviu para que ela pudesse ter a convicção de que havia mais gente participando da organização da invasão. Ela afirmou que no grupo de invasores, a maioria era mulheres e crianças e que “não eram conhecidos” na região.

Além dos relatos sobre a situação em Sidrolândia, ela apresentou um vídeo que, segundo Juscimara Bacha, é a prova de que o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) está envolvido nas invasões de terras. Ao exibir o material, os produtores que estavam no plenário vibraram, e foi preciso a presidente da CPI, deputada Mara Casaro (PT do B) chamar a atenção. Juscimara garante que o vídeo é uma gravação feita duas horas após a invasão e nele aparece Flávio Machado, coordenador estadual do Cimi. O deputado Onevam de Matos (PSDB), membro da CPI, afirmou que o vídeo “é aprova de que o Cimi era o responsável pela organização das invasões”.

O índio Dionedson Terena, que estava no plenário acompanhando a reunião da CPI, tentou intervir mas foi impedido por questão de protocolo. Disse que o vídeo foi feito por ele e não retrata o que disse a produtora rural. Ele disse que é fotógrafo, atua no Cimi e que produziu o vídeo uma semana antes da segunda reintegração de posse, quando Oziel foi morto. Ele afirmou que em todas as invasões os índios chamam o Cimi para acompanhar, para evitar que sejam agredidos. O deputado Pedro Kemp (PT), que também faz parte da CPI, disse que vai pedir a convocação de Dionedson pela Comissão.

Ricardo Bacha também apresentou vídeos durante a sua fala aos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito. Um deles, teria sido produzido por Kleber Buzato, integrante do Cimi. Ele afirmou que outra prova de que o Conselho Indigenista tem envolvimento com as invasões de terra, é um livro ata das reuniões do Cimi, em que os índios são incitados a invadir fazendas. O deputado Paulo Correa (PR), também membro da Comissão, disse que vai pedir a convocação de Flávio Machado.

Procurado pelo Campo Grande News, o deputado federal Zeca do PT contesta as afirmações de Juscimara Bacha. “Ou ela está retardada ou está mentindo de má-fé. Não é responsabilidade do Estado e sim da União a arranjar terras para os índios. O acirramento dos conflitos no Estado começou quando o ministro da Justiça Nelson Jobim (governo Fernando Henrique Cardoso) assinou autorização para a demarcação da área de Panambi, em Dourados. A partir daí descobriu-se uma brecha na Constituição de 1988 que permite a demarcação de terras aos índios”, afirmou Zeca do PT, que já foi deputado estadual e governador do Estado.

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