Projeto quer proibir venda e uso do agrotóxico mais utilizado e letal do mundo
Pauta do glifosato já foi discutida na Assembleia Legislativa em 2015 e retoma após pesquisas recentes
O deputado estadual Pedro Kemp (PT) quer proibir a comercialização e a utilização de insumos agrícolas que contenham glifosato em Mato Grosso do Sul. O projeto de lei que começou a tramitar na Assembleia Legislativa prevê multa de 200 UFERMS (Unidade Fiscal Estadual de Referência de Mato Grosso do Sul), que corresponde hoje a R$ 9.526, para quem descumprir a regra, se entrar em vigor.
O responsável pelo agrotóxico poderá ter registro de funcionamento suspenso e interdição temporária ou definitiva do estabelecimento que comercialize o produto. De acordo com o petista, essa é uma discussão já realizada pela Casa de Leis há oito anos.
“Na ocasião, os pesquisadores alertaram quanto à nocividade do glifosato à população, especialmente com relação ao desenvolvimento de mais de 20 doenças, entre elas câncer, autismo, depressão, doenças hepáticas, hipotireoidismo, entre outras”, relembra.
Kemp retoma a tentativa de proibir o veneno com novos dados de pesquisas científicas que relacionam a exposição a agrotóxicos utilizados na plantação de soja no Brasil com o aumento da mortalidade de crianças por câncer.
“De acordo ainda com os resultados das pesquisas 'houve um aumento significativo nas mortes de crianças por leucemia linfoblástica aguda após a expansão da soja no país, equivalente a 123 mortes adicionais de crianças menores de 10 anos de 2008 a 2019'. Vale destacar que este estudo apontou que a principal fonte de exposição aos defensivos é a contaminação da água potável”, enfatizou.
A reportagem falou com a professora e doutora em Engenheira Agrícola, Alexandra Pinho, que faz pesquisas sobre a contaminação por agrotóxicos no meio ambiente. Ela explicou que esse é o agrotóxico mais usado no mundo e reconhecido pela IARC (Agência Internacional da Pesquisa em Câncer), vinculada à ONU (Organização Mundial da Saúde), com classificação 2A de risco de agentes químicos, o de substâncias provavelmente carcinogênicas a humanos.
“Temos visto que nos últimos anos o uso de agrotóxicos aumentou exponencialmente e junto com isso conseguimos confirmar nas pesquisas científicas os verdadeiros danos do agrotóxicos, não só no meio ambiente e a saúde humana, mas avaliar como se comportam no meio ambiente”, destacou.
Além de ser usado no plantio de milho e soja, produtores de eucaliptos utilizam nos dois primeiros anos de plantio. Vale ressaltar que parte leste de todo Mato Grosso do Sul tem investido em silvicultura.
“A proposta do deputado vem ao encontro para a gente buscar uma produção mais saudável ambientalmente em termos de saúde pública e biodiversidade. Sempre tem alternativas para os produtores, mas será uma mudança radical no sistema produtivo porque vai voltar a demanda do trabalho de campo, como agroecologia e agrofloresta. Ou uso de controle biológico. Há alternativas, mas que quebram o elo da cadeia produtiva do agronegócio”, explicou Alexandra.
Dentre as pesquisas já publicadas há confirmação de que o glifosato está associado diretamente ao câncer, como o linfoma não Hodgkin, e funciona como um diruptor endócrino, capaz de alterar hormônios principalmente sexuais. Causando assim a infertilidade e aborto.
O glifosato também é extremamente ativo para bactérias e fungos. O corpo humano é formado por 90% desse tipo células. “O uso de agrotóxico mata simbiose que temos e são importantes para nossa funcionalidade”.
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