Sindicatos de MS patrocinam participação em ato pró-Dilma em Brasília
As manifestações contra e a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, além da questão política (se é ou não golpe, por exemplo), expõe a disputa entre dois grupos, por meio das entidades sindicais e de classe. Nesta quinta-feira (31), por exemplo, Brasília recebe trabalhadores de todos os estados, levados por sindicatos. De Mato Grosso do Sul, são cerca de 1 mil pessoas, de acordo o com o presidente da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), Roberto Botareli.
A Fetems enviou 15 ônibus com mais de 700 pessoas, entre professores e administrativos da educação. Botareli afirma que as despesas com o transporte foram bancadas pela Federação, e a alimentação ficou por conta de cada participante. Segundo ele, o custeio das viagens organizadas pelas federações dos trabalhadores em educação foi deliberado em assembleia da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação).
“Se a Fiems, a Fiesp e a Acrissul podem bancar a direita, por que a Fetems não pode participar de manifestações em defesa dos trabalhadores e da presidente Dilma? As pedaladas fiscais não são crimes, então o impeachment é golpe. Se for assim, governadores de 23 estados que também fizeram as pedaladas terão que ser afastados”, declarou Botareli.
O presidente da Fetems disse, ainda, que os professores que estão em Brasília participando das manifestações e faltaram ao trabalho terão de repor as aulas. Segundo Botareli, sindicatos de Minas Gerais contrataram 130 ônibus e Goiás 110 ônibus para levar os trabalhadores para a capital federal. Afirmou que, além de se manifestarem contra o impeachment da presidente, a manifestação é contrária à reforma da previdência e contra as OS (Organizações Sociais) nas escolas.
A Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul) informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que a entidade não contribuiu com nenhum recurso financeiro para a manifestação pró-impeachment realizada no último dia 13 em Campo Grande. A federação apenas apoiou o movimento e os dirigentes que participaram foram na condição de cidadãos.
“Não recebemos nenhum dinheiro de entidades, todas as despesas foram bancadas pelas pessoas que participam da organização da manifestação”, declarou Rodrigo Marins, um dos cerca de 300 organizadores do Movimento Reaja Brasil, um dos grupos responsáveis pela passeata que percorreu ruas de Campo Grande no dia 13 deste mês, e que reuniu cerca de 100 mil pessoas, segundo a PM (Polícia Militar)
“Somos um grupo de amigos, se tivéssemos recebido dinheiro público, como a CUT recebe, teríamos levado para as ruas 90% da população, que são contra esse governo”, disse Marins. O Campo Grande News tentou contato também com o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Jonatan Barbosa, mas o celular dele estava fora de área.
Segundo a assessoria da entidade, Barbosa está viajando. Marins critica ainda, as manifestações pró-Dilma estarem sendo realizadas durante o horário de trabalho. “As nossas manifestações são no domingo a tarde”, compara.
Para o cientista político Eron Brum, na situação em que o Brasil se encontra “as manifestações espontâneas são raras e episódicas”, por isso é natural que os movimentos sejam patrocinados. Ele lembra que na época das Diretas Já, a população foi às ruas por conta própria porque existia o “inimigo em comum que era a ditadura”. E no caso do impeachment de Fernando Collor, quem foi às ruas espontaneamente foram os jovens, que ainda viviam as lembranças da ditadura militar, acreditaram num “salvador da pátria” - no caso o então presidente Fernando Collor - que não correspondeu e decepcionou.
Segundo Eron, outra diferença é que agora existem vários ingredientes que estão levando os brasileiros a se manifestarem. Além das pedaladas que fundamentam o principal pedido de impeachment de Dilma Rousseff, ele cita o caixa 2 de campanha da presidente, o desemprego, a lista dos políticos que receberam recursos da Odebrecht para a campanha eleitoral, além da Lava Jato. “Mas alguma saída tem que haver, não dá para o Brasil continuar essa situação”, conclui.