Fotógrafos que captam a emoção e fazem o registro para perpetuar fatos
Não basta ter uma câmera na mão e um crachá do jornal no peito, fotografar as cenas do cotidiano que se transformam em matérias no Campo Grande News exigem um olhar apurado e disposição, muita disposição. Desde o início do primeiro jornal online de Mato Grosso do Sul até hoje, 10 profissionais responsáveis por capturar imagens que ilustram as dezenas de matérias publicadas diariamente passaram por aqui.
E foi o primeiro deles que ficou mais tempo na função e viveu os desafios do pioneirismo da profissão no Estado. David Majella tem 36 anos e foi fotógrafo do jornal durante cinco anos, no início, lembra ele, era tudo novo e ele se sentia até inseguro.
“Tinha bastante gente na redação e era só eu para atender todo mundo e fazer foto na cidade toda, foi uma experiência muito incrível e eu aprendi a treinar meu olhar”, diz.
As histórias que emocionam repórteres muitas vezes tocam os fotógrafos de formas diferentes. E a explicação é simples, eles precisam observar os detalhes e capturar as emoções. Em acidentes com morte, geralmente em rodovias, a situação fica clara. Muitos repórteres preferem não olhar para os destroços ou ter contato direto com os corpos esfacelados, mas aqueles que estão com a câmera na mão não têm escolha, precisam olhar para as tragédias e dali capturar um retrato da realidade.
E são geralmente em situações dramáticas ou tensas que eles precisam filtrar as emoções e colocar a técnica em prática. Para Majella não foi diferente, em três situações, ele conta, foi difícil segurar a emoção, mas a repercussão do trabalho fazia tudo valer a pena.
“Uma das que me marcou foi quando cobrimos uma enchente e a enxurrada levou um menino deficiente físico que brincava na calçada de casa. Ele caiu em um córrego e eu entrei lá dentro para fazer a foto. O barro ficou até o peito e acharam o menino morto. O corpo passou de mão em mão até a margem e eu peguei ele no colo, morto”, conta o fotógrafo.
Outras duas histórias que não saem da lembrança de Majella são sobre o atropelamento do menino Kelvin Henrique Maciel, que inclusive foi assunto de uma matéria especial publicada também em comemoração aos 15 anos do Campo Grande News.
E os conflitos indígenas, relatos presentes na memória de muitos fotógrafos, também foram situações marcantes para David. Em Japorã, cidade ao sul do Estado, o fotógrafo, o motorista e a jornalista ficaram reféns de indígenas.
“Eu estava correndo e um índio na minha frente levou um tiro na cabeça disparado por um fazendeiro. Ele caiu, eu fiz a imagem e fui socorrê-lo. São cenas que nunca mais esqueço”, completa.
E foi essa uma das fotos de Majella que tiveram repercussão nacional e até internacional. Ele lembra que várias imagens rodaram o mundo depois de publicadas no Campo Grande News. “Minha foto chegava longe e os outros jornais nacionais passaram a conhecer meu trabalho. Até hoje graças ao meu começo no site eu atendo jornais de todo o país, eles me contratam”, diz.
Outro que viveu histórias difíceis de esquecer e enfrentou os desafios de fotografar acidentes, personalidades políticas, problemas de bairros e tudo o que vira notícia no jornal foi Marcelo Victor, 31.
Ele começou a trabalhar como fotógrafo do site em 2009 e ficou dois anos na função, o acolhimento da redação e o companheirismo dos colegas chamaram a atenção dele logo no início do trabalho. “Eu fiquei nervoso, mas as pessoas me trataram muito bem e eu me adaptei rápido”, conta.
Sobre as pautas marcantes, uma delas envolveu uma das personalidades políticas mais assediadas do país: o presidente Lula. Na época, o Trem do Pantanal foi relançado e o petista veio a Mato Grosso do Sul para acompanhar a cerimônia. “Nós pulamos três muros de casas e nos esprememos muito para conseguir as fotos, mas deu certo e tem uma foto dele aí no arquivo”, comemora Marcelo.
João Garrigó, 22, começou a fotografar no Campo Grande News em 2010, quando tinha 18 anos. Apesar de bastante novo, Garrigó lembra o tanto que a experiência foi importante para fazer com que ele crescesse profissionalmente e como ser humano.
“Foram três anos excelentes e uma experiência de vida que não tem igual. Eu aprendi a olhar de maneira diferente para as coisas e sou muito grato ao jornal ter me dado essa possibilidade”, conta João.
Olhar - São histórias marcantes que não acabam mais, este texto poderia estar recheado delas do início ao fim, mas o tal ‘olhar’, citado várias vezes pelos profissionais durante as entrevistas, merece um espaço.
E nada melhor que os atuais fotógrafos do Campo Grande News para explicar a importância de ter um olhar apurado para conseguir capturar as imagens. Marcos Ermínio e Cleber Gellio são os responsáveis por levar ao internauta o que muitas vezes não pode ser descrito em palavras.
Para quem deixou o mundo das redes e softwares de computadores para se aventurar na fotografia, o novo mundo trouxe a paixão pelo trabalho. Aos 27 anos, Marcos se dedica a aprender e desenvolver as técnicas da profissão há dois anos e viu o olhar ser transformado, principalmente nos últimos 12 meses de Campo Grande News.
“O olhar faz o trabalho, hoje eu fiquei seletivo em relação aos detalhes, consigo enxergar além do comum. Para mim, sempre tem um modo de fazer as imagens de um jeito diferente e curioso”, diz Marcos.
Cleber Gellio, o mais novo membro da equipe de fotógrafos que possui 9 anos de experiência além da formação de jornalista, afirma que o aprendizado diário nas ruas faz parte do treinamento para o aperfeiçoamento do trabalho que é feito todos os dias.
“Na minha opinião, é muito importante o profissional ser formado em Jornalismo porque ele já sai da faculdade sabendo como funciona uma redação. E o treinamento do olhar a gente vai tendo a cada dia na rua e na prática”, conta o repórter fotográfico.
E para encerrar essas linhas dedicadas a eles, nada melhor que uma frase do primeiro e experiente fotógrafo do Campo Grande News. “Tem que amar o que faz, não pode entrar na vida de fotógrafo achando que é glamour, tem que amar o trabalho. E lembrar que cada um tem a sua diferença, a minha está no meu olhar”.