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Reportagens Especiais

Ribas é emprego a 2 mil km de casa, mas com saudades da família e dores da covid

Um desses rostos é do pedreiro José, que deixou o Maranhão por falta de oportunidade

Aline dos Santos, enviada especial a Ribas do Rio Pardo | 26/09/2021 09:18
Fábrica é erguida na BR-262,  a 10 km da área urbana de Ribas do Rio Pardo. (Foto: Marcos Maluf)
Fábrica é erguida na BR-262,  a 10 km da área urbana de Ribas do Rio Pardo. (Foto: Marcos Maluf)

Eles ganharam projeção quando se passou a temer uma explosão de crianças sem pai em Ribas do Rio Pardo, já batizados de “filhos da celulose”. Mas, para os milhares de trabalhadores que desembarcam na cidade para erguer fábrica de celulose, a rotina é de trabalho árduo, por vezes muito, muito longe de casa.

Um desses rostos é do pedreiro José, 45 anos, que deixou o Maranhão, a 2.500 quilômetros de Mato Grosso do Sul, por falta de oportunidade de trabalho. A reportagem o encontrou, uniformizado, na proximidade do alojamento dos trabalhadores que testaram positivo para a covid-19. Ele conta que já sarou e, naquele dia, trocaria de alojamento.

O pedreiro tem experiência em grandes obras. Foram dois anos trabalhando na usina de Belo Monte (Pará). Mas antes não havia pandemia de covid. Ele conta que ficou três dias hospitalizado em Campo Grande. No Maranhão, deixou os cinco filhos. “Quero voltar para a família”, diz.

Ao lado de José, outros dois trabalhadores, com ar tristonho, contam que ainda se recuperam da covid. Apesar dos muitos avisos para uso de máscaras, citam que um dos pontos mais complicados é no transporte para a obra, diante da proximidade no ônibus.

Trablhadores nas proximidades do alojamento de quem testou positivo para a covid. (Foto: Marcos Maluf)
Trablhadores nas proximidades do alojamento de quem testou positivo para a covid. (Foto: Marcos Maluf)

Nesta etapa, o canteiro da fábrica de celulose da Suzano é comandado pela Tucumann.  A reportagem solicitou informações para a empresa de terraplanagem sobre perfil dos trabalhadores e medidas de biossegurança, mas não obteve retorno.

Namoros – Num outro alojamento, um trabalhador conta que a orientação é não “mexer” com mulher, porque ela pode ser casada e a situação desencadear uma briga.

O alerta sobre os filhos da celulose foi feito pelo sindicalista José Lucas da Silva, presidente da Feintramag-MS/MT (Federação Interestadual dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso). No pico da obra, Ribas do Rio Pardo deve receber 10 mil trabalhadores.

Na obra do gasoduto Brasil-Bolívia, orientação era demitir quem se envolvesse com a comunidade. (Foto: Wilson Aquino)
Na obra do gasoduto Brasil-Bolívia, orientação era demitir quem se envolvesse com a comunidade. (Foto: Wilson Aquino)

Em texto divulgado à imprensa, ele fez paralelo com a execução do gasoduto Brasil-Bolívia, quando a dona da obra (Petrobras) recomendou a todas as empresas prestadoras de serviços que condicionassem a manutenção do emprego dos trabalhadores ao não envolvimento com a comunidade. Quem não obedecesse, era sumariamente demitido.

O Campo Grande News questionou se a Suzano têm programas de contribuição para o controle da natalidade no município, e em retorno, foram listadas medidas já realizadas em sua primeira sede, Três Lagoas, e que serão repetidas em Ribas. Uma das iniciativas é o programa Agente do Bem, que engloba levantamentos na gestão do empreendimento e no município para identificar vulnerabilidade.

Preservativos – O aumento da população residente não impactou o repasse de preservativo masculino para Ribas do Rio Pardo. A última solicitação do método contraceptivo para a SES (Secretaria Estadual de Saúde) foi feita há seis meses.

Conforme a secretaria, Ribas do rio Pardo Solicitou em 9 de fevereiro 14.400 preservativos masculinos e em 25 de março, mais 7.200. “Quanto ao aumento do envio, quem faz a solicitação é o próprio município então eles podem pedir conforme demanda”, informa a secretaria.

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