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Para preservar o meio ambiente, é preciso cuidar das cadeias degradadas

Por Thiago Terada(*) | 30/04/2017 10:17

Quando falamos em ações de sustentabilidade nos dias de hoje, um ponto importante que se faz presente a todos é o uso de recursos escassos que possibilitem estimular o desenvolvimento social por meio de um modelo econômico ético e transparente. No entanto, é preciso enxergar essa questão de maneira muito mais ampla, afinal investir na recuperação de cadeias degradadas é tão importante quanto preservar os biomas naturais.

No Brasil, temos como exemplo a cadeia da carnaúba, encontrada nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. Trata-se de uma cultura majoritariamente extrativista, mas de fácil plantio, resistente às diferentes condições climáticas (inclusive à seca) e que também dá origem a uma cera utilizada por diferentes companhias de cosméticos a eletrônicos em todo o mundo.

Apesar de se tratar de uma matéria-prima de grande importância ao mercado, a sua cadeia produtiva ainda conta com irregularidades, como as denúncias de trabalhos escravo. Dados divulgados em 2016, durante o Seminário sobre Combate ao Trabalho Escravo realizado na assembleia legislativa do Ceará, apontam que 47 das 70 pessoas resgatadas no estado, em 2015, por trabalhar em condições degradantes faziam parte da cadeia produtiva da carnaúba.

Uma das estratégias para combater o problema é replicar nessas regiões modelos de negócios bem-sucedidos em outras partes do país. Nesse sentido, podemos destacar o trabalho realizado pela Beraca em áreas com incidência de extração ilegal de madeira. A proposta da empresa é promover parcerias com comunidades de diferentes biomas, principalmente o amazônico, e oferecer a elas oportunidades de renda com recursos florestais não madeireiros, investindo em treinamentos e capacitações para ensinar que é possível garantir uma fonte de renda extra a partir dos frutos e sementes, sem agredir o meio ambiente ou a necessidade de trabalhar em condições degradantes.

Os insumos naturais obtidos a partir dessa atividade se transformam em matérias-primas para as indústrias de cosméticos, beleza e cuidados pessoais, que apostam no uso de ativos da biodiversidade em suas formulações, na busca por produtos de alta performance.

Para comprovar a eficiência dessa estratégia, um estudo promovido com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) destaca que, para cada R$ 1,00 investido no extrativismo sustentável no Pará, são retirados R$ 3,60 da mão da obra por trabalho em madeireiras ilegais.

Somado a isso, em muitos lugares ainda temos o aumento da eficiência de políticas públicas, como o seguro-defeso, que garante um benefício aos pescadores durante o período de reprodução dos peixes, e a Bolsa Verde, responsável por oferecer auxílio financeiro a cada três meses para famílias em situação de extrema pobreza que vivem em áreas de relevância para a conservação ambiental.

Diante desse cenário, o importante é enxergar que o futuro do planeta depende de iniciativas que inibam ações ilegais e que, na medida do possível, preencham a lacuna de renda deixada por essas atividades. Para isso, o setor público e as instituições privadas devem criar políticas capazes de estimular a preservação ambiental, promover o desenvolvimento social e a visão de melhoria de futuro dos moradores que vivem nas áreas em que existem áreas degradadas.

(*) Thiago Terada é Gerente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Beraca, líder global no fornecimento de ingredientes naturais provenientes da biodiversidade brasileira para as indústrias de cosméticos, produtos farmacêuticos e cuidados pessoais.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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