A difícil tarefa de selecionar nossos futuros colegas
Nos últimos meses tive a experiência de servir como banca na seleção de um docente para a UnB. Desde o momento em que aceitei o convite para presidir a banca sabia que seria uma tarefa complicada, mas também importante. Afinal, estaria escolhendo um colega para toda uma carreira.
A seleção se mostrou ainda mais desafiadora porque os candidatos formavam um rol de profissionais extremamente qualificados, cientistas de alto nível. Não só isso tornou nossa escolha mais difícil, mas também deixou claro que se tratava de um conjunto de pessoas que dedicaram suas vidas à ciência. Pessoas cujos sonhos e a esperança estavam depositados naquelas provas.
Tratava-se do preenchimento de uma única vaga e era certo que seria muito difícil escolher apenas uma pessoa para preenchê-la. Todas as pessoas que avaliamos tinham méritos enormes. Alguns candidatos com uma formação mais frágil poderiam até não estar ao nível da Universidade de Brasília, mas seriam uma ótima escolha em outras instituições. Outros têm potencial de se tornarem professores formidáveis, mas seus históricos fugiam um pouco ao foco do concurso, e acabaram penalizados apesar de terem um currículo excelente. Mas mesmo retirando esses do processo, ainda nos restavam diversos candidatos que poderiam ser perfeitos para o cargo.
O processo foi difícil, mas foi concluído. Com o resultado geral, pelo menos preliminar, foi possível ver que as diferenças de pontuação vieram dos pormenores, mas que foram todos pontos importantes no que acreditamos ser fundamental para um futuro docente. É claro que proporcional à alegria da candidata aprovada, há também a decepção dos demais. Novamente, pessoas altamente qualificadas, que depositaram suas esperanças naquela seleção e que mereciam se tornar os docentes sensacionais que têm o potencial de ser.
Sei que serve de muito pouco alento nessa hora, mas resolvi escrever esse texto porque gostaria de dizer a cada um dos que não foram aprovados o quanto suas carreiras são admiráveis. Que lamento que estejamos vivendo um momento tão duro na política científica nacional a ponto das novas oportunidades serem escassas, porque eles têm tudo para serem aprovados numa nova oportunidade dessas. Seria lamentável perder todo o investimento que foi feito pelo Brasil para financiar o desenvolvimento deles enquanto cientistas. Mas seria muito mais lamentável perder a paixão que eles nutrem pela ciência e a vontade de fazê-la prosperar.
Apesar de tudo, tenho a convicção de que fizemos uma ótima escolha. Essa escolha foi muito facilitada pelos funcionários que nos apoiaram durante todo o processo, demonstrando profundo conhecimento dos trâmites internos de um processo de contratação. Também tenho muito mais confiança no resultado do certame graças aos colegas que compuseram a banca comigo, tendo deixado suas famílias em outros estados por vários dias para atuar nessa seleção. Finalmente, os professores do departamento que receberá a futura docente foram sempre solícitos e dedicados a fazer o processo de seleção transcorrer da melhor maneira possível, a quem também agradeço.
(*) Eduardo Bessa Pereira da Silva é professor da Faculdade UnB de Planaltina. Redige o blog Ciência à Bessa na rede Scienceblogs Brasil e é membro do comitê educacional da Animal Behavior Society.