A escola como espaço de vivência da dimensão política
Pensar em diferentes formas de vivência da dimensão política no espaço escolar constitui terreno fértil para se pensar também nas situações vividas no contexto social, histórico e cultural, e discutir alternativas e soluções possíveis para tais situações.
A compreensão sobre política considera aspectos que a constituem como uma ciência que abrange a bem governança de um Estado, comunidade, escola, família, e pode ser ampliada como um espaço para negociação e compartilhamento dos interesses relativos à coletividade. Neste cenário, estão envolvidas discussões de temas sociais e econômicos conectados às áreas da educação, saúde, segurança, meio ambiente, cultura, habitação, entre outros.
No espaço escolar, tais discussões podem potencializar a vivência do diálogo, a reflexão sobre como as sociedades se organizam, considerando o contexto sócio-histórico, e inspirar reflexões e negociações sobre aquilo que se vive no cotidiano escolar, o qual também se constitui como um espaço de convivência coletiva.
A competência política deve ser vista como a capacidade do sujeito de se apropriar, construir e mobilizar saberes em prol de atitudes e valores diante de diferentes sujeitos e contextos, com o objetivo de ampliar a visão sobre a governança dos povos, a participação coletiva em processos decisórios, promovendo o bem comum, tendo a perspectiva de direitos e deveres.
O cunho central da discussão é levar o estudante a pensar sobre a comunidade, promovendo o convívio e o respeito como pontos em comum no currículo escolar. A dimensão política se faz necessária desde a mais tenra idade, incentivando o olhar atento ao seu entorno, os cuidados com as relações e ambientes, o desenvolvimento de noções de partilha e respeito mútuo.
Proporcionar o envolvimento e garantir a participação política de crianças e adolescentes nos cenários públicos é respeitar seus direitos assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no Capítulo II, artigos 15 e 16, o qual prevê que “a criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis”, bem como possui o direito de “ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; à opinião e expressão e participação da vida política, na forma da lei”.
Desenvolver a competência política é transformar informação, colocar o sujeito em processo de formação e discussão, refletir e assumir posicionamentos, trabalhar com o conhecimento que abrange os campos científico, estético, ético, afetivo.
A vivência da dimensão política possibilita o exercício da cidadania, utilizando como ferramentas a promoção de debates críticos para formação da consciência de sujeitos que olham para os arredores, fazem leituras sobre o mundo, a vida em comunidade, o bem comum, comunicam saberes comprometidos e engajados de forma ética.
A política pode acender o sentido social da educação, acolhendo a voz dos estudantes a fim de serem compreendidos. Desse modo haverá a possibilidade do conhecimento se tornar instrumento de liberdade, com poder de convivência entre as pessoas e transformação social.
(*) Ana Carolina Marchetti Rodrigues e Marina Sabaine Cippola são pedagogas pela Unesp, pós-graduadas em psicopegagogia clínica e professoras do Colégio Marista Champagnat de Ribeirão Preto.
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