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Interior

"Treta" entre delegado e policiais tem acusação de orgia e tortura de presos

Servidores denunciaram chefe por assédio moral e delegado alega resistência dos policiais às suas ordens

Por Bruna Marques | 10/03/2025 09:51
"Treta" entre delegado e policiais tem acusação de orgia e tortura de presos
Trecho do documento onde diz que Mateus usa spray de pimenta nos presos (Foto: Reprodução)

Confusão está instalada na Delegacia de Polícia Civil de Terenos, a 31 quilômetros de Campo Grande. De um lado, os policiais acusam o delegado Mateus Crovador da Silva de assédio moral e abuso de autoridade. Do outro, o delegado se defende, afirmando que há sete meses enfrenta, sozinho, a resistência dos servidores em cumprir suas ordens.

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Policiais da delegacia de Terenos denunciaram o delegado Mateus Crovador por abuso de autoridade e assédio moral. Acusações incluem uso de spray de pimenta em detentos e humilhação de servidores. O delegado, no cargo desde agosto, alega resistência dos policiais às suas ordens e nega as acusações, mencionando problemas anteriores na unidade. A denúncia foi encaminhada à Corregedoria e ao Ministério Público. A Polícia Civil ainda não se manifestou sobre o caso.

O embate foi parar na Corregedoria da Polícia Civil e no MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). Um denúncia por escrito, a qual o Campo Grande News teve acesso, revela que os policiais acusam o delegado de utilizar spray de pimenta contra presos e espancar um custodiado, além de humilhar os servidores e tratar com desrespeito a população que busca atendimento na unidade.

Mateus Crovador que assumiu a titularidade da delegacia em agosto do ano passado, rebateu as acusações alegando ter suas ordens desrespeitadas e vem sofrendo resistência em conseguir investigar inquéritos.

Trecho do documento revela que no dia 27 de novembro de 2024, três presos estavam custodiados na delegacia e, na ocasião, um dos homens gritou por socorro por estar passando mal. Em vez de receber atendimento adequado, foi surpreendido pelo delegado, que jogou spray de pimenta em seu rosto. Além disso, Mateus bateu no rapaz com um cabo de vassoura e só parou quando o objeto quebrou.

Além dá má conduta praticada com os presos, os servidores afirmaram que também são desrespeitados. No documento, consta que diversos policiais lotados na delegacia têm relatado constantes episódios de humilhação, cobrança excessiva, ameaças e atos que configuram assédio moral no ambiente de trabalho.

Policiais também descrevem no documento que certo dia, em deslocamento para o cumprimento de um mandado de busca e apreensão, em Campo Grande, o delegado insinuou que a maneira mais fácil de “arranjar dinheiro” era pegar droga para vender. A fala foi interpretada como uma sugestão de prática criminosa suspeita.

Além disso, conforme a denúncia, Mateus discrimina a equipe, fatos que vêm causando problemas psicológicos e físicos aos servidores. Por medo de serem transferidos de delegacia, os policiais preferiram não se identificar.

A conduta do delegado, conforme o documento, tem gerado um ambiente de trabalho tóxico e desrespeitoso, afetando não apenas os policiais, mas também o atendimento à população. Diante dos fatos expostos, os servidores da unidade solicitaram que as autoridades adotem as medidas necessárias para apurar as condutas do delegado.

Outro lado - A reportagem conversou com o delegado Mateus Crovador por telefone neste domingo (9). Durante a ligação, que durou 28 minutos, o titular de Terenos afirmou estar ciente das denúncias contra ele e contou sua versão dos fatos. “Eles fizeram uma reunião entre eles e disseram que não iriam cumprir minhas ordens. Fiquei sabendo disso, conversei com o pessoal da diretoria e, como não temos efetivo, não seria possível removê-los”, explicou Mateus.

O delegado contou também que havia denúncias de que os policiais levavam mulheres para dentro da delegacia. “Eu coloquei uma câmera no corredor da unidade. Comprei com meus recursos pessoais, ela ainda não está ativa. O chefe da equipe me mandou uma mensagem desaforada, exigiu que eu colocasse uma câmera na minha sala, que não confia em mim. Mandei a mensagem para a diretoria”.

"Treta" entre delegado e policiais tem acusação de orgia e tortura de presos
Delegado Mateus Crovador da Silva, titular da Delegacia de Polícia Civil de Terenos (Foto: Divulgação)

Certo dia, quando o delegado chegou para trabalhar por volta das 7h30, o policial havia colocado uma lona na câmera. “Eu havia dito que a câmera serviria para inibir o ingresso de pessoas que não pertencem ao quadro dos servidores, obviamente, pelo fato das mulheres. Ele começou a gritar comigo, dizer que eu sou covarde, me xingou. Eu tenho vídeo. Diante disso, fiz uma comunicação à Corregedoria. E ele está respondendo por causa disso”, alegou.

Cochilo noturno - Mateus contou que quando assumiu à unidade tentou se alinhar com a equipe, mas sempre enfrentou resistência. “Fiz uma reunião com eles, falei que precisávamos produzir, melhorar a qualidade dos inquéritos, e eles disseram que não eram funcionários do Ministério Público e se posicionaram a favor do delegado anterior, que foi removido. Então, ali já tivemos um enfrentamento.”

Outra situação que o delegado relatou foi quando um policial plantonista deixou de receber um flagrante de tráfico de drogas levado por uma equipe da PRF (Polícia Rodoviária Federal).

“Não houve melhoria. Eu estava de férias e, durante esse tempo, um dos investigadores deixou de receber um flagrante da PRF. Ele dormiu durante a madrugada e não recebeu. A diretoria pediu para que eu verificasse se o policial estava dentro da delegacia, porque você não receber a guarnição de outra instituição que está com um flagrante é um fato grave. Fui checar as imagens, e foi inconclusivo, porque eles desviaram as câmeras para eu não ter o controle de quem entra na unidade policial”, recorda.

"Treta" entre delegado e policiais tem acusação de orgia e tortura de presos
Denúncia contra o delegado na íntegra (Foto: Reprodução)

Após o ocorrido, Mateus baixou uma portaria determinando que o investigador plantonista ligasse para a equipe da PRF no início do turno de serviço para criar uma relação amistosa. “Eles falaram que não iriam cumprir, porque isso era uma humilhação. Na época, falei que era uma conduta grave e disse que não iria tolerar. A minha luta é para que eu coloque essa unidade em dia”, concluiu.

O Campo Grande News solicitou posicionamento da Polícia Civil, mas, até a publicação da reportagem, e-mail não havia sido respondido. O espaço segue aberto para futuros esclarecimentos.

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