Amor, as políticas públicas e a Covid-19
Não existe pobreza maior na vida de qualquer pessoa, mesmo as despossuídas de quaisquer recursos financeiros, de educação, de saúde ou quaisquer outros que seja, que a pobreza pela falta de amor.
O amor nos faz lembrar o quanto que precisamos ser solidários. E quando focamos nossa atenção na população menos favorecida, principalmente nesta época de pandemia da Covid-19, percebemos o quão importante é ser solidário.
A pandemia nos privou de conviver em sociedade e conviver significa “viver com…”, e muitas pessoas, como consequência dessa situação, hoje se encontram em outro plano espiritual. A Covid destruiu os abraços, e como diz a sabedoria popular: “os abraços foram feitos para expressar o que as palavras deixam a desejar”. Eles são a mais pura expressão de carinho e amor quando saem do nosso coração.
Precisamos amar e pensar nas pessoas de forma verdadeira, mesmo quando elas não se lembrarem ou souberem quem você é. Os desenganos e decepções que temos estão diretamente relacionados à falta ou pouca qualidade de amor que têm sido oferecidas. O amor é a “nobreza de atitudes” em prol do outro.
Essas pessoas vitimadas pela pandemia deixaram lacunas quando seus sonhos e perspectivas se perderam com suas vidas. Será preciso reiterar a necessidade de amar nosso próximo, porque amar nos faz sonhar? Sim, precisamos sonhar com um mundo melhor onde quer que estejamos e com quem estivermos.
Somente o amor nos permite entender o que a flor sussurra ao beija-flor. Quando passamos a olhar a natureza com os “olhos e ouvidos do beija flor”, automaticamente passamos a entender e a amar a vida. Isso muda a forma como enxergamos as pessoas e como nos relacionamos com o mundo. Desta forma, nunca mais nos veremos sem entender, porque todas as palavras e ações no mundo não representam nada se não existisse a frase: “eu te amo”.
No filme Don Juan Demarco há uma passagem muito interessante: “Há apenas quatro questões na vida. O que é sagrado? De que é feita a alma? O que vale a pena ser vivido? E qual o motivo pelo qual vale a pena morrer?”. A resposta é a mesma para todas as questões: apenas o amor. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível.
Importante ressaltar que neste atual cenário de afastamento social, a prática do amor ao próximo pode e deve surgir em novos contextos, como as redes sociais. Não podemos mais tocar nas mãos de ninguém, mas podemos tocar as suas almas com sentimentos elevados, com músicas e orações. Podemos e devemos ressignificar os gestos de carinho em meio à essa pandemia. Nas crises vivenciadas pela humanidade, no fim das contas, a vida renasce e tudo ganha um novo sentido. Nesse contexto, uma faísca de carinho pode gerar uma fogueira de amor.
O carinho salva. E nada que fizermos em vida terá sentido se não tocarmos o coração das pessoas. O nosso tempo, a nossa atenção e carinho são os maiores presentes que podemos dar a alguém. Muitas vezes o que importa é demonstrar carinho e mostrar que você se importa, pois precisamos de pouco para sermos felizes.
Na sabedoria popular aprendi que “existem pessoas raras, sentimentos nobres e almas puras''. Ainda há sorrisos sinceros, abraços que curam, palavras que cicatrizam. Existe quem ama sem falar em amor. Ah… existe sim!”
Ainda na sabedoria popular uma menina de 5 anos perguntou a seu irmão mais velho: o que é o amor? E ele respondeu: “O amor é quando você, todos os dias rouba o meu pedaço de chocolate, e eu, mesmo assim, continuo deixando o chocolate no mesmo lugar, todos os dias”.
O amor também é, por exemplo, executar políticas públicas que garantem oportunidades e que possam promover sonhos e esperança para aqueles que as perderam. A política pode e deve ser um exercício de amor, mas muitos não a percebem nesse contexto, talvez por ignorar o significado primordial do que venha a ser amor.
O que remeteu à Cora Coralina “O saber a gente aprende com os mestres e com os livros. A sabedoria se aprende com a vida e com os humildes”. E, se o amor bater à sua porta, que sorte a nossa!
(*) Eduardo Chiletto é arquiteto e urbanista.