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A devastação da violência psicológica: o sofrimento invisível

Por Cristiane Lang (*) | 20/02/2025 08:30

A violência psicológica é uma forma insidiosa e silenciosa de abuso que, embora não deixe marcas físicas visíveis, causa cicatrizes profundas na alma e na mente das vítimas. Diferente de outras formas de violência, ela muitas vezes ocorre no âmbito de relacionamentos íntimos, seja no lar, no trabalho ou em amizades, e se manifesta por meio de manipulação, humilhação, controle e desvalorização constante. Com o tempo, essa violência pode corroer a autoestima e a identidade da vítima, deixando um rastro de sofrimento invisível, porém real e devastador.

As formas de violência psicológica A violência psicológica pode assumir várias formas, nem sempre fáceis de identificar:

Manipulação e Controle

O abusador frequentemente usa táticas para manipular a percepção da vítima, fazendo-a duvidar de seus próprios pensamentos e sentimentos. O termo “gaslighting” é comumente associado a essa prática, na qual a vítima é levada a acreditar que está errada ou exagerando sobre suas percepções.

 Humilhação e Desvalorização

Comentários sarcásticos, críticas constantes e comparações depreciativas são usados para destruir a confiança da vítima. Essa forma de violência faz a pessoa se sentir inferior e sem valor, muitas vezes isolando-a ainda mais do mundo exterior.

Ameaças e Intimidação

Embora as ameaças possam ser veladas, o medo gerado por elas é poderoso. O abusador usa essas ameaças para manter a vítima em um estado constante de tensão e ansiedade, dificultando qualquer tentativa de libertação.

Isolamento Social

O abusador pode controlar os relacionamentos da vítima com familiares e amigos, isolando-a de qualquer rede de apoio. Sem suporte externo, a vítima se sente aprisionada, como se não houvesse saída.

Os impactos profundos no bem-estar mental

A violência psicológica afeta profundamente a saúde mental e emocional da vítima. Os efeitos comuns incluem:

● Ansiedade e Depressão: A constante desvalorização e o medo levam a sentimentos intensos de inutilidade e desesperança.

● Baixa Autoestima: A vítima começa a acreditar nas palavras do abusador e internaliza uma visão distorcida e negativa de si mesma.

● Síndrome de Estresse Pós-Traumático: A exposição prolongada ao abuso pode levar a flashbacks, hipervigilância e picos de ansiedade.

● Isolamento e Desconfiança: A vítima pode perder a confiança nos outros e em si mesma, tornando difícil estabelecer novos relacionamentos saudáveis.

Por que é tão difícil romper o ciclo?

A violência psicológica cria um ciclo vicioso que prende a vítima em uma teia de medo e culpa. Muitos fatores dificultam a saída:

● Distorção da Realidade: O abusador distorce os fatos, levando a vítima a acreditar que é responsável pelos problemas do relacionamento.

● Dependência Emocional: A constante manipulação cria um vínculo disfuncional, onde a vítima se sente emocionalmente presa ao abusador.

● Vergonha: A vítima pode sentir vergonha de compartilhar sua experiência, temendo julgamentos externos ou a invalidação de seus sentimentos.

● Falta de Apoio: O isolamento social imposto pelo abusador enfraquece qualquer possibilidade de buscar ajuda externa.

O caminho da libertação e recuperação

Romper com a violência psicológica é um processo desafiador, mas não impossível. O primeiro passo é reconhecer o abuso e buscar ajuda. O apoio pode vir de várias fontes:

● Terapia: Psicólogos e terapeutas especializados em traumas podem ajudar a vítima a reconstruir sua autoestima e a entender as dinâmicas abusivas.

● Rede de Apoio: Amigos, familiares e grupos de apoio oferecem o suporte emocional necessário para fortalecer a vítima.

Educação: Aprender sobre os padrões de abuso ajuda a vítima a identificar táticas manipuladoras e a evitar relacionamentos tóxicos no futuro.

● Empoderamento: Recuperar a autonomia e a autoestima é um processo gradual que envolve redefinir a própria identidade fora do abuso.

A importância da conscientização

A violência psicológica é uma forma de abuso muitas vezes subestimada, mas suas consequências são tão devastadoras quanto as da violência física. Reconhecer os sinais, buscar ajuda e oferecer apoio são passos cruciais para romper o ciclo do abuso e promover a cura. Para quem sofre ou já sofreu esse tipo de violência, é importante lembrar que a dor pode ser superada e que a liberdade emocional é possível. Mais do que nunca, precisamos de empatia, compreensão e ação para combater esse sofrimento invisível.

Como romper o silêncio e promover a cura

A violência psicológica é um sofrimento que se instala de forma sorrateira e, por não deixar marcas físicas, muitas vezes é negligenciada ou subestimada. No entanto, suas consequências emocionais e mentais são devastadoras e podem levar anos para serem superadas. É crucial compreender que a dor da violência psicológica é legítima, e as vítimas merecem apoio, empatia e acolhimento, não julgamentos ou descrença.

Para a vítima, o primeiro passo rumo à cura é a conscientização. Reconhecer que o comportamento do abusador é inaceitável e não reflete o seu valor como pessoa é essencial para romper o ciclo de manipulação e controle. Buscar apoio de amigos, familiares e profissionais de saúde mental pode abrir caminho para a recuperação emocional e o empoderamento pessoal.

Como sociedade, é fundamental promover a conscientização sobre essa forma de violência. Precisamos criar espaços seguros onde as pessoas possam falar sobre suas experiências sem medo de serem invalidadas. Campanhas de educação e apoio psicológico devem ser ampliadas para garantir que mais pessoas saibam identificar os sinais e possam oferecer ajuda a quem sofre em silêncio.

Por fim, é importante lembrar que existe vida além do abuso. A reconstrução pode ser um processo difícil, mas também é uma oportunidade para a vítima redescobrir sua força, recuperar sua autoestima e redefinir seu futuro. A liberdade emocional e a felicidade são possíveis – e, acima de tudo, são direitos de quem luta para se libertar das correntes invisíveis da violência psicológica.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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