Projeto ajuda a identificar mortos de MS enterrados como desconhecidos em MT
O trabalho da perícia de Mato Grosso conseguiu localizar família de homem de Jardim executado há dois anos
Com apoio da perícia de Mato Grosso do Sul, dois sul-mato-grossenses foram identificados após serem enterrados sem nome em Mato Grosso. Em um dos casos, a família foi localizada quase dois anos após a morte da vítima.
RESUMO
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O projeto "Lembre de Mim" da Politec de Cuiabá, em parceria com a perícia de Mato Grosso do Sul, identificou dois sul-mato-grossenses enterrados como desconhecidos em Mato Grosso. Sebastião Edemyr foi identificado quase dois anos após sua morte, vítima de execução. Seu irmão, Ednei, só soube do ocorrido após contato do projeto. A iniciativa já catalogou 118 casos de pessoas sem identificação no IML de Cuiabá desde 2009, incluindo três de Mato Grosso do Sul. O projeto utiliza digitais e bases de dados para identificação, buscando trazer alívio às famílias que aguardam notícias de desaparecidos.
O professor Ednei Echague Leite, de 54 anos, passou um ano e 11 meses sem notícias do irmão, Sebastião Edemyr, de 46. O último contato entre eles foi em 17 de março de 2023, quando Sebastião visitou a mãe pela última vez em Várzea Grande (MT).
“Ele ficou com ela até o dia 19 e, supostamente, foi embora para Jardim, em Mato Grosso do Sul, que é a nossa terra natal. A gente não tinha tanto contato, tivemos muitos problemas. Como ele foi embora, pra mim, ele apenas tinha seguido viagem”, relatou.
A ausência começou a chamar atenção no mês seguinte, quando Sebastião não retornou para visitar a mãe na data combinada. Nos meses seguintes, a ausência se repetiu.
“No fim do ano, fomos para Mato Grosso do Sul e ele não apareceu. Aí eu pensei: ‘tem alguma coisa errada’. Ou ele não soube que eu iria, ou algo de fato aconteceu. Aquilo começou a levantar uma dúvida”, disse.
Edinei chegou a procurar amigos e conhecidos do irmão, mas foi informado de que ele havia sido visto em Guia Lopes da Laguna. Por isso, acreditou que Sebastião estava bem.
Em março deste ano, a mãe deles faleceu aos 81 anos. O sepultamento da matriarca foi realizado em Jardim. “Eu estava certo de que ele iria aparecer. Quando não apareceu, pensei: ‘tem alguma coisa errada’”, relembra o professor.
No fim do mesmo mês, Ednei recebeu uma ligação da coordenadora do projeto “Lembre de Mim”, da Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica) de Cuiabá. Foi assim que ele soube da morte do irmão. “Foi aí que comecei a ligar uma coisa na outra”, contou.
Sebastião foi vítima de execução: foi asfixiado, amarrado e lançado no Rio Cuiabá. A motivação do crime ainda é desconhecida. “Agradeço a Deus que a minha mãe faleceu sem saber que ele foi morto dessa forma. Isso é um peso que eu não precisei carregar para ela”, comentou.
Agora, Ednei aguarda o fim dos procedimentos legais para decidir se haverá exumação dos restos mortais. O túmulo, no entanto, já recebeu identificação. “Foi bom saber, porque senão ele ia continuar desaparecido por quanto tempo? [...] Encerrou-se um ciclo. E sempre que um ciclo se encerra, outro começa. Faz parte da vida”, finalizou.
Em busca da família - Iniciado em janeiro de 2025, o projeto “Lembre de Mim” já catalogou 118 casos de pessoas falecidas sem identificação no IML (Instituto Médico Legal) de Cuiabá entre 2009 e 2024. Entre elas, três são naturais de Mato Grosso do Sul.
Claudemir Pereira de Oliveira, nascido em Bonito em 25 de julho de 1976, é o caso mais antigo identificado até o momento. Ele deu entrada no IML em 2011. Sem conseguir localizar familiares, a foto de Claudemir foi divulgada nas redes sociais da Politec.
Outro caso é de Cassiano Alves da Silva, de 37 anos, natural de Dourados. Ele foi encontrado morto em casa, no Bairro Pico do Amor, em Cuiabá, no dia 12 de novembro de 2024.
Já Adilson Teixeira Alecrim, de 49 anos, nasceu em Campo Grande e morreu em um acidente de trânsito no dia 18 de dezembro de 2024, no km 04 da Rodovia Hélder Cândia. Ele ainda aguarda identificação por parte da família.
Informações sobre os casos podem ser obtidas pelo telefone (65) 9 8108-0143, do IML de Cuiabá.
“Lembre de Mim” - A coordenadora do projeto, Simone Mariana Delgado, explica que as identificações são feitas a partir das digitais dos falecidos. Para isso, a Politec utiliza todas as bases de dados disponíveis, como RG, registros criminais e o sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Como os sistemas não são integrados entre os estados, o projeto depende de parcerias com perícias de todo o país — como a de Mato Grosso do Sul. “Por conta dessa limitação, já tivemos duas colaborações com o Estado”, afirma.
Depois da identificação, a equipe entra em contato com os familiares. “Alguns casos têm registro oficial de desaparecimento, como esse de 2023 em MS, mas outros não têm. Isso dificulta o processo de identificação”, pontua.
Com a confirmação, a família pode registrar oficialmente o óbito no cartório e solicitar, se desejar, a restituição dos restos mortais para sepultamento.
“Apesar de não ser a notícia que se espera, saber do falecimento de alguém que estava desaparecido há anos traz alívio. A identificação tem um impacto muito grande na vida dessas pessoas que ficaram tanto tempo sem resposta”, finaliza Simone.
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