No dilema entre segurança e autonomia, CLT segue firme, mas pejotização avança
Levantamento considera soma dos CLTs, concursados e domésticos, comparado aos informais e empregadores
Nos últimos anos, tornou-se comum nas redes sociais o debate sobre o que compensa mais: ser “CLTista” — ter carteira assinada sob a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) — ou atuar como PJ (Pessoa Jurídica), ou seja, trabalhar por conta própria, sem patrão, mas também sem direito a férias ou 13º salário, por exemplo.
RESUMO
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Nos últimos anos, a discussão entre ser CLTista ou PJ tem ganhado destaque em Mato Grosso do Sul. Dados da PNAD Contínua do IBGE mostram que o número de pessoas com carteira assinada cresceu 25% entre 2012 e 2024, enquanto os informais/PJs aumentaram 19%. Em 2019, os informais tiveram um salto devido às reformas trabalhistas de 2017 e à popularização de aplicativos de mobilidade. Durante a pandemia, o mercado informal foi mais afetado, mas ambos os grupos voltaram a crescer a partir de 2022. A escolha entre CLT e PJ depende das condições de trabalho e prioridades pessoais, sendo necessário um salário 30% a 50% maior para compensar a falta de direitos trabalhistas no modelo PJ.
Segundo dados da PNAD Contínua do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em Mato Grosso do Sul, o grupo dos CLTistas segue firme — e até cresce mais que os informais/PJs.
Os números analisados pelo Campo Grande News, entre 2012 e 2024, mostram que o número de pessoas com carteira assinada (excluindo setor público e trabalhadores domésticos) saltou de 462 mil para 578 mil no Estado. Isso representa um crescimento de 116 mil empregos formais, um aumento de cerca de 25% no período.
Somando também os trabalhadores domésticos com carteira assinada e os concursados, o total foi de 664 mil para 887 mil, crescimento de 21%.
Já o grupo dos "informais/PJs" — que inclui trabalhadores por conta própria, sem carteira, domésticos sem carteira, empregadores e até trabalhadores familiares auxiliares (aqueles que ajudam no negócio da família) — cresceu de 516 mil para 616 mil no mesmo intervalo. Ou seja, um aumento de 100 mil pessoas, equivalente a 19%.
Em números absolutos, a carteira assinada conquistou espaço mais rapidamente que o trabalho informal.
O que significa a sigla PJ?
PJ é a sigla para Pessoa Jurídica. Ela se refere a empresas, instituições ou organizações registradas por meio do CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica). Muitos profissionais atuam como MEI (Microempreendedor Individual), uma modalidade que facilita o registro de pequenos negócios.
Em 2019, os informais/PJs deram um salto expressivo: foram de 580 mil para 645 mil em apenas um ano. O aumento foi puxado principalmente pelo crescimento dos “conta própria” (de 278 mil para 302 mil) e pelo avanço dos “sem carteira”.
Esse movimento teve contexto: o País ainda sentia os efeitos da reforma trabalhista de 2017, que flexibilizou direitos e incentivou contratações fora do modelo tradicional CLT. Ao mesmo tempo, a economia brasileira saía lentamente da recessão, mas sem recuperar os níveis formais de emprego — cenário agravado pela popularização de aplicativos de entrega e transporte.
Em 2020, com a chegada da pandemia, o mercado informal foi o primeiro a sentir o baque. O número de informais caiu de 645 mil para 560 mil — uma perda de quase 85 mil pessoas nessa categoria. Já entre os CLTistas, a queda foi menor: de 700 mil para 674 mil.
A partir de 2022, os empregos formais voltaram a crescer com mais força: de 675 mil em 2021 para 807 mil em 2024. Os informais também cresceram, de 593 mil para 616 mil no mesmo período.

CLT ou PJ: qual é melhor?
A decisão entre CLT e PJ depende das condições de trabalho oferecidas e das prioridades de cada pessoa.
Embora a modalidade PJ possa render um salário líquido maior, muitos trabalhadores enfrentam rotinas similares às dos empregados formais, mas sem os direitos básicos como férias, INSS e FGTS. Além disso, ser PJ exige maior planejamento financeiro e gestão de riscos.
Especialistas indicam que, para compensar a ausência de direitos, a remuneração de um PJ deveria ser entre 30% e 50% superior à de um CLT. Por exemplo, quem ganha R$ 2 mil como CLT só deveria aceitar um contrato PJ por valores entre R$ 2,6 mil e R$ 3 mil mensais.
Histórias de quem vive os dois lados - Leandro Machado, motofretista de 27 anos, conta que precisa atuar nas duas frentes para garantir a renda mensal. Ele trabalha com carteira assinada, mas também faz entregas aos fins de semana como autônomo.
"Escolhi procurar vaga com carteira assinada por causa da segurança, principalmente pra gente que está de moto na rua, né? Se eu me machuco, acontece alguma coisa, meu salário continua o mesmo. Mas como PJ, ganhava mais, então ainda preciso complementar a renda com bicos", relatou ao Campo Grande News.
Aledejan Augusto, de 43 anos, também sente os efeitos da informalidade. Trabalha como autônomo, mas sem os benefícios, a insegurança pesa.
"Sendo autônomo, você não tem horário, não tem patrão, mas precisa correr atrás. Se não tiver dinheiro pra condução, não vai. Vale-refeição também, a gente que paga. Mesmo assim, se aparecesse uma vaga com carteira assinada e salário justo, eu aceitaria sem pensar duas vezes", diz.
Foi o caso da Stefany Ferreira, de 20 anos. Ela conta que tentou abrir um negócio próprio e trabalhar como autônoma, mas a insegurança fez ela precisar procurar emprego com carteira assinada.
"Eu até tentei ter uma coisa por conta própria, mas não tive muito retorno, então eu preferi optar por carteira assinada mesmo, que é mais uma segurança que eu tenho, de não acabar faltando nada", relata Stefany.
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