ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, QUARTA  17    CAMPO GRANDE 18º

Artigos

As faces da Violência Contra a Mulher

Por Silvia Hansen (*) | 02/10/2023 08:30

Você menina mulher, que nasceu para brilhar, deseja crescer e não somente multiplicar, que pensa estar fora das estatísticas da violência causada pelo sexo oposto, porque não tem marcas pelo seu corpo, e porque esse é um problema dos outros, da vizinha, da colega de trabalho, mas não seu, afinal, ele não te bate. E tudo começa quando ele não aceita o seu brilho interior, quando aquele namoradinho que marcou um encontro retira seu batom vermelho, não com um beijo apaixonado, mas com um guardanapo, dizendo que aquela cor não é de uma menina “direita” como você.

A violência toma forma quando ele não aceita que você tenha algum amigo do sexo masculino, quando ele dita a hora em que deve chegar e o que pode ou não fazer ou falar e aos poucos vai fazendo com que você deixe de ocupar o seu lugar.

Pior ainda é quando você não pode ou simplesmente não consegue externar o que está sentindo, pois isso é coisa de gente fraca, porque isso é o que ele fala a seu respeito, afinal, você é o sexo frágil e como tal deve se submeter aos desejos dele, aliás, a todos os desejos, quer queira ou não.

A violência ocorre quando ele diz que você é bonita demais e que deveria se arrumar menos, se maquiar menos, estudar menos e não usar essa ou aquela roupa porque chama muita atenção.

Então, é aí que você começa a ser outra pessoa, não transformada pela vida e por suas escolhas, mas pelas imposições dele, deixando de ser você mesma, momento em que aquela menina alegre, sorridente e cheia de sonhos e planos se transforma numa pessoa sem luz própria, triste e cada vez mais frágil diante desse “homem” que você começa a desconhecer, tornando-se o que ele deseja.

E como se não bastasse toda essa violência emocional e psíquica que você vivencia e não acredita fazer parte de sua vida, percebe que ele começa a tocá-la, não com carinho ou desejo, mas com sentimento de posse. Primeiro ele grita e você não consegue falar nada e então ele te dá um primeiro empurrão e você não revida, e calada, tenta compreender o que fez de errado.

Como você não tem mais forças para reagir e nem com quem contar, ele parte então para agressões físicas mais fortes, e é aí que você cai da escada, porque tem vergonha de dizer aos outros a verdadeira razão daqueles olhos roxos, enfim, você não consegue mais falar, porque de alguma forma, você ainda o ama.

Num dia frio e chuvoso para sua família você não está mais entre nós, porque de tanto amar se deixou levar, pois ele não teve pena, e por ciúmes, raiva, intolerância a violência dele te fez parar, para sempre.

(*) Silvia Maria Lameira Hansen é secretária-geral adjunta da OAB-ES.

Nos siga no Google Notícias