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Boechat nunca defendeu cotas para ateus

Por Flávio Teixeira (*) | 15/02/2019 08:33

Ricardo Boechat foi, de longe, o melhor âncora da TV brasileira. Boechat era o mestre da sinceridade, ao contrário de dezenas de jornalistas que se dizem âncora e nunca emitem uma opinião própria. Ele transmitia aquela sensação de legitimidade porque, de fato, era autêntico em seus comentários, pouco se lixando se agradava ou desagradava esquerdistas ou conservadores.

Além de sincero e justo ele foi corajoso. Pouco se comentou, após sua morte, que ele era assumidamente ateu. No Brasil é preciso coragem para se assumir ateu. Ele foi um dos poucos que fez isso. Existe muito preconceito. Afinal somos um País católico, abençoado por Deus. A grande mídia parece que se envergonhava desta faceta de Boechat, pois praticamente omitiu na cobertura essa importante informação.

Um País majoritariamente composto por católicos, evangélicos, crentes e outras vertentes cristãs não aceita de bom grado quem não acredita em Deus. Sei o que é isso porque também sou ateu. Estudei muito para concluir que Deus não existe. Ninguém nasce ateu é preciso muito esforço para isso. A gente rema contra a corrente. Seria mais fácil aderir.

Enfrentei diversas situações de puro preconceito devido ao fato de ser ateu. Acredito que o Boechat e outros tantos também... Certa vez, ao ser internado em um hospital a atendente preencheu meu cadastro e lá pelas tantas perguntou qual minha religião. Respondi que nenhuma, porque era ateu. A atendente, com um misto de espanto e pena, disse para mim: “não pode ser verdade... vou colocar aqui que o senhor é cristão”.

Seguindo a moda do politicamente correto acho que os ateus deveriam ser classificados como “minoria oprimida”. Por exemplo: todos sabem que o FHC é ateu, mas ele se recusou a falar a palavra maldita a um entrevistador afirmando que “a gente combinou que você não ia perguntar isso!”. Mesmo assim perdeu a eleição para Jânio Quadros. Quer maior injustiça?

Todos sabem que pra ser comunista a pessoa tem que ser ateia afinal, para eles, a religião é o ópio do povo. E não é que, tentando ficar de bem com o eleitor, os notórios comunistas Fernando Haddad e Manuela D’Ávila foram constrangidos a assistir uma missa católica. É muita humilhação. No meu caso sou ateu, mas não comunista, graças a Deus!

Os ateus não podem mais aceitar essa opressão! Esses comuno-ateus têm o dever de defender, entre outras coisas, cotas para candidatos ateus, que poderão ser eleitos com menos votos do que os crentes. “Essa é uma dívida que a sociedade tem de pagar por anos de discriminação e opressão aos ateus”, poderão dizer eles, que são os mestres do vitimismo.

(*) Flávio Teixeira é jornalista.

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