ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
MARÇO, TERÇA  18    CAMPO GRANDE 29º

Artigos

Brasil lidera afastamentos do trabalho por saúde mental: causas e reflexões

Por Cristiane Lang (*) | 18/03/2025 08:30

O Brasil ocupa o preocupante posto de líder mundial em afastamentos do trabalho por problemas de saúde mental. Dados recentes apontam que transtornos como depressão, ansiedade e síndrome de burnout são as principais causas. Mas por que isso acontece? Vamos explorar os motivos que tornam o país tão vulnerável a esse cenário e refletir sobre possíveis caminhos para enfrentar essa realidade.

Pressões socioeconômicas e insegurança financeira 

A economia brasileira é marcada por instabilidade, altos índices de desemprego e precarização das relações de trabalho. A insegurança financeira gera um ciclo de ansiedade constante, já que muitos trabalhadores convivem com o medo de perder o emprego ou com a necessidade de aceitar condições precárias para garantir sustento.

Além disso, a falta de perspectivas concretas de crescimento profissional contribui para o sentimento de impotência e frustração, afetando diretamente a saúde mental. A pressão para ser produtivo mesmo em contextos adversos agrava quadros de estresse e esgotamento emocional.

Cultura do trabalho intenso 

A cultura de que é preciso “dar o sangue” pelo trabalho está enraizada na sociedade brasileira. Longas jornadas, falta de intervalos adequados e cobrança excessiva de produtividade são comuns, especialmente em setores como saúde, educação e comércio.

A glorificação do sacrifício pessoal em prol da carreira perpetua um modelo tóxico que negligencia o cuidado com a saúde mental. Muitos profissionais sentem que precisam “aguentar firme” e acabam postergando o autocuidado até o ponto de ruptura.

Desvalorização profissional e baixa remuneração 

Em diversas áreas, os trabalhadores enfrentam salários baixos, falta de reconhecimento e pouca valorização profissional. Essa realidade causa um descompasso entre o esforço empregado e o retorno obtido, o que mina a autoestima e gera sensação de inutilidade. Profissionais da saúde e da educação são especialmente afetados, enfrentando não só jornadas extensas, mas também um cenário de desprestígio e recursos escassos. A combinação desses fatores cria um ambiente propício ao desenvolvimento de transtornos mentais.

Falta de apoio psicossocial e preconceito 

Acesso a serviços de saúde mental no Brasil ainda é precário, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Muitas empresas também negligenciam programas de apoio psicológico, tratando a saúde mental como uma responsabilidade exclusiva do indivíduo.

O preconceito associado às doenças mentais agrava a situação, fazendo com que muitos trabalhadores escondam seus sintomas por medo de represálias ou julgamentos. Isso contribui para que transtornos se agravem sem tratamento adequado.

Impacto da pandemia e do trabalho remoto A pandemia de COVID-19 intensificou ainda mais o cenário. A migração repentina para o home office gerou sobrecarga, já que muitos profissionais precisaram conciliar trabalho, cuidados familiares e incertezas econômicas. Além disso, a sensação de isolamento e a falta de separação clara entre trabalho e vida pessoal aumentaram os casos de burnout. A pressão por se manter produtivo mesmo em tempos de crise fez com que muitos ignorassem os sinais de esgotamento.

Caminhos para enfrentar a crise de saúde mental

O combate a esse quadro alarmante passa por várias frentes:

● Mudança Cultural: Romper com a ideia de que produtividade é sinônimo de sacrifício pessoal.

● Apoio Institucional: Empresas precisam criar políticas de apoio à saúde mental, promovendo o diálogo aberto e reduzindo o estigma.

● Políticas Públicas: Ampliar o acesso a serviços de saúde mental e fortalecer programas de prevenção e tratamento.

Educação Emocional: Implementar programas que promovam o autoconhecimento e a gestão das emoções, tanto nas escolas quanto no ambiente corporativo.

O número alarmante de afastamentos por saúde mental no Brasil não é fruto do acaso, mas resultado de uma combinação de fatores sociais, econômicos e culturais. Romper com o ciclo de desgaste emocional exige uma mudança profunda na forma como encaramos o trabalho e o cuidado com a mente.

Promover um ambiente mais saudável e respeitoso não só beneficia os indivíduos, mas também fortalece empresas e a sociedade como um todo. Afinal, trabalhadores saudáveis são fundamentais para um país mais equilibrado e produtivo.

(*) Cristiane Lang é psicologa clínica.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

Nos siga no Google Notícias