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Comércio exterior: o que esperar de 2017

Por Milton Lourenço (*) | 06/12/2016 09:49

Apesar das tintas carregadas com que alguns analistas têm pintado o cenário para o Brasil em 2017, em razão da crise política entre o Congresso e o Poder Judiciário e até da pouca governabilidade que transparece das ações do mandato-tampão do presidente Michel Temer, para o comércio exterior brasileiro as perspectivas não seriam tão turvas assim.

Uma das razões para essa análise mais otimista é a fase de conclusão em que se encontram as negociações para a assinatura de um acordo comercial do Mercosul com a União Europeia, depois de alguns avanços e muitos retrocessos desde 1998, quando tiveram início as tratativas, passando depois por uma paralisação de 12 anos. Como se sabe, o interesse europeu neste acordo de comércio deve-se, em grande parte, ao Brasil.

Afastada a questão política, que nascia da pouca credibilidade que os governos anteriores passavam para o bloco europeu, o atual governo mostrou-se mais prático e decisivo nas negociações, facilitando a contrapartida por parte do bloco europeu. Um exemplo disso é o estudo divulgado pela Comissão Europeia que mostra que a Europa terá importantes ganhos se o acordo com o Mercosul vier a ser assinado, inclusive no setor agrícola, a maior fonte de preocupação dos governos europeus, que, a princípio, temem a abertura de seus mercados para a concorrência externa.

Diz o estudo que os europeus, até 2025, ampliariam em 29 bilhões de euros as suas compras de produtos agrícolas, metade das quais seria procedente das nações que formam o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). Já as exportações do Mercosul para a UE aumentariam 14 bilhões de euros em dez anos, ou seja, haveria um salto de 24% nas exportações do bloco sul-americano para o europeu.

O que se espera é que essas negociações avancem em 2017. O outro ponto de preocupação para os analistas do comércio exterior brasileiro é o possível comportamento do governo Trump, a partir de janeiro.

Mas, seja como for, é preciso levar em consideração que o Brasil, ao contrário do México e da Colômbia, não é extremamente dependente da política externa dos EUA, embora aquele país seja o principal destino das exportações dos manufaturados brasileiros. O prejuízo maior para o Brasil aconteceria se os EUA adotarem regras mais rígidas para a importação de produtos agrícolas.

Além disso, obviamente, o Brasil não faz parte das prioridades dos EUA e esse status não deverá ser alterado sob o governo Trump, que deverá se preocupar mais com mudanças em tratados como Nafta, com Canadá e México, TPP, que responde por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) global, e TTIP, que envolve a UE. Tudo, porém, não passa de especulações e o mais provável é que as relações comerciais entre Brasil e EUA sigam sem maiores turbulências.

(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicomis (Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo) e da ACTC (Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística)

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