Covid-19 é crise de saúde que define nosso tempo
No momento da redação deste artigo, cinco dos seis países mais afetados pelo novo coronavírus estão na Europa. E apesar de o continente europeu estar lutando para controlar a epidemia de covid-19, ele também está desempenhando um papel de liderança na construção da solidariedade global.
Mesmo estando distante fisicamente uns dos outros como indivíduos, precisamos nos reunir coletivamente como atores no palco global.
A União Europeia (UE) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) compartilham o compromisso de apoiar comunidades e países vulneráveis em todo o mundo. Permanecer unidos como comunidade global é particularmente crucial agora, porque estamos juntos nisso, já que a doença não conhece fronteira e nem discriminação. Enquanto ela estiver afetando alguns de nós, nenhum de nós está seguro.
Para apoiar a resposta global à covid-19, a União Europeia e seus Estados-membros propuseram recentemente o pacote de ajuda humanitária "Team Europe", que está crescendo para bem mais de 23 bilhões de euros (143 bilhões de reais). Obviamente, o Team Europe dividirá partes de sua resposta à pandemia com as Nações Unidas.
Como em tantas outras crises, os mais vulneráveis são os que mais sofrem e devem ser o nosso foco. A UE está apoiando o Plano Estratégico de Preparação e Resposta da OMS com 30 milhões de euros em novos fundos, voltados a fortalecer a preparação e resposta emergenciais em países com sistemas de saúde fracos ou afetados por crises humanitárias.
Além disso, a Comissão Europeia, a OMS e parceiros de todo o mundo também se uniram para lançar a iniciativa Acelerador de Acesso às Ferramentas Covid-19, para impulsionar o desenvolvimento, a produção e a distribuição equitativa de vacinas, diagnósticos e terapias para combater a pandemia, de forma que todos tenham acesso igualitário a esses produtos que salvam vidas.
Mas nossa parceria vai muito além da atual crise.
A pandemia explora as lacunas e desigualdades nos sistemas de saúde, ressaltando a importância de investir em trabalhadores e na infraestrutura desse setor, bem como em sistemas para prevenir, detectar e responder a surtos de doenças.
Nas tendências atuais, mais de 5 bilhões de pessoas não terão acesso a serviços essenciais de saúde até 2030, incluindo a capacidade de consultar com um profissional de saúde, o acesso a medicamentos essenciais e água corrente em hospitais.
Mesmo quando os serviços estão disponíveis, usá-los pode significar ruína financeira para milhões. Essas lacunas não prejudicam apenas a saúde de indivíduos, famílias e comunidades; elas também afetam a segurança global e o crescimento econômico.
O mundo gasta cerca de 7,5 trilhões de dólares (43,2 trilhões de reais) em saúde a cada ano – quase 10% do PIB global. Mas muitos países dedicam muito deste orçamento ao tratamento de doenças em hospitais, onde os custos são mais altos e os resultados geralmente piores, em vez de promover a saúde da população e prevenir doenças com cuidados sanitários primários.
A pandemia de covid-19 vai acabar retrocedendo, mas não há como voltar à antiga normalidade. Enquanto trabalhamos para responder a essa pandemia, também devemos nos preparar para a próxima. Há agora uma oportunidade de lançar as bases para sistemas de saúde resilientes em todo o mundo.
Investimentos para fortalecer a infraestrutura de saúde e a força de trabalho são a única maneira de evitar futuras crises globais como a que estamos enfrentando agora. Se tivermos aprendemos algo com a covid-19, é que investir em saúde agora é salvar vidas mais tarde.
A história nos julgará não apenas pelo fato de termos passado por essa pandemia, mas também pelas lições que aprendemos e pelas ações que tomaremos depois de seu fim.
(*) Tedros Adhanom Ghebreyesus é o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde.
(*) Jutta Urpilainen é a comissária responsável por parcerias internacionais na Comissão Europeia