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Da consciência

Heitor Rodigues Freire (*) | 18/07/2021 07:12

O despertar da consciência é algo que se desenvolve por ação própria, mas depende da vontade de cada um. Uma vez despertada, ela assume um movimento gradativo, mas constante. Decorre diretamente da individualidade. É um caminho sem volta. E propicia a libertação do ser.

A consciência é inata ao ser humano, nasce com a sua criação, mas demanda um trabalho individual, disciplinado e permanente para sua manifestação e continuidade. É nossa companheira eterna, por toda a eternidade.

Implica numa grande responsabilidade porque conduz ao entendimento de que a vida é aqui e agora. O passado já se foi, e o futuro não é hoje. Esse despertar não aceita adiamentos. Nem faz de conta. Sacode todo o ser, e não permite lero-lero.

É o acordar do sono letárgico que envolve a maioria das pessoas, mostrando de forma muito clara o compromisso de cada um consigo mesmo e com Deus. O indivíduo consciente deixa de fazer parte do rebanho.

Esse despertar nos ensina a evitar todo radicalismo e sectarismo de qualquer natureza, religiosa, filosófica ou política. Aprendendo, como Krishna ensinou ao príncipe Arjuna, há mais de 4 mil anos no poema épico Bhagavad Gita, a seguir o abençoado e dourado caminho do meio.

E com isso, passamos a entender que verdadeiramente somos todos irmãos, oriundos da mesma fonte e destinados à evolução constante. E também a trilhar o caminho, mostrado por Jesus.

E a saber que devemos respeitar tudo e todos. E a não julgar. Nem condenar.  E a entender que nada acontece por acaso e que tudo decorre dos nossos atos, portanto devemos assumir nossas responsabilidades. Entendendo que a vida por si só é um milagre e que nos permite a oportunidade de contribuir com nossa inteligência e consciência na construção divina da Eternidade.

Precisamos entender que a esperança é o fator de alimentação da fé, fortalecendo e motivando a consciência. Que esperança exige fidelidade.

Temos que ter a coragem de conquistar a liberdade de sermos nós mesmos, sem interferências, aprendendo a ouvir e usar o discernimento que, nas palavras de Krishamurti, é o primeiro passo para a evolução espiritual.

É preciso também saber conviver com opiniões contrárias e buscar o embasamento para as nossas próprias ideias. Segundo José Saramago, o grande escritor português, “o problema não é que as pessoas tenham opiniões, isso é ótimo. O drama é que as pessoas têm opiniões sem saber do que falam”.

Não devemos repetir nada que não tenha passado pelo crivo da nossa própria consciência, e não falar apenas para impressionar os outros. Precisamos aprender a observar o silêncio.

Temos que aprender que cada um é o fiador de sua própria vida, não dependendo do aval de ninguém. E assim conquistar a nossa verdadeira independência.

Nestes tempos de comunicação instantânea e global é muito comum observar comentaristas de televisão expressarem opiniões diversas, criticando, condenando, determinando atitudes e comportamentos como se fossem seres puros, imaculados e iluminados, arautos da moralidade. Mas se virarmos as câmeras para suas vidas, no entanto, veremos que seus comportamentos não têm nada de republicano e muito do que criticam. Usam dos microfones e câmeras para exibir seus egos inflados e irresponsáveis.

Induzidos pelo discurso dito politicamente correto, muitos querem ditar regras de bons costumes, mas quando isso fica somente no palavreado e não se concretiza na prática, não passa de hipocrisia. Precisamos ter em mente que o politicamente correto é um avanço civilizatório para toda a sociedade, e não deve ficar apenas no enunciado. Se conseguirmos, ao menos, não fazer com os outros aquilo que não queremos que façam conosco, já é um bom começo.

A consciência própria do ser é a grande conquista de cada um.

Heitor Rodrigues Freire(*)  – Corretor de imóveis e advogado.


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