Do Aprendizado
Quando se alcança a consciência a respeito do que verdadeiramente somos, ocorre, instantaneamente, uma libertação. Então acaba a insegurança, o medo e o sofrimento.
E o que somos verdadeiramente? Somo filhos de Deus. Essa condição nos liberta, porque Deus é Pai. E um Pai realmente amoroso, que só quer o bem de seus filhos. Aí também aprendemos que nada acontece por acaso. Tudo decorre dos nossos próprios atos. E que estamos aqui para aprender, aprender, aprender.
Um aprendizado decisivo me foi proporcionado por meio do meu casamento com a Rosaria, e a partir daí ganhei uma mestra para sempre. Esse é um fato marcante e presente na minha vida ao longo destes maravilhosos 58 anos de convivência, companheirismo e solidariedade.
O alcance da consciência e o entendimento de que estamos aqui para aprender nos define um norte muito claro: na vida não há formatura, e a graduação suprema só acontecerá quando atingirmos a perfeição.
Assim, o aprendizado é contínuo. Várias, inúmeras encarnações serão necessárias para que a graduação se complete. Então, o que me cabe fazer é me dedicar ao aprendizado contínuo. Nesta encarnação não tem refresco. É trabalho permanente. Não aspiro a nenhum descanso nem aposentadoria.
Quando cheguei aos 69 anos, de repente, me deu a vontade de escrever. Hoje, decorridos 12 anos, já são mais de 600 artigos publicados, sempre um por semana. E sigo escrevendo, sempre, sem parar.
Aos meus 80 anos, circunstancialmente, decidimos, com a Rosaria, começar a produzir em casa chipa e sopa paraguaia para vender. Sou de origem guarani, nasci no Paraguai, do lado de lá da fronteira. Até então, eu não sabia nem fritar um ovo. Mas aprendi. Já faz um ano e pouco, e continuamos fazendo juntos a nossa chipa e a sopa.
Com 80 anos, coincidentemente, me vi também na contingência de assumir a presidência da Santa Casa de Campo Grande, um complexo hospitalar imenso, com orçamento anual em torno de 400 milhões de reais. Três mil e tantos funcionários. E uma dívida estratosférica. Como já sabia que sou filho de Deus, não tive a menor dúvida. Aceitei e assumi o compromisso. E contando com uma diretoria solidária e competente, estamos dando conta do recado. O nosso trabalho é totalmente voluntário, eu não recebo 1 centavo por isso, pelo contrário, eu ainda contribuo. Como associados, pagamos uma anuidade de 1.200 reais. O que vale é o ideal de servir.
Aprendi a ir na fonte. Sem ilusões nem desvios de propósito, sempre procurando aplicar a Lei de Uso, que determina que o conhecimento e a riqueza devem circular.
Aprendi a ter plena consciência sobre a transitoriedade da vida, o que me libertou da posse e do apego.
A evolução provoca ruptura porque gera mudança. E a mudança talvez seja, paradoxalmente, a característica mais constante da vida. Tudo muda e tudo se move (como diria Galileu). Heráclito já afirmava isso, literalmente, há mais de 2.500 anos: “A única coisa permanente é a mudança”. Compreender isso também é um sinal de evolução.
A vida é rica e plena de situações diferentes, e a cada momento há uma mudança. Lavoisier também mostrou que “na natureza nada se cria, nada se perde; tudo apenas se transforma”.
É interessante observar como hoje, infelizmente, a divergência política gera brigas, radicaliza posições, o fanatismo se faz presente e a discussão causa ruptura de amizades, de laços de parentesco, e provoca um choque de interesses. Camões já dizia: “Quando os interesses se chocam, cessa tudo o que a antiga musa canta”. Aprendi que isso nada acrescenta, muito pelo contrário.
A vida vai nos proporcionando mudança de estado etário, civil, social, profissional, filosófico e político, e isso deve ser motivo de reflexão para conscientemente aproveitarmos as diferentes situações e aprendermos as lições trazidas.
Parafraseando Francisco Otaviano, diplomata e poeta brasileiro:
“Quem passou pela vida
Em brancas nuvens,
E em plácido repouso adormeceu,
Quem passou pela vida,
E não sofreu, [aprendeu, digo eu]
Só passou pela vida,
Não viveu!
Foi espectro de homem,
Não foi homem!”
Vamos viver com consciência, em paz e com amor, meus irmãos!
Heitor Rodrigues Freire (*) – Corretor de imóveis e advogado.
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