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Da mulher e sua luta milenar

Por Heitor Freire (*) | 04/03/2020 18:18

Quanto mais leio e estudo sobre os ensinamentos e a vida de Jesus, mais me convenço de sua maestria, sua divindade, sua genialidade e sua sensibilidade. Que outro ser humano teve tal importância no Ocidente a ponto de passarmos a contar o tempo antes e depois de sua passagem pela Terra?

Um aspecto pouco divulgado do trabalho de Jesus Cristo é a atenção que dedicava às mulheres, principalmente numa época em que predominava de forma muito ostensiva o isolamento e o distanciamento delas em relação aos homens, à religião e ao status social.

Em Lucas 8:1-3, Maria Madalena, Joana e Susana são escolhidas entre as mulheres que ajudam Jesus em suas viagens. Elas o assistiam em suas necessidades.

Maria Madalena, especificamente, é citada repetidamente cerca de dezessete vezes no Novo Testamento]

Também no Livro de Urântia há um capítulo intitulado “O corpo evangélico das mulheres”: “Em todas as coisas ousadas que Jesus fez na sua carreira terrena, a mais surpreendente foi o anúncio súbito, na tarde de 16 de janeiro: ‘Amanhã pela manhã, nós selecionaremos dez mulheres para o trabalho de ministração do Reino’”.

Jesus, segundo o livro – páginas 1678/9 –, determinou que se chamassem dez mulheres devotas que haviam servido na administração do acampamento anterior e na enfermaria das tendas. Essas mulheres tinham ouvido a instrução dada aos jovens evangelistas, mas nunca havia ocorrido aos instrutores nem a elas próprias que Jesus ousaria colocar mulheres na missão de ensinar o evangelho do Reino e ministrá-lo aos doentes.

Essas dez mulheres escolhidas por Jesus eram: Suzana, filha do antigo chazam da sinagoga de Nazaré; Joana, mulher de Cuza, camareiro de Herodes Antipas; Isabel, filha de um rico judeu de Tiberíades e Séforis; Marta, irmã mais velha de André e Pedro; Raquel, cunhada de Judá, irmão na carne do Mestre; Nasanta, filha de Elman, médico sírio; Milcha, prima do apóstolo Tomé; Ruth, filha mais velha de Mateus Levi; Celta, filha de um centurião romano e Agaman, uma viúva de Damasco. Mais adiante, Jesus acrescentou mais duas mulheres ao grupo – Maria Madalena e Rebeca, filha de José de Arimatéia.

O encargo que Jesus deu a essas dez mulheres quando as escolheu para ensinar o evangelho foi o de proclamar a emancipação delas e de todas as mulheres para todos os tempos; fez isso para que o homem não mais considerasse a mulher como um espírito inferior. Tal atitude foi decididamente um choque, até mesmo para os doze apóstolos que o acompanhavam de perto.

As mulheres ficaram literalmente atordoadas quando Jesus propôs formalmente confiar a elas a missão de instrutoras religiosas e permitiu que viajassem com a caravana do Mestre.

Entre as mulheres bíblicas – considerando-se a Bíblia como um todo, englobando também os evangelhos –, sem dúvida nenhuma, uma das mais enigmáticas e importantes é Maria de Magdala, depois conhecida como Maria Madalena. A sua importância na cristandade é fundamental.

Maria Madalena esteve o tempo todo acompanhando Jesus, seguindo-o até o fim. Junto a Maria, sua mãe, assistiu a sua crucificação. Ela é tão importante que no momento da ressurreição, foi para ela que Jesus apareceu primeiro. Foi ela também que comunicou aos apóstolos – os quais, com exceção de João, se dispersaram, com medo, escondendo-se – que ele havia ressuscitado. Foi ela a encarregada de proclamar a mensagem. Uma mulher: Maria Madalena.

O carinho e o respeito que Jesus dedicava a Madalena eram tão grandes que despertaram – e ainda hoje despertam – ciúme, fazendo com que sua atitude seja distorcida. Diz-se que Pedro, especificamente, tinha muito ciúme dela.

Maria Madalena foi a pessoa mais próxima de Jesus em toda a sua caminhada.
A Igreja Católica a estigmatizou como uma mulher promíscua, devassa. Em 2016 o papa Francisco corrigiu essa interpretação determinando o dia 22 de julho consagrado a ela. Maria Madalena é considerada santa pelas Igrejas Ortodoxa e Anglicana.

O Evangelho de Maria Madalena – encontrado em 1896, em um mosteiro egípcio – relata que ela teria sido uma discípula de Jesus de suma importância, à qual ele teria confiado informações que não foram passadas aos outros discípulos, o que seria a causa dos ciúmes entre eles. Entretanto, esse evangelho não é reconhecido oficialmente pela Igreja Católica.

Curiosamente, a história ocidental fez com que as duas mulheres mais próximas de Jesus, Maria e Madalena, sejam consideradas os arquétipos da figura feminina: a prostituta e a santa. E Ele as acolheu igualmente, sem discriminação.

Neste dia 8 de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, nada mais significativo do que celebrarmos a atitude de Jesus.

Salve a mulher!

(* Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis, advogado, associado ao Instituto Histórico e Geográfico - MS.

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