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Daltonismo estratégico

Heitor Castro (*) | 09/06/2020 10:28

Para pessoas que não são diretamente afetadas por esses eventos comuns — infelizmente — de racismo, a resposta padrão geralmente é o silêncio. Muitos brancos evitam falar sobre raça porque temem ser vistos como preconceituosos, então adotam o daltonismo estratégico. E sabemos que muitos líderes também pensam assim, que não possuem as skills necessárias para terem conversas profundas sobre diferenças.

Mas a verdade é que ninguém tem as palavras perfeitas para lidar com certas atrocidades em nossa sociedade. É responsabilidade do líder tentar transmitir os cuidados e preocupações para todos os colaboradores, mas especialmente para os grupos-alvo. Como o Arcebispo Desmond Tutu disse uma vez: "Se você é neutro nas situações de injustiça, você escolheu o lado do opressor".

Você pode ficar tentado e se basear apenas em declarações de diversidade. Mas isso não é suficiente. As palavras de Martin Luther King Jr. nos lembram: "No final, lembraremos não das palavras de nossos inimigos, mas do silêncio de nossos amigos".

Outro ponto comum ao abordar conversas sobre injustiça racial é reagir defensivamente, especialmente quando nossas visões, posições ou vantagens no mundo são questionadas ou desafiadas.

Existe uma pesquisa da professora Robin DiAngelo sobre fragilidade branca que destaca esse fenômeno.

Por exemplo, ao aprender sobre a brutalidade policial contra negros desarmados, uma reação pode ser procurar evidências sobre o que a vítima fez para merecer abuso, em vez de demonstrar compaixão e empatia. Outro exemplo é diminuir os manifestantes, concentrando-se e julgando aqueles que se envolveram em saques em vez de discutir o ato injusto que levou as pessoas às ruas.

Um líder deve refletir sobre essas reações porque isso gera um engajamento construtivo sobre o tema.

Quando acontecem eventos negativos assim, há uma tendência em se fazer generalizações abrangentes sobre os grupos envolvidos.

Em vez de presumir que todos os membros do seu grupo ou fora do grupo pensam e se sentem da mesma forma, falando sobre o que “todo mundo sabe”, como “todos nós sentimos” e o que “nenhum de nós jamais faria”, forneça espaço para os pontos de vista divergentes.

Em caso de dúvida, pergunte as pessoas sobre suas experiências individuais para honrar sua singularidade.

Pense em fornecer uma estrutura de ações significativas. Os líderes não devem apenas oferecer segurança física e psicológica. Eles também têm o poder e o dever de criar o ambiente para liderar a mudança. As declarações padrões são valiosas, mas deveriam ser apenas o começo de várias ações.

Qualquer pessoa, em qualquer nível da empresa, pode dar pequenos passos para exercer maior compaixão e iniciar alguma ação que forneça o suporte necessário para promover a justiça racial para os colaboradores negros, bem como para os outros marginalizados.

Os líderes têm um papel — muito — importante na conexão de todas as pessoas.

Como fazer isso? É importante reconhecer qualquer dano sofrido por seus colegas negros e pardos. Isso significa comprometer-se com a aprendizagem ao longo da vida sobre o racismo. Procure os fatos sobre eventos racistas, bem como as agressões e microagressões que seus colegas de trabalho provavelmente enfrentaram dentro e fora do seu negócio.

As pessoas estão procurando líderes para afirmarem seus direitos.

Quando presidentes, governadores, prefeitos e vereadores não fazem nada, líderes empresariais e universitários podem agir de forma oposta. Isso significa oferecer oportunidades contínuas de reação, reflexão, crescimento, desenvolvimento, impacto e avanço sobre o tema.

Pense criticamente sobre como você pode usar seu poder para efetuar mudanças. Os colaboradores valorizam palavras de entendimento e incentivo, mas — ações — possuem um impacto muito mais duradouro.

O que você e o seu negócio podem fazer na sua comunidade? O que promoveria a equidade e a justiça e ativaria mudanças significativas? Se você é um líder, como você pode advogar por essa ação?

A verdade é que o racismo não é apenas um problema dos negros; é problema de todos, porque afeta a sociedade como um todo.

Líderes de todos os níveis devem usar seu poder/influência para ajudar colaboradores e comunidades a superar esses desafios e construir um mundo melhor para todos nós.

(*) Heitor Castro é empreendedor e sócio em empresa de tecnologia no Vale do Silício.

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