Defender a democracia é dominar a arte da comunicação
Em seu discurso de posse como presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Luís Roberto Barroso falou sobre gratidão, Justiça e a defesa da democracia. Mas o que mais chamou atenção, em especial dos profissionais de comunicação, foi o anúncio dos três pilares de sua gestão à frente da Corte: conteúdo, comunicação e relacionamento.
Após a batalha travada com o Congresso Nacional em torno do Marco Temporal, o ministro defendeu também que o tribunal aja com autocontenção e diálogo e não busque a hegemonia sobre outros poderes.
O ministro, pelo visto, já está evangelizado sobre a principal soft skill para liderar em ambiente de poder: a arte da comunicação. No contexto atual de sociedade multimídia digital, de pautas econômicas, sociais e ambientais urgentes, entender o papel do porta-voz é crucial para qualquer líder, ainda mais sendo uma autoridade pública. Não basta mais “saber falar direito” ou possuir o dom da oratória, pré-requisito para a maioria dos operadores de direito. A comunicação qualificada é saber analisar contexto, entender a necessidade de todos os públicos, usar os canais mais eficientes, saber construir mensagens e apresentar dados e evidências.
Agora o ministro já comprometido tem o desafio de disseminar a comunicação como imperativo no resgate de confiança da sociedade no Judiciário. Vai ser necessário um projeto estruturado e muita capacitação.
As autoridades públicas enfrentam hoje um cenário de crise contínua e de longa duração, que requer abordagens distintas. Passa-se de um contexto de conflitos repentinos para duradouros, que requerem novas estratégias de gestão. Em crises abruptas, como a da Covid-19, o imperativo é agir rápido, tomar decisões quase em tempo real. A tolerância ao risco é alta, porque o risco de não fazer nada é pior, alertam especialistas.
“Muito Além do Media Training – O porta-voz na era da hiperconexão”, livro que acabamos de lançar, aborda a vasta complexidade da comunicação contemporânea digital na era 5G, caracterizada pelo cenário distópico, de hiper-realidade, de fragmentação de estilos e cultura e de descentralização. Trouxemos para a obra a experiência acumulada em preparação de cerca de 12 mil porta-vozes, ao logo de mais de duas décadas.
O professor e autor francês Dominique Wolton, uma autoridade na ciência da comunicação, conta em entrevista inédita no capítulo “A prática do contraditório” que a questão central é o poder da comunicação na defesa da democracia, lidar com seu conjunto de forças discrepantes e relações assimétricas de poder, sabendo estabelecer relacionamento com todo o universo midiático. Esse vai ser o principal desafio do Ministro Barroso e do Judiciário como um todo.
A razão deste projeto, escrever sobre experiências vivenciadas no campo da comunicação pública e institucional, é porque acreditamos que, para orbitar na webesfera do mundo phygital (fusão entre o mundo físico e digital) é preciso saber se relacionar e ter comunicação eficiente. Sem isso, não há sobrevivência.
(*) Patrícia Marins é sócia-fundadora da Oficina Consultoria, cofundadora do Women on Board, diretora da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom) e professora do curso de Relações Públicas e Diplomacia do Instituto Rio Branco (MRE).
(*) Miriam Moura é jornalista, consultora associada da Oficina Consultoria, desenvolve projetos especiais em curadoria de conteúdo e capacitações de comunicação. Professora de Relações Públicas e Diplomacia no Instituto Rio Branco (MRE).