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Do ponto hara

Heitor Rodrigues Freire (*) | 13/11/2021 15:00

O estudo permanente para o autoconhecimento enriquece naturalmente a nossa vida, pois o aprendizado abre novos caminhos, consolida outros e cria novas perspectivas. Assim, percebemos que o corpo humano é uma prova inconteste da existência de Deus.

 Composto por tantos órgãos, células, moléculas, átomos, neurônios e centros de energia distribuídos ao longo da cabeça, tronco e membros, o nosso corpo configura uma miniatura do universo, cujo funcionamento independe da vontade de cada um. Todos os componentes têm vida própria, obedecendo a um ordenamento lógico e natural, que emana de uma fonte primordial: Deus. Essa energia que permeia o universo, chamada de Deus, envolve o ser humano e se distribui por todo o seu corpo, de forma inteligente e ativa. Cada órgão tem sua individualidade e função, e todos estão irmanados no corpo de cada ser. Dentro desse universo, o papel do umbigo vai além da psiquê e da biologia. Ele é, também, um ponto cármico, um nó de energias para inúmeras tradições religiosas e culturais. É nessa região da barriga que se concentra a energia vital – o ki dos japoneses, o chi dos chineses e o prana dos indianos. O nome do ponto abaixo do umbigo, em japonês, é chamado Tanden, em chinês é considerado o baixo dantian e no yoga chama-se swadhisthana ou chakra esplénico. Este centro energético é o grande reservatório de ki, chi e prana, que são os nomes dados à energia pelos japoneses, chineses e indianos. No Japão, o hara, ou o centro do corpo, está relacionado ao senso de honra e dignidade. Antigamente, quando se sentiam desonrados, os japoneses cometiam um suicídio ritual, o harakiri, cravando o punhal na região do hara. Assim encerravam a vida no lugar onde ela havia nascido. Um hara forte significa poder espiritual. Nas gravuras japonesas e chinesas, os homens santos costumam ser representados com um círculo de luz localizado no baixo ventre. É por isso que um Buda, um iluminado, é visto nas imagens com a barriga proeminente.

O umbigo, essa marca central em nosso corpo sobre o qual já falei num artigo anterior, suscitou em mim uma curiosidade crescente que me levou a pesquisar mais sobre esse tema misterioso. O umbigo tem um grande significado. É o centro do ser humano. Tem uma grande função, embora invisível. É o local da criação da coragem e da raça. O umbigo é como se fosse a nossa impressão cósmica de uma relação transcendente. É a nossa marca individual, espiritual, com a nossa matriz, a mãe que nos nutriu e manteve durante todo o período da gestação, e cuja relação nos uniu de forma definitiva em nossa encarnação. É um registro indelével de que primordialmente estivemos conectados a outra pessoa e totalmente dependente dela. Descobrir e estudar o umbigo está se constituindo para mim num processo enriquecedor para o meu autoconhecimento. O mistério que envolve o umbigo o torna um enigma a ser decifrado. É como se fosse a minha esfinge pessoal.

É o meu nó górdio que foi cortado, mas tenho que desatar cosmicamente. Karfiled Graf Durckheim (1896-1988), um ex-diplomata alemão a serviço do nazismo, psicoterapeuta da Universidade de Kiel, e mais tarde prisioneiro de guerra no Japão, tornou-se um mestre zen que trabalhou com o conceito do hara como terapia esotérica. Ele escreveu: “O hara liberta o homem da imagem de uma persona, isto é, de todas as posturas internamente não-verdadeiras pertinentes ao papel que alguém exerce no mundo ou que gostaria de representar.

O hara possibilita a Gestalt (um conceito psicoterápico focado na responsabilidade do indivíduo, na experiência baseada no “aqui e agora”), que expressa a essência de um homem com singeleza, além de concretizá-la progressivamente. Assim, o homem está livre da obrigação de querer parecer, ou de ser mais do que é. A timidez, o constrangimento e a falsa submissão desparecem. O homem que se torna consciente de suas raízes no hara posiciona-se com naturalidade e liberdade, como ele simplesmente é, nem mais nem menos, conquistando por isso sua beleza interna específica.” Na internet encontramos muita informação sobre o hara e também exercícios que permitem a utilização do seu poder e da sua energia em benefício de quem os pratica. Vale a pena. Estou conhecendo, utilizando e me beneficiando desse conhecimento.

 Heitor Rodrigues Freire (*) – Corretor de imóveis e advogado.

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