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Esperança, esperança: abra as asas sobre nós

Isaac Roitman (*) | 04/01/2022 13:30

A inspiração desse texto foi originada da observação da expressão facial, do comportamento e da oralidade de crianças e jovens que testemunham esse cenário de crise social profunda, de desastres ecológicos, de violência, de corrupção, de falta de ética e da pandemia da Covid-19.

O confinamento de nossas crianças durante a pandemia, pode ser comparado a um passarinho dentro de uma gaiola que sobrevive e canta, mas mesmo triste não perde a esperança de voar em árvores de um galho a outro. Segundo o Conselho Nacional da Juventude, na pandemia cresceu a proporção de jovens que pensam em parar de estudar. Além disso, as dificuldades impostas pela crise sanitária causam impactos acentuados na saúde física e mental de pessoas de 15 a 29 anos.

Segundo esse estudo, os principais motivos que levam os jovens a interromperem os estudos são questões financeiras (21%) e dificuldades com ensino remoto (14%). Os principais sintomas são, depressão, angústia, ansiedade e insegurança em relação ao futuro. É imperativo desenvolver ações para ajudar os jovens a lidar com suas emoções e dificuldades. Adultos também são afetados de forma similar.

A falta de perspectivas, tem sido a principal causa do aumento de jovens que pretendem deixar o país que se tornará anêmico nessa verdadeira hemorragia que é a perda de talentos, com perda de inteligência, criatividade e energia. Esse fenômeno pode ser observado em muitos setores e particularmente no desmonte do sistema de Ciência e Tecnologia com a fuga de cérebros para países onde a Ciência é reconhecida como essencial para um desenvolvimento social e econômico pleno. Esse desalento do jovem com o futuro do Brasil, contrasta com a esperança de uma vida digna em outros países. Uma pergunta emerge. O que devemos fazer para que o jovem brasileiro tenha a esperança de viver no seu país com alegrias e dignidade?

Em primeiro lugar é fundamental que os formuladores de políticas públicas apoiem o pleno desenvolvimento dos jovens e garantam que eles possam realizar seus potenciais individuais e coletivos. É preciso que os jovens sejam construtores do próprio futuro, pois eles é que têm mais chances de viver nesse futuro.

Nesse contexto devemos tratar como tesouros as crianças entre 0 a 6 anos (primeira infância) aplicando os protocolos que emergem da neurociência para o desenvolvimento cognitivo pleno. Paralelamente estimular o desenvolvimento da afetividade familiar que seria estendida durante toda a educação fundamental e ensino médio que além da promoção de valores e virtudes, prepararia o jovem para ter um ofício que lhe proporcionasse prazer e vida digna. Todas as crianças e jovens brasileiros teriam à disposição uma educação de qualidade independente de sua classe social.

O emprego seria pleno dentro de um projeto de longo prazo de desenvolvimento com uma economia voltada para o coletivo até a completa extinção da desigualdade social. Em outras palavras, um crescimento com prosperidade para todos. Os salários para quem completasse o ensino básico e o superior seriam equivalentes. O ensino superior seria focado na formação de recursos humanos para que o país possa desenvolver seu projeto de nação cuja meta seria um bem-estar coletivo. O ensino superior não seria uma escada para a ascensão social, mas, sim, um processo de formação de recursos humanos para um bem-estar de todos. A democratização da educação seria o pilar de uma verdadeira democracia como pregava Anísio Teixeira.

Nessa viagem, rumo ao futuro, repleta de incertezas, devemos lutar para que haja transformações que nos levem a refundar a natureza humana. Nesse processo devemos diminuir e eliminar o consumismo excessivo, a perda da noção de comunidade e a desigualdade social.

Vamos acordar e terminar com esse triste pesadelo e sonhar, lembrando o pensamento de Aristóteles: "A esperança é o sonho do homem acordado". Todos devemos ser protagonistas das transformações necessárias, como lembra o pensamento de John Lennon: "É uma falta de responsabilidade esperarmos que alguém faça as coisas por nós". Vamos à luta lembrando, o pensamento de William Shakespeare: "Enquanto houver um louco, um poeta e um amante, haverá sonho e fantasia e enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança". Vamos todos entoar o mantra: "Esperança, esperança, abra as asas sobre nós", para termos um Brasil e um mundo melhor.

(*) Isaac Roitman é professor emérito da UnB, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e do Movimento 2022-2030 o Brasil e o Mundo que queremos.

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