Ideologia fascista e mentira: a receita do ódio
Há tempos reinaram os deuses gregos no Olimpo, Zeus, Hera, Poseidon, Ares, Artemis, Hemes, Afrodite, Apolon, Hestia, Themis, Atena, e tantos outros que glorificavam o bem apesar das maldições que aconteciam pela existência do deus dos infernos, Hades. Hades, outrora fizera parte do néctar e da perfeição do Olimpo, mas assim como Lúcifer, voltou-se contra os que eram do bem e foi morar nos infernos, de onde vem toda força do mal, que é inferior ao sumo Bem.
Sísifo, citado por Albert Camus, é um destes casos assim como Prometeu. O bem e a verdade andam juntos, são pilares da virtude, da ética e do bom caráter. Quando a mentira submerge numa sociedade, na pessoa de um cidadão, ela lustra a fuça e esconde, por tempo determinado, o mal que ela carrega.
Péricles foi um grande político contemporâneo de Sócrates, Platão e Aristóteles. A ele se deve o voto e algumas obras em Atenas. Mas Platão, na “Humana Condição”, de Hannah Arendt, critica Péricles por não ter melhorado a vida dos gregos e a ter deixado pior. A história se repete no palco político brasileiro, onde os cidadãos penam, lutam para sobreviver, vivem o caos, usam o transporte coletivo de péssima qualidade e ainda sofrem injúrias, tratamento hostil e preconceitos no discurso do líder político.
O comportamento do presidente e seu grupo deixa claro os estereótipos defendidos pelo fascismo, ou seja, a vontade de impor a ditadura moderna, a separação dos poderes, o descrédito nas instituições civis e na democracia. Outro fator é o apelo a violência, o desrespeito por gays, lésbicas, o tratamento hostil com palavrório de baixo nível.
Em outra época, o fascismo foi visto como o sumo respeito das liberdades individuais, mas este modo de pensar não está sozinho, está recheado de falsetes do direito e nos meios de comunicação se levarmos em conta os programas sensacionalistas que não acrescentam nada de cultural, apenas contribuem no crescimento do ódio e no orgulho hétero.
Estereótipos e preconceitos fascistas dominam a esfera política quando a educação é falha, escolar e familiar. Arendt, em “O que é política”, ensina que “pensar a política implica enfrentar os preconceitos por razões essenciais, facilitar a substituição pelo autentico julgamento de questões fundamentais e que o importante é acabar com o regime despótico”. Ela afirma ainda, que a política interna é um tecido de mentira, enganação fabricada por sórdidos interesses e uma ideologia de fácil dominação que expõe e incita a violência.
Parece até que Arendt escreveu seu texto para o mentecapto presidente brasileiro. A política interna pretende, num primeiro instante, ser representante do povo, e ela poderia caso respeitasse as regras da democracia, das instituições civis sem linguagem tosca, sem ameaças, sem divisões. Os homens não estão livres do preconceito e que, segundo Arendt, quanto mais os homens se livram do preconceito, menos eles serão adaptados à vida social.
Como sustenta Horkheimer na teoria tradicional e teoria crítica, “insensível a toda realidade intelectual”, despossuído deste fator, “é necessário analisar qual tipo de paz e harmonia se prega ao povo pobre”, se for tirando seus direitos, é pura hipocrisia política que usa, no caso, os evangélicos como escudo. Na verdade, o presidente brasileiro é autor da teoria da ingenuidade, daquela piedade bucólica e morrer aceitando tudo, até a violência e a guerra civil. E a morte se torna banal porque o boçal presidente é a figura do mal em pessoa.
O poder político emerge entre os homens, diz Arendt, e que a violência pode surgir da ideia de um único personagem que cria grupos, por exemplo, de extermínio, de miliciano. A formação de grupos paramilitares, esquadrões da morte, milícias privadas, comando de caça aos comunistas, jagunços, pistoleiros a mando de fazendeiros, a partir de 1964, quando o regime do terror se instalou, o brasileiro virou boneco nas mãos do mal, inimigo por pensar diferente.
Numa pátria homogênea vivem robôs que aceitam “palhaciatas”, execuções à queima roupa, apagão da razão e completa falta de empatia pelo outro. Tornou-se mais fácil matar, seja com tijolo na mão, taco de beisebol, faca ou arma de fogo, o importante é se desfazer do outro, sobretudo se ele pensa diferente e defende igualdade, relações mais humanas, direitos humanos. A impressão que se tem é que o cérebro de quem apoia o presidente brasileiro teve curto circuito, não responde às chamadas que vem do sentimento. Gabinete do ódio, miliciano e bancada da bala são aberrações que não deveriam existir sobretudo num país que se diz cristão.
A ideologia fascista quer aparecer como eclética ao lado da religião, e a religião se torna uma muleta sustentada pelo pastor, o padre e o fiel que range os dentes numa extrema direita completamente cega por pregar o anticomunismo, a negação, o antissemitismo, a antidemocracia. A cultura fascista exalta a ação, a violência, a virilidade, o combate através de um romantismo ilustrado pela anticorrupção, mas, contudo, com a própria corrupção como pano de fundo. Um único exemplo, as rachadinhas da família do senador ranhento que agora inclui o presidente da República como membro ativo desta maracutaia.
E por falar em orgulho viril, do machismo e do ódio contra membros do LGBT, a Hungria é um país de extrema direita que atualmente faz horrores contra homossexuais. Pois bem, um deputado que representa o país no parlamento de Estrasburgo, József Szájer, foi flagrado e preso numa orgia com mais de vinte homens no centro de Bruxelas. O parlamentar tentou fugir, de cuecas, pelo telhado levando apenas uma mochila na qual continha drogas. Foi quando ele mostrou a identidade de imunidade parlamentar.
Szájer que era casado com uma juíza, preferiu nem retornar ao país, a moral tinha descido com a descarga. A moral de quem se orgulha de ser fascista e detesta gays, deve cuidar antes do homossexual enrustido atrás de seus discursos. No partido de Marine Le Pen, na França, o Rassemblement National também se dizia contra até que um dia o membro principal foi fotografado de mãos dadas com seu namorado em Viena.
Para fazer o contraste das conversões e o poder, o asno bípede foi até o rio Jordão, onde Jesus foi batizado por João, munido de pastores nada sérios, muito menos comprometidos com a causa dos pobres, imergiram a cabeça do mentecapto nas águas, e se disse: convertido. Depois disso o convertido pegou em armas, ameaçou enviar umas 30 mil petezada para as covas, mas finalmente, oficialmente e ironicamente, foram mais de 535 mil vidas.
É a conversão genocida. “As Confissões”, de Agostinho, diz que ele, professor de retórica, buscava um tipo de poder que marcasse a história. Pois bem, sem alarde, o moço passou um ano retirado, buscando respostas, e no vazio sereno de suas inquietações encontrou a verdadeira conversão.
Agostinho afirma que vendia a tagarelice até encontrar o sentido real da vida. Já o asno bípede vende Jesus nas palavras e na ação açoita o cofre, a moral, a mente, provoca, tenta impor o medo que outrora nos fez andar de cabeça baixa numa luta pelo retorno da democracia.”
(*) Mário Pinheiro é jornalista pela UFMS, mestre em Sociologia da Comunicação, filósofo e doutor em Ciências Políticas ambos por Dauphine, Paris.