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Novos tratamentos para o Alzheimer: estamos perto da cura?

Marcia Regina Cominetti (*) | 27/07/2023 08:15

Desde que a doença de Alzheimer foi descoberta pelo médico alemão Alois Alzheimer, em 1906, vários tratamentos foram desenvolvidos para aliviar seus sintomas e retardar sua progressão. Dentre eles estão as abordagens farmacológicas e as não farmacológicas. Essas últimas incluem as terapias comportamentais, programas de treinamento cognitivo e intervenções psicossociais, que visam melhorar a qualidade de vida e ajudar os pacientes a lidarem com os sintomas e os desafios diários.

As abordagens farmacológicas para o Alzheimer iniciaram apenas na década de 1990, com os inibidores da colinesterase como donepezil, rivastigmina e galantamina. No início dos anos 2000, a memantina foi aprovada para os casos moderados e graves da doença. Esses inibidores se mostraram eficazes na melhora dos sintomas cognitivos em alguns pacientes. Contudo, eles atuam apenas nos sintomas e não curam a doença.

Após a aprovação da memantina, a área entrou em um período de longa estagnação, com vários estudos clínicos sendo interrompidos por resultados insatisfatórios. Porém, quase 20 anos depois, em 2021, a FDA (Food and Drug Administration), agência americana reguladora de alimentos e medicamentos, aprovou, via mecanismo acelerado, um novo tratamento para o Alzheimer: o Aducanumab.

Ele é um anticorpo que se liga às placas beta-amiloides, estimulando a resposta imune para eliminá-las do cérebro. Como são capazes de retardar a progressão, esses medicamentos são chamados de modificadores da doença. Entretanto, a aprovação do Aducanumab foi alvo de muito debate e controvérsia pelos resultados conflitantes nos ensaios clínicos.

Os estudos prosseguiram com outros medicamentos e, no início deste ano, a FDA aprovou, pelo mesmo mecanismo acelerado, o segundo tratamento modificador da doença: o Lecanemab, que também se liga e elimina as placas amiloides no cérebro. No último dia 6 de julho, o medicamento, que recebeu o nome comercial de Leqembi, obteve aprovação tradicional da FDA. O Leqembi é o primeiro anticorpo monoclonal contra placas amiloides a ser convertido de uma aprovação acelerada para uma aprovação tradicional para o tratamento da doença de Alzheimer.

A eficácia do Lecanemab foi avaliada em um estudo duplo-cego, randomizado, controlado por placebo, com 856 pacientes com doença de Alzheimer e 857 controles. O estudo recrutou apenas pacientes com comprometimento cognitivo leve ou estágio de demência leve, ou seja, o medicamento provavelmente não será útil para pessoas com a doença nas fases moderadas e graves.

Os pacientes que receberam o tratamento tiveram redução das placas amiloides, que se traduziu em menor piora cognitiva, como comprovado por testes neuropsicológicos. Eles declinaram 27% menos que os que receberam placebo, ao longo dos 18 meses do estudo. É essencial entender que não houve melhora cognitiva, mas o tratamento com Lecanemab regrediu o declínio ao equivalente a cinco a seis meses da progressão da doença. Nesse sentido, é importante pensar na redução que esses meses trariam nos gastos em saúde pública com o cuidado das pessoas com a doença – e, mais importante, refletir que esse tempo pode ser, por exemplo, a diferença entre um avô ou avó poder participar do casamento do neto, do nascimento do bisneto, ou de outros eventos significativos da sua vida.

Mas nem todas as notícias são boas com relação a essas medicações. Tanto no tratamento com Aducanumab, quanto com Lecanemab, os pacientes apresentaram efeitos colaterais importantes, como edema e micro hemorragias cerebrais. Outro grande problema é o custo desses tratamentos. A empresa que comercializa o medicamento (Eisai) anunciou, em janeiro de 2023, que seu preço representará um custo anual de tratamento de 26.500 dólares, cerca de 130 mil reais.

Em nosso país, nenhum dos medicamentos foi aprovado. Uma carta da Associação Brasileira de Neurologia dirigida à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) reflete as preocupações da aprovação desses medicamentos no cenário brasileiro.

Apesar das controvérsias, há uma expectativa de que esses tratamentos abram as portas para outros, mais eficazes. Sem esquecer dos problemas relacionados aos efeitos colaterais e à equidade da oferta do tratamento em países de baixa e média renda, dado seu alto valor, é inegável que o momento que vivemos é incrivelmente emocionante e promissor. Há uma esperança real de estarmos vivendo o começo do fim!

(*) Marcia Regina Cominetti é docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar.

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