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O fanatismo e a inteligência nunca habitam a mesma casa

Por Cristiane Lang (*) | 05/12/2024 08:36

A frase de Ariano Suassuna — “O fanatismo e a inteligência nunca habitam a mesma casa” — é um chamado à reflexão sobre os perigos do pensamento extremista e a importância de cultivar a razão, o diálogo e a busca por compreensão. Suassuna, mestre das letras e defensor da cultura brasileira, não escolheu essas palavras por acaso: elas carregam uma crítica sutil e profunda à rigidez mental que sufoca a capacidade de pensar, questionar e evoluir.

O que é o fanatismo?

Fanatismo pode ser definido como uma adesão cega a uma ideia, causa ou crença, sem espaço para questionamento ou para a consideração de outras perspectivas. O fanático, fechado em suas convicções, recusa o debate e a dúvida, substituindo o raciocínio pela repetição dogmática.

Esse comportamento não se limita à religião; ele aparece na política, nos esportes, nas ideologias e até na ciência. Onde há pensamento inflexível e intolerância ao contraditório, há fanatismo.

Por que o fanatismo e a inteligência são incompatíveis?

    1.    O fanatismo rejeita a dúvida, a inteligência a abraça: A dúvida é o motor da inteligência. É ela que nos leva a questionar, investigar e aprender. O fanático, por outro lado, teme a dúvida, pois ela ameaça seu sistema rígido de crenças.

    2.    O fanatismo simplifica, a inteligência complexifica: Para o fanático, o mundo é preto e branco, sem nuances. Já a inteligência reconhece a complexidade da vida e busca entendê-la em todas as suas camadas.

    3.    O fanatismo divide, a inteligência une: O fanatismo alimenta o “nós contra eles”, enquanto a inteligência busca pontes, diálogo e compreensão mútua.

As consequências do fanatismo

Fanatismo é uma força destrutiva. Ele sufoca o pensamento crítico e a criatividade, limita o progresso e fomenta a intolerância. Grandes tragédias da história, como guerras, genocídios e perseguições, nasceram da incapacidade de pessoas ou grupos de enxergarem além de suas próprias convicções.

No nível pessoal, o fanatismo fecha portas. Ele isola, gera conflitos e impede o crescimento intelectual e emocional. Enquanto isso, a inteligência floresce na abertura, no respeito ao outro e na capacidade de dialogar com ideias diferentes.

O que podemos aprender com Suassuna

A frase de Ariano Suassuna nos desafia a refletir sobre nossa própria postura diante da vida. Será que estamos abertos ao novo? Será que temos coragem de questionar nossas certezas? Afinal, não é preciso ser extremista para cair na armadilha de achar que já sabemos tudo.

Ser inteligente, nesse contexto, não significa acumular conhecimento, mas cultivar uma mente curiosa, flexível e disposta a aprender. É reconhecer que a busca pela verdade é um processo contínuo, e não uma conclusão definitiva.

O fanatismo e a inteligência, como bem disse Suassuna, não podem coexistir. Onde há um, o outro não entra. Cabe a nós decidir qual deles queremos acolher. Para que a inteligência prevaleça, é necessário cultivar a humildade intelectual, o respeito às diferenças e o compromisso com a verdade — mesmo que ela, às vezes, desafie nossas crenças mais profundas.

Que possamos, como Suassuna, defender a inteligência, o diálogo e a beleza das ideias que se encontram e se transformam. Afinal, é nessa troca que reside a verdadeira riqueza humana.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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