Os novos médicos desses novos tempos
A pandemia do novo coronavírus que ainda estamos atravessando já é considerada um fato histórico e, inclusive, o grande divisor de águas entre o século 20 e 21. O que estamos vivenciando hoje certamente será assunto das conversas com nossos netos no futuro. Assim como a minha geração ouviu os relatos e muitas histórias sobre as duas guerras mundiais ou a chegada do homem à Lua, por exemplo. Individualmente, todos foram e estão sendo profundamente impactados por essa pandemia que assola um mundo tão conectado. Mas tenho refletido especialmente sobre os novos médicos que estão começando suas carreiras nesse momento.
A emergência sanitária aqui no Brasil fez com que mais de 5 mil estudantes de medicina se formassem antes do tempo para atuar na linha de frente. Uma medida provisória os dispensou da residência e garantiu a conclusão do curso 75% da carga horária cumprida.
Quando vejo esses jovens profissionais dando os primeiros passos na carreira em um momento tão diferente de tudo o que já vivemos, fico pensando sobre a importância da formação médica mais ampla e que extrapole as questões técnicas. Mais do que nunca, os médicos precisam desenvolver habilidades de comunicação que deem conta de lidar com pacientes que trazem ao consultório suas preocupações de todas as ordens.
Na ortopedia, minha especialidade como profissional e professor, lido com pacientes que estão sob efeito da dor ou são submetidos a procedimentos muitas vezes desconfortáveis. A experiência me mostrou a importância da comunicação nessa relação com eles. Costumo dizer que o entendimento é parte do tratamento: saber exatamente porque o seu joelho dói já é meio caminho andado para a cura.
E ninguém melhor do que o médico com uma formação sólida e humanitária para guiar o paciente por esse mar de informações que estamos navegando. Há quem diga que estamos seguindo uma maré que irá nos levar a um futuro profissional em que os empregos de humanos serão substituídos por robôs. Na medicina, acredito mais em um cenário de colaboração das habilidades humanas do profissional com a precisão das máquinas e sua inteligência artificial. Até porque dificilmente um robô será capaz de responder “E agora, doutor?”.
(*) Pedro Baches Jorge é médico, professor universitário e diretor científico da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Trauma do Esporte (SBRATE)