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Prevenção do suicídio

Suely Sales Guimarães (*) | 13/09/2023 06:33

A vida é o que temos e nos faz ser o que somos. Tudo em nós se resume no fato de estarmos vivos e nesse contexto único, algumas pessoas desejam que a vida seja longa, enquanto outras desejam que ela cesse brevemente.

Os motivos que mediam a avaliação da própria vida são muitos e para quem observa são pouco claros. Algumas pessoas vivendo situações tristes e difíceis desejam se manter vivas e confiam em um amanhã melhor. Outras, administram as adversidades como rotinas da vida e usufruem dos bons momentos pouco questionando aqueles mais difíceis.

Algumas pessoas vivem um contexto pleno de regalias materiais, afetivas, saúde e realizações, e se percebem felizes. Outras, em situações semelhantes, desejam que a vida seja interrompida, pois não reconhecem alegria naquilo que vivenciam. Assim, independente do contexto, há sempre pessoas que buscam a própria finitude.

O suicídio ocorre mundialmente, chegando a cerca de 700.000 casos consumados por ano, com predomínio em regiões financeiramente menos favorecidas e entre pessoas mais jovens.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, entre os anos de 2000 e 2019, a taxa de suicídio mundial decresceu, mas aumentou em 17% nas Américas, incluindo o Brasil, onde a maior frequência é descrita entre jovens de15 a 29 anos de idade. E para cada suicídio consumado, ocorrem mais de 20 tentativas, com forte impacto para a família, amigos colegas e todos que tomam conhecimento do fato.

Os possíveis mediadores do suicídio incluem, mas não se limitam, a transtornos depressivos ou condições outras de saúde mental; situações de crise; dificuldades familiares; perdas; solidão, discriminação social; quebra de relacionamentos; dificuldades financeiras; dor ou doença crônica; violência; abuso e conflitos interpessoais entre outros. Por serem muitas e diversificadas as situações e contextos que podem favorecer o ato suicida, o reconhecimento da ideação por terceiros é difícil.

Muitas vezes a pessoa em dificuldade resiste em buscar assistência psicológica ou psiquiátrica, mas mesmo aquelas em acompanhamento podem praticar o ato. Assim, as possíveis medidas preventivas são importantes para toda a população, em todos os contextos.

Qualquer tentativa, ato ou verbalização sugestivos de possível insatisfação com a vida, que possa sugerir o desejo da morte, independente da gravidade percebida, é um sinal de alerta e deve receber imediata atenção e assistência profissional.

Os serviços de intervenção/escuta presenciais ou online, devem oferecer atenção imediata e qualificada para reconhecer a crise suicida e/ou o distresse emocional. A ideação deve ser investigada incluindo o planejamento, se houver, e tentativas já ocorridas, que definirão a gravidade da situação.

Muitas pessoas não têm acesso ao atendimento por questões pessoais ou financeiras, por isso são necessárias campanhas com orientação, informando como é feita a assistência, modos de acesso e localização dos serviços, especialmente aqueles sem custo e abertos ao atendimento individual.

É também importante a conscientização pública sobre o suicídio e eliminação do estigma em relação a pessoas que possam apresentar esse comportamento. A população deve ser orientada sobre formas de escuta, atenção e encaminhamento daqueles reconhecidos como potenciais suicidas.

A atenção oferecida deve buscar os pontos fortes ou positivos da situação, os pontos fracos e difíceis, oportunidades e ameaças presentes, analisar essas variáveis e verificar os recursos disponíveis para que a pessoas possam ser adequadamente acolhidas e encaminhadas.

Os programas assistenciais devem divulgar em mídias sociais, TVs, jornais e toda forma de comunicação, a promoção da resiliência e modos de lidar com diferentes problemas, informar como pode ser feita a busca por ajuda em serviços qualificados e estimular essa busca junto a familiares, amigos e colegas. E toda e qualquer ajuda ou serviço, deve ser oferecido de forma respeitosa, sem questionamento ou críticas.

(*) Suely Sales Guimarães é pesquisadora colaboradora sênior do Departamento de Psicologia Clínica da UnB, Ph.D em psicologia, experiente em docência, pesquisa e assistência clínica em condições de transtornos mentais, sofrimento em condições adversas e psicologia da saúde.

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