Sem protagonismo feminino, permaneceremos arcaicos
Poucos comentários são tão machistas quanto o clichê “atrás de um grande homem, há sempre uma grande mulher”. Esse aforismo, que relega as mulheres a um papel secundário, ainda está presente na política brasileira.
Se, no ambiente corporativo, as mulheres têm conquistado paulatinamente postos de liderança, o nosso campo político-partidário ainda carece do protagonismo feminino.
Exercer a liderança política não é uma condição inata aos homens. Os recentes exemplos da Alemanha, da Islândia e da Nova Zelândia, entre outros, refutam qualquer naturalização desse papel.
No Brasil, embora não faltem exemplos de atuação destacada em todos os espectros políticos, da ex-presidente Dilma Roussef, de Marina Silva à Marielle Franco, ainda estamos longe de alcançar a paridade política entre homens e mulheres.
Independentemente da avaliação que se faça das trajetórias e experiências citadas acima, defender qualquer característica positiva da liderança feminina apenas reforçaria estereótipos. Homens podem ser empáticos, intuitivos, cooperativos e multitarefas. Da mesma forma, mulheres também podem exercer liderança com maestria, seja em que cargo for.
Qual seria então a vantagem de observar a equidade de gênero na política e reverter a sub-representação feminina no Brasil?
Não se trata de uma questão meramente matemática, aproximando o percentual de mulheres nas candidaturas e nos cargos públicos à composição efetiva da sociedade. Este é um aspecto importante da questão, mas não suficiente para conferir protagonismo às candidatas. Os partidos cumprem as cotas e assim cumprem a lei, mas sabemos que nem sempre essas cotas se transformam em espaço partidário e em votação.
Em regra, mesmo quando eleitas, elas não se transformam em líderes de bancadas, de partidos ou do governo. Elas também não são chamadas para compor o primeiro escalão do Poder Executivo. O “machistério” formado pelo ex-presidente Temer virou piada nos meios de comunicação. Tristes trópicos, pois esta é a realidade em nossos secretariados estaduais e municipais.
Diante da constatação de que elas não fazem parte do clube - porque estão trabalhando nos bastidores e dando conta dos afazeres domésticos para que o “grande homem” brilhe no palco da política -, e de que elas têm oportunidades reduzidas de jogar o jogo político, é simples concluir que aumentar a representatividade feminina automaticamente ampliaria o leque de opções para que o eleitorado encontrasse uma boa liderança.
Trazer mais mulheres (e também mais representantes negros, indígenas e LGBTQI+ para a política) resultaria na combinação de diferentes perspectivas para a resolução dos nossos complexos problemas locais, regionais e nacionais. Resultaria ainda em mais identificação entre representantes e representados, conferindo legitimidade democrática ao exercício do poder.
(*) Luiz Cristiano de Andrade é professor de Direito Administrativo da PUC-Rio
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