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Sustentabilidade na agricultura

Fernando Mendes Lamas (*) | 26/11/2020 13:13

A sustentabilidade deve ser vista nas dimensões: econômica, social e ambiental. A dimensão econômica, muitas vezes a mais considerada, é fundamental para a efetividade de qualquer atividade. Toda atividade, precisa proporcionar o retorno financeiro suficiente para garantir a manutenção dos processos e a adequada rentabilidade econômica para os que estão diretamente envolvidos com a mesma. Por sua vez, a dimensão social está fundamentada na capacidade que uma determinada atividade tem para reduzir as desigualdades e/ou proporcionar equidade social, ou seja, proporcionar condições dignas sob os aspectos de saúde, alimentação, educação, moradia, vestuário e lazer, para todos os envolvidos com a atividade. Por fim, a dimensão ambiental está fundamentada na capacidade que uma atividade tem de tomar medidas preventivas para evitar alterações do ambiente que possam perturbá-lo de tal forma a interferir na vida de plantas e animais.

Mais recentemente, a sustentabilidade passou a considerar um novo componente, que é a governança, tornando-se assim mais abrangente. Desta forma, está sendo frequente o uso do tripé ambiental, social e governança – chamado de ESG, como critério de sustentabilidade. Quando se fala em ESG os aspectos observados são os impactos ambientais e sociais da cadeia de negócios, as emissões de carbono, a gestão dos resíduos e rejeitos oriundos de uma determinada atividade, questões trabalhistas e de inclusão dos trabalhadores e a metodologia de contabilidade, ou seja, as práticas de gestão também são consideradas. Com esse novo conceito, a governança interage de maneira transversal e mais forte com as dimensões social e ambiental.

A questão da sustentabilidade vem ganhando a cada dia mais força quando se refere a produção de alimentos, fibra e energia. Com os novos conceitos, a questão quantitativa deixa de ser a variável mais importante da equação de produção agrícola.  Assim, a grandeza de um empreendimento não será mensurada pelo número ou tamanho das máquinas que realizam uma determinada operação no campo, mas sim, acerca de como se dá a produção daquela soja, milho ou algodão, por exemplo. O consumidor de produtos alimentícios que utiliza ovo na sua fabricação, passa a considerar se o ovo foi produzido por galinhas criadas em gaiolas ou soltas. Num outro viés da produção agrícola, o estoque de carbono no solo será cada vez mais importante quando o assunto for sustentabilidade. Práticas agrícolas que aumentam o estoque de carbono no solo, como sistema plantio direto, deverão ser mais valorizadas pelos compradores dos produtos oriundos da agricultura. O sistema plantio direto, aqui sendo considerado o sistema em que não há o revolvimento do solo, no qual o solo fica permanentemente coberto por palha ou vegetais em crescimento e no qual se pratica efetivamente a rotação de culturas, deve ser adotado por aqueles que querem produzir com sustentabilidade. Produtos oriundos de sistemas menos conservacionistas, especialmente em termos de mitigação de gases de efeito estufa como, por exemplo, o CO2, poderão encontrar dificuldades para serem comercializados.

A questão da equidade social também passa a ser considerada como um ponto importante pelos compradores dos produtos oriundos da agropecuária. Assim, o respeito ao ser humano envolvido na produção deve ser considerado, algo simples e que permeia os princípios mais básicos de humanidade. Têm-se observado grandes avanços nesse importante quesito. As condições dos trabalhadores têm melhorado muito e estes têm sido considerados como sujeitos do processo. É claro, ainda existem espaços para melhorias. No entanto, o nível de conscientização está muito melhor e várias organizações de produtores está trabalhando fortemente esta questão.

A governança engloba as questões ambientais, sociais e econômica, pois é através dela que se controla o cumprimento de metas de sustentabilidade de uma empresa. Alguns comportamentos que existiam não são mais aceitos, e as empresas, independentemente de seu porte, precisam mostrar, cada vez mais, que os produtos produzidos são sustentáveis. Juntamente com a sustentabilidade vem a rastreabilidade, que permite ao comprador de qualquer parte do mundo saber em detalhes como a soja e a carne que ele está consumindo foi produzida.

Uma questão de métrica

O ESG foi criado como uma métrica para avaliar o desempenho das empresas dentro da nova perspectiva, onde a sustentabilidade passa a fazer toda a diferença. De uma maneira geral, ainda nos preocupamos muito com a questão quantitativa da produção, especialmente com o "rendimento" kg/ha; arroba/ha, dentre outros. Primeiramente, é importante destacar que nem sempre o maior rendimento físico é aquele que proporciona maior lucro, portanto, quando se analisa apenas a dimensão econômica da sustentabilidade, mesmo rendimentos as vezes alto, podem não ser sustentáveis. Para isso, deve-se lembrar que o lucro é conferido pela diferença entre a receita e o custo para produzir um determinado produto. Além disso, deve-se lembrar ainda que, para obter rendimentos considerados "altos" se faz necessário um input de grande quantidade de insumos e isso muitas vezes pode comprometer a dimensão ambiental da sustentabilidade.

Portanto, a definição de métricas que possam auxiliar na mensuração da sustentabilidade é algo da maior urgência e para isso, faz-se necessária a mudança de conceitos. A demanda por alimentos, fibras e energia é crescente em todos os países do globo terrestre, isso é algo incontestável. No entanto, também aumenta de forma significativa as exigências dos consumidores que querem cada vez mais comprar apenas e somente produtos que tenham sido produzidos de forma sustentável. Se os consumidores têm as suas exigências de sustentabilidade aumentada, os compradores, beneficiadores, os vendedores de produtos agrícolas, ou melhor, para todos os elos da cadeia a questão da sustentabilidade passa ser algo da maior relevância e em algumas situações até questão de sobrevivência. Desta forma, o ESG, está sendo considerado inclusive pelo investidor. Poucos são os investidores mundo a fora que não levam em conta a questão do ESG para a tomada de decisão sobre onde e quanto investir. As empresas, independentemente de seus portes, precisam constantemente mostrar que são sustentáveis sob o ponto de vista ambiental, social e de governança. A agenda de sustentabilidade é uma agenda de produtividade e eficiência.


(*) Fernando Mendes Lamas é pesquisador da área de agricultura

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