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Um dia longo demais

Eclair Nantes (*) | 21/11/2020 09:59

A famosa ativista americana Angela Davis afirmou certa vez, nos anos 60, que “numa sociedade racista não basta não ser racista, é necessário ser antirracista”. Praticamente mais de meio século se passou e a frase ainda ecoa de maneira muito perturbadora porque os fatos insistem em demonstrar que será necessário muito trabalho para reverter esse que é um dos mais dramáticos problemas sociais de nosso tempo.

Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, quando devíamos todos estar celebrando uma data importante de avanço dos direitos humanos, debatendo democraticamente um tema fundamental para superarmos as desigualdades, aumentarmos a inclusão e fortalecermos a luta pela superação dos preconceitos, eis que nos deparamos com a notícia chocante do assassinato de um homem negro em Porto Alegre, praticado por dois seguranças de supermercado, com claro indício de crime de racismo.

Nada mais tristemente simbólico da chocante realidade em que vivemos. Nada mais demonstrável de que ainda precisamos caminhar muito para superarmos estes tempos sombrios, em que a cor da pele determina a ação violenta por parte daqueles que deviam proteger e jamais atacar cidadãos que se encontram no seu livre direito de ir e vir.

Nós, advogados, ficamos envergonhados e perplexos quando nos deparamos com o ódio primitivo derrubando as noções de liberdade, de relação harmônica e democrática, de obediência às leis e de senso de humanidade. Isso nos causa não somente indignação, mas dor e desalento.

Sabemos que o racismo estrutural tem origens na herança escravagista que modelou de maneira negativa a cultura brasileira. Não podemos nos esquecer que o Brasil foi o último País do mundo ocidental que aboliu a escravidão, no final do século XIX. Não podemos desconsiderar que o dia em que se promulgou a lei Áurea ainda não entardeceu para que pudesse amanhecer um novo País.

Continuamos lutando para vencer o terrível estigma do racismo. Queremos que o signo da fraternidade se estabeleça no céu da Pátria para que possamos seguir em frente, pois sem solidariedade humana não haverá espaço para a paz nem para o desenvolvimento de nossas famílias.

Temos que acreditar que amanhã será um dia melhor do que hoje, que homens e mulheres, negros e brancos, vamos nos dar as mãos e comemorar este dia, com a esperança de que é possível estabelecer novos padrões de conduta, nos quais prevaleçam o amor, a paz e o entendimento.

Mas não podemos negar os fatos. O Brasil, infelizmente, permanece um País racista e excludente. Sem diálogo, sem educação abrangente, sem esclarecimento permanente, veremos todos os dias, todos os meses e todos os anos a repetição da mesma estupidez e da mesma barbárie.

Não podemos aceitar que esse dia se repita.


(*) Eclair Nantes é Secretária-Geral Adjunta da OAB/MS

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