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NOVEMBRO, QUINTA  21    CAMPO GRANDE 24º

Beba das Crônicas

A vida passa ligeira, o amanhã já aparece nos vãos da janela...

André Alvez | 06/02/2021 09:31

Quando eu tinha vinte anos, chamava de velho todas as pessoas de quarenta. Para o jovem que eu era, tudo era ultrapassado naqueles senhores e senhoras tragando cigarros pelas ruas da cidade.

Aos vinte e cinco eu já fumava e bebia, mas nunca nas calçadas, preferia as mesas de bar, de onde, entre uma tragada e um gole de cerveja, olhava com desdém quem tinha cinquenta: Insuportáveis, metidos a tudo entender - eu dizia, entre os dentes cerrados -.

Quando fiz trinta, comecei a mirar nas pessoas de sessenta; considerava a turma toda uma velharada ultrapassada e decadente, prontas para a morte.

Quando fiz quarenta, meu alvo eram os velhinhos de setenta; povo chato, pé na cova, humanos obsoletos.

Agora, aos cinquenta, quando o caminho de ida acabou e a curva da volta apertou meus calcanhares, relembro o rapaz babaca que fui aos vinte anos, guri idiota que não entendia nada sobre os reais sentidos da vida e pouco aproveitou as chances ofertadas.

Quando fizer sessenta, volto aqui para falar mal das pessoas de trinta, porque elas sempre se acham as melhores em tudo e não percebem a cabeça já um tanto cansada.

Aos setenta, falarei mal da turma de quarenta, certamente os mais insuportáveis de então.

Se fizer oitenta, não livrarei maledicências dos de cinquenta.

E se por acaso atingir os noventa, não me procurem, estarei escondido dentro de uma caixa, com medo dos pensamentos do guri de vinte anos morador da casa da esquina...

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