Clarice, licença poética: o último minuto da estrela
Era final do dia, o sol jogou reflexos no meu rosto e dela só vi o vulto. (explosão) O baque, o corpo caído, a testa enorme jorrando sangue.
- Foi ele, o taxista, alguém gritou. Parei o carro. Ninguém ousava se aproximar. Ela, sorriso de quase morta, na boca torta uma espécie de vômito, refluxos de sangue, os dedos trêmulos apontando o homem magro de paletó tocando violino na esquina.
- Moça, como é o seu nome?
- Macabéa
- Maca o quê?
- Béa
- Bia?
- Béa, Macabéa.
- Espere, respire, não vá morrer.
Ela então encarou fundo os meus olhos, era feia, mas formou-se bela no último respirar.
Crepúsculo, o fim da sentença de vida.
Do outro lado da cidade, um escritor (ou seria escritora?) retirava da testa, com as costas das mãos, as grossas gotas das lágrimas de febre.
Era tempo de morango e a fina flor da fruta balançava após a janela.