Aldeias tem “imunidade coletiva”, mas quem recusa vacina segue vítima da covid
Grupos indígenas, incluídos no PNI, foram amplamente vacinados em MS e óbitos, no geral, tiveram redução
Segundo o governo estadual, há 15 dias, Mato Grosso do Sul não registra mortes por covid-19 em indígenas. Foi atingida “imunidade coletiva” da população indígena frente à pandemia da covid-19, já que 98% do público apto a tomar vacina recebeu a primeira dose e 83% foram completamente imunizados.
No mês passado, foram quatro óbitos mapeados pela SES (Secretaria Estadual de Saúde), sendo que dois eram, justamente, de vítimas que tinham se recusado a completar o ciclo vacinal.
Segundo dados anônimos da pasta, que não informam quem recusou ou não a vacina, uma das vítimas era uma mulher, de 76 anos, que morava na Aldeia Moreira, em Miranda, que foi a óbito em 2 de julho. Dois dias depois, foi a vez de um homem, de 58 anos, morador do Núcleo Habitacional Universitário, em Campo Grande.
Os outros óbitos são de uma idosa, de 102 anos, que morava em Dourados, vítima também em 4 de julho, além de um homem, de 63, que morava em Naviraí e morreu em 21 de julho.
Ainda que não representem total proteção contra o coronavírus, as vacinas têm feito com que as mortes, em geral, no último mês, reduzissem em todo Estado. Conforme já noticiado pelo Campo Grande News, cerca de 97% das vítimas neste ano são pessoas que não haviam se imunizado.
Campanha - Os indígenas, por uma série de fatores históricos, sociais e sanitários, foram incluídos como um dos primeiros grupos prioritários no PNI (Plano Nacional de Imunização), já que também possuíam taxas de letalidade e mortalidade, estatísticas que consideram dados proporcionalmente maiores em relação à demais etnias.
Na prática, segundo levantamento feito pelo Campo Grande News, a chance de um infectado morrer pela doença era quase duas vezes superior, por exemplo, em 2020, quando ainda não havia vacina.
A enfermeira Indianara Ramires Machado Kaiowá, de etnia Guarani-Kaiowá, em Dourados, explica que esse bom índice em grupos indígenas só foi possível por conta de ações individuais tomadas por agentes públicos da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), da própria SES, como também do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), ainda que haja, em pouco nível, uma certa recusa pela vacina.
Segundo ela, isso se dá por conta de discursos negacionistas de quem é contrário às vacinas, por exemplo, além da falta de informação adequada. “Ocorre que ainda tem essa negativa e quando você vai investigar mais a fundo, essa negação é em decorrência dessa negação política [...] algumas determinadas igrejas que ainda não aceitaram”, exemplifica.
Além disso, ela também ressalta que alguns dos principais desafios da saúde indígena ainda permanecem, tais como a falta de recursos hídricos e insegurança alimentar. “Os desafios permanecem nessa pandemia, que é a falta de água na comunidade. Ainda falta muita água nas comunidades, embora tenham realizado algumas ações na tentativa de minimizar esse problema, mas ainda é bastante grave”.
Há também desafios com segurança alimentar, educação. Na pandemia, ficou bem nítido nessa questão da insegurança alimentar das famílias. Então, muitos agentes de saúde tiveram que buscar apoio de fora, na tentativa de tentar ajudar as famílias das micro áreas”, explica Machado.
Com redução de aproximadamente 72% nos casos e de 43% nos óbitos em todo Estado, ao menos, oito cidades, dos 30 municípios que têm aldeias registradas, não atingiram índice de 80% de indígenas imunizados com duas doses ou vacina única. São elas: Coronel Sapucaia, Anastácio, Nioaque, Porto Murtinho, Maracaju, Douradina, Dourados e Rio Brilhante.
Ações - Segundo o próprio governo, foram adotadas outras ações de prevenção à doença nas aldeias, tais como a implementação do "Programa Vigilância Sentinela Indígena", em parceria com o DSEI-MS (Distrito Sanitário Especial Indígena), que possibilitou realização de testagem e monitoramento de casos, além da disponibilização de insumos em geral.
Em relação a imunização, a SES disponibilizou veículos para que as equipes de vacinação pudessem fazer busca ativa de pessoas não vacinadas nas residências, explicando a importância de receber as doses.
Por fim, segundo o governo de MS, quase 95% das mortes ocorreram mesmo com hospitalização e 5% não chegaram a ter assistência médica.