Após reduzir média de idade, covid volta a fazer vítimas com mais de 60 em MS
Mudança no perfil de mortes registradas em decorrência da covid acende alerta para que população se cuide
As vítimas da covid-19 em Mato Grosso do Sul têm sido cada vez mais velhas, diferente da situação verificada entre janeiro e maio, quando as mortes de pessoas abaixo de 60 anos ficaram mais comuns.
No começo do ano, as vítimas tinham em média 69 anos. Até o quinto mês de 2021, a média de idade teve redução e chegou a ficar abaixo da faixa dos 60 anos. Em junho, ela ganhou um ano de idade e no mês seguinte, mais dois.
Levantamento feito pelo Campo Grande News, com base em dados divulgados pela SES (Secretaria Estadual de Saúde), verificou que, em média, as vítimas de coronavírus tinham 62 anos no último mês. Com apenas quatro dias registrados, o mês de agosto foi desconsiderado, porque há muitas informações ainda represadas, que dependem da realização de exames e que deverão ser incluídas nos próximos dias.
A reportagem disponibiliza, no gráfico a seguir, a média de idade em cada mês completo do ano de 2021. Em seguida, a visualização também indica o total de óbitos verificados, de forma a contextualizar as informações de forma proporcional.
É importante destacar que, em geral, as mortes têm caído cada vez mais por conta do avanço na campanha de vacinação contra a covid-19, que tem atingido grupos ainda mais jovens - em Campo Grande, por exemplo, vacinam hoje (dia 4), pessoas com 26 anos ou mais. Em quase metade dos municípios do interior, a faixa etária já é de indivíduos acima dos 18.
A tendência do envelhecimento dos casos mais graves da doença é verificada também em outros estados brasileiros. Segundo a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), o Rio de Janeiro registrou, em julho, aumento de hospitalizações por síndrome respiratória aguda grave, com exame confirmado de covid-19, entre idosos.
Ainda que haja essa inclinação, os dados ainda não foram consolidados e muitos fatores podem contribuir para essa mudança. O pesquisador da Fiocruz e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Julio Croda, pontua que, passados sete meses de vacinação, idosos podem apresentar “imunossenescência”, uma alteração no sistema imunológico relacionada com um envelhecimento do mesmo e consequente declínio da proteção fornecida pelo imunizante.
Benefícios da vacinação - Apesar disso, o dado apresentado pode indicar também que os antígenos têm sido cada vez mais importantes para a proteção dos jovens que já foram vacinados. “Maior proteção para os jovens, por isso, abaixam e sobem [os índices] à medida que se vacinam eles", diz Croda.
Segundo apurou o Campo Grande News no mês retrasado, cerca de 97% das pessoas que morreram de covid-19, entre janeiro e junho deste ano, não tinham tomado as duas doses de vacina e passados 15 dias após a segunda aplicação, garantindo maior eficácia do imunizante.
Naquele momento, especialistas apontaram que as vacinas podem estar relacionadas com a queda nos casos graves da pandemia, ainda que não sejam garantia de 100% de proteção em nenhuma faixa etária.
Em parte do ano, as mortes por covid-19 em Mato Grosso do Sul passaram a ser mais frequentes em pacientes com menos idade. Várias pessoas com 90 anos ou mais foram protegidas durante o início da vacinação, por exemplo, em meados de março.
Em abril, foi noticiada a redução de vítimas idosas, acima de 80 anos, enquanto jovens eram cada vez mais afetados pelo coronavírus, muito por conta da variante P1, que se espalhava em território sul-mato-grossense.
Em maio, por exemplo, a maioria das vítimas passou a ser pessoas com menos de 70 anos. No mês seguinte, as mortes de pacientes com 60 anos ou mais também apresentaram leve redução, mas grande parte ainda não estava totalmente imunizada.
Segundo o médico infectologista Rodrigo Nascimento, para além dos cuidados básicos de prevenção, que têm de ser tomados mesmo após ser imunizado, como uso de máscaras adequadas, higiene das mãos e evitar ambientes fechados e com aglomeração, a campanha vacinal precisa ser bem estruturada para garantir a imunidade coletiva e evitar mutações do vírus.
"Tem que fazer uma campanha vacinal mais rápido possível e na maior quantidade de pessoas possível. Tem que ser massificada, como aconteceu em algumas doenças que já foram erradicadas, como poliomelite, sarampo ou varíola", explica.
Com pouco mais de 80% da população adulta vacinada com, pelo menos, uma dose, além de quase 46% dos indivíduos acima dos 18 anos imunizados com duas vacinas ou dose única, a expectativa do governo de Mato Grosso do Sul é vacinar quase toda a população até o final de agosto, garantindo a "imunidade de rebanho".