ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  18    CAMPO GRANDE 20º

Meio Ambiente

Abaixo-assinado contra prédios tem 8,3 mil assinaturas

Documento dos grupos Amigos o Parque dos Poderes e SOS Parque dos Poderes já teve 60 apoios somente hoje (16)

Por Mylena Fraiha | 16/04/2025 12:58

Dois grupos de defesa ao Parque Estadual do Prosa, em Campo Grande, lançaram um abaixo-assinado digital para impedir a construção de grandes empreendimentos no entorno do Parque dos Poderes. O documento, elaborado pelos movimentos Amigos do Parque dos Poderes e SOS Parque dos Poderes, já contabiliza 8.363 assinaturas, sendo que, somente nesta quarta-feira (16), 60 pessoas assinaram.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

Um abaixo-assinado contra a construção de grandes empreendimentos no entorno do Parque dos Poderes, em Campo Grande (MS), já alcançou 8.363 assinaturas. A iniciativa, dos movimentos Amigos do Parque dos Poderes e SOS Parque dos Poderes, ganhou força após o Ministério Público estadual recomendar a suspensão de procedimentos de verticalização na região até a regulamentação da zona de amortecimento. O MP estabeleceu critérios técnicos, como limite de 12 metros para altura das edificações e densidade máxima de 120 habitantes por hectare. Especialistas alertam que os empreendimentos previstos - cerca de 12 prédios que concentrariam 100 mil pessoas em 13 hectares - ameaçam 262 espécies de aves e podem causar graves problemas de trânsito na região, que é classificada como área de baixa densidade populacional pelo Plano Diretor.

Nas redes sociais, ambos os movimentos retomaram a divulgação do abaixo-assinado, iniciado em novembro do ano passado, mas que voltou à discussão após o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) expedir recomendação ao Governo do Estado e à Prefeitura de Campo Grande para que sejam suspensos os procedimentos relacionados à verticalização no entorno do Parque Estadual do Prosa, até que seja feita a regulamentação da zona de amortecimento da área.

Expedida pela 34ª e 26ª Promotorias de Justiça de Campo Grande, a medida foi publicada no Diário Oficial do MP desta quarta-feira (9). A recomendação é direcionada ao governador Eduardo Riedel (PSDB), ao secretário da Semadesc (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), ao diretor-presidente do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) e ao presidente do Conselho Gestor do Parque Estadual do Prosa.

O documento estabelece que a regulamentação da zona de amortecimento deve ser feita no prazo de até dois meses, seguindo uma série de critérios técnicos, como:

  • Limitação da densidade demográfica líquida a 120 habitantes por hectare;
  • Estabelecimento de percentual mínimo de 40% de permeabilidade do solo, sem possibilidade de substituição em outro imóvel;
  • Redirecionamento do fluxo viário originado de outras regiões, de forma a evitar cruzamentos em vias marginais ao parque, incluindo a Avenida Desembargador Leão Neto do Carmo e a Avenida do Poeta.

O MP também recomenda que todas as obras públicas e privadas sejam compatíveis com as diretrizes previstas para a zona de amortecimento, sendo exigidos estudos de impacto de vizinhança e de impacto ambiental. Outro ponto importante é a definição de parâmetros para altura das edificações, limitada a 12 metros, além da proibição de fachadas espelhadas ou envidraçadas, com exceção de quando forem adotadas soluções que evitem a colisão de aves.

Enquanto a regulamentação deve ser conduzida pelo Estado, a recomendação também abrange a administração municipal. Os promotores Luiz Antônio Freitas de Almeida e Luz Marina Borges Maciel Pinheiro solicitaram que a prefeita Adriane Lopes (PP), a diretora-presidente da Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano) e o secretário da Semades (Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável) suspendam a emissão de guias e alvarás de construção na área, incluindo as licenças prévias já concedidas, até que haja regulamentação da zona de amortecimento da unidade de conservação.

Após a regulamentação, o MPMS recomenda que os órgãos municipais reavaliem as autorizações concedidas ou em análise, com aval do Conselho Gestor da Unidade de Conservação, para garantir adequação às novas normas. A prefeitura tem 30 dias para informar ao Ministério Público se irá acatar a recomendação, que, embora não seja obrigatória, pode embasar futuras ações judiciais em caso de descumprimento.

Um dos fundadores do movimento Amigos do Parque dos Poderes, Alfredo Sulzer, avalia de forma positiva a decisão do MPMS, mas a vê como “um freio momentâneo”. “A promotoria colocou um freio nesse momento que vai nos dar oportunidade, talvez, de fazer uma reflexão. Talvez aí a Câmara dos Vereadores, a Prefeitura e o Governo do Estado reajam”, comenta. “Se a gente não colocar o freio com esse que está sendo colocado pela promotoria, daqui a dois anos nós não vamos ter mais sol. Vai ser só sombra no parque”, complementa Alfredo.

Ele aponta que os grupos, tanto os Amigos do Parque dos Poderes quanto o SOS Parque dos Poderes, têm se mobilizado para conservar a região e manter o local para as futuras gerações. “Eu sou corredor de rua desde que me conheço por gente. Então, o parque sempre foi um lugar onde fui treinar, correr. Meus filhos correm também. Quero que tudo aquilo continue para os meus netos”.

A arquiteta e representante do SOS Parque dos Poderes, Luza Basso Driessen, afirmou que a medida do Ministério Público “é de extrema importância”. “Trata-se de garantir o direito ao crescimento de uma cidade sustentável, atendendo ao desejo da população por medidas de preservação do patrimônio natural. É fundamental que a Zona de Amortecimento seja regulamentada, com parâmetros construtivos que assegurem sua preservação de fato, e que sejam realizados estudos que considerem os efeitos globais e cumulativos de todos os empreendimentos previstos para a região”.

Luza também destaca que o local é hoje frequentado por grupos de esporte, como corredores e ciclistas, além de ser um espaço de lazer, justamente por ter temperaturas mais amenas graças à vegetação e aos cursos d’água que cortam a região.

“É um local onde ainda temos o privilégio de encontrar animais como anta, tamanduá-bandeira, tamanduá-mirim, araras, entre outros, dentro da área urbana. Em que outra cidade isso ainda é possível? As pessoas percebem que essa paz e biodiversidade estão ameaçadas. Esta é uma luta dos moradores, mas também de todos que apreciam o Parque dos Poderes exatamente por ele ainda manter características de preservação”, opina a representante do SOS Parque dos Poderes.

Interessados em saber mais sobre o abaixo-assinado e assiná-lo podem acessá-lo por meio deste link.

Impactos apontados - O caso já foi discutido em audiência pública na Câmara Municipal, proposta pela vereadora Luiza Ribeiro (PT), realizada no dia 4 de abril deste ano. Na ocasião, foi mencionado que cerca de 12 prédios - com aproximadamente 100 mil pessoas concentradas em apenas 13 hectares - estavam previstos para construção, contrariando o Plano Diretor, que classifica a região como Macrozona 3, de baixa densidade populacional.

A bióloga e pesquisadora do Instituto Mamede de Pesquisa Ambiental e Ecoturismo, Maristela Benites, que também realizou um levantamento sobre as aves da região, destacou que a área abriga mais de 262 espécies e é um dos principais espaços de lazer da população local, representando 65% das espécies catalogadas em Campo Grande.

Maristela alertou ainda que o parque recebe muitas aves migratórias e que a construção de prédios altos, especialmente com fachadas espelhadas, pode causar colisões e mortes desses animais.

Outro impacto discutido foi no trânsito da região. Morador local e engenheiro civil, Thiago Macinelli apresentou um estudo próprio e mencionou que seriam necessárias mais 44 faixas de trânsito para atender à demanda gerada pelos novos empreendimentos.

“Se colocarmos 100 mil habitantes no entorno, serão 75 mil carros. Vai gerar um trânsito enorme. O servidor do TCE não vai conseguir chegar ao trabalho, o do TJ também não, nem os desembargadores. E, além disso, vamos acabar atropelando vários animais”, alertou.

A reportagem entrou em contato com a Semadesc (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), representando o governo estadual, e com a Prefeitura de Campo Grande para saber se ambos já estão cientes da recomendação, se há previsão de suspensão das obras e qual é o posicionamento sobre o assunto. O espaço segue aberto.

[**] Matéria editada às 14h30 do dia 16 de abril de 2025 para acréscimo de resposta da representante do SOS Parque dos Poderes.  

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias