Chegar em casa "são e salvo" é conquista para quem corre risco diário nas ruas
Insegurança e trânsito tumultuado são os maiores desafios enfrentados por entregadores e motoristas de app
Insegurança, chuva, frio, falta de valorização e trânsito tumultuado. Esses são só alguns dos desafios enfrentados diariamente pelos motoentregadores e motoristas de aplicativos de Campo Grande.
Para muitos, o dia começa já no raiar do sol, e ao final do dia ou até da noite o que mais querem é chegar em casa com segurança e dinheiro no bolso para manter a família. No entanto, o percurso é longo durante as horas trabalhadas, passando por altos e baixos.
Raul Araujo, de 30 anos, é entregador há 3 anos. Ele define o dia a dia como “puxado”. Na rua, começa a trabalhar às 10h e segue até às 15h. Na parte da tarde, edita vídeos que ele produz mostrando a rotina da profissão, depois às 19h, começa as entregas novamente e volta para casa às 23h.
“Chegar em casa com segurança é o principal objetivo do dia pois enfrentar o trânsito por muitas horas seguidas é extremamente estressante e arriscado, então, nada melhor do que conseguir bater a meta financeira do dia e voltar pra casa com segurança”, destacou.
Sobre a renda, ele conta que a média é de R$ 200 por dia para arcar com os custos de operação e, aí sim, tirar o lucro líquido.
Os ganhos são variáveis, pois de acordo com Raul, dependem de uma série de fatores, como: restaurantes que demoram a preparar os pedidos e clientes que demoram para receber seus pedidos.
Ele lembra que a pior experiência no trânsito foi um acidente que sofreu há muito tempo, quando um carro bateu na traseira da moto.
A palavra dificuldade anda lado a lado com a profissão, são tantas as situações que passamos em nosso dia a dia. Sofrer acidentes sem dúvida é a maior dificuldade, danifica seu bem de trabalho, machuca seu corpo e acaba atrapalhando e atrasando seus ganhos e desempenho financeiro. Já furei pneu em regiões totalmente afastadas, enfrentar a chuva e o frio também é algo muito difícil”, lamentou Raul.
Apesar de todos os receios e dificuldades, ele reconhece que é essa profissão que dá o sustento. “Se trabalhar com inteligência e uma boa administração, é possível conquistar grandes coisas, uma profissão que às vezes é mal vista pela sociedade com seus prejulgamentos, mas que existem muitos pais de famílias, pessoas honestas e batalhadoras. É uma profissão que não é fácil de executar, porém, é possível extrair bons frutos disso tudo”, concluiu.
O motoboy Vitor Hugo Teodoro, de 25 anos, trabalha das 8h até 00h, com direito a uma pausa. A média diária dele é de R$ 150.
"Essa profissão tem um estresse diário todos os dias. O trânsito de Campo Grande é muito complicado, já sofri acidente enquanto fazia entrega, mas graças a Deus foi só um ralado. Eu cuido para que nada aconteça comigo, o intuito é sempre chegar em casa com saúde e bem fisicamente. Tenho dois filhos que dependem de mim, trabalho para sustentá-los", destacou. Ele mora no Aero Rancho e passa, geralmente, por mais de 10 bairros todos os dias.
Outro exemplo é o motorista de aplicativo Nilson Batistoide, de 50 anos. Ele começou a trabalhar na área durante a pandemia, em 2020. Antes, trabalhava assando carne e fazendo alguns bicos, mas como proibiram as festas e reuniões, acabou partindo para esse “mundo”.
"A profissão já foi melhor, hoje em dia tem que escolher bem a corrida. Graças a Deus eu nunca me envolvi em acidente, mas estresse a gente sempre passa, principalmente quando tem passageiro embarcando ou desembarcando no Centro. Lá não tem local para pararmos, e tem bastante fiscalização. Ás vezes chega alguém sem educação, achando que tem razão no trânsito e você tem que se virar para continuar com o trabalho de forma tranquila”, pontuou.
Sobre a rotina, Nilson afirma que começa a trabalhar logo cedo e vai para a região do Aeroporto esperar uma corrida.
“Aqui saem as corridas melhores e mais longas, mas eu pego de tudo, rodo a cidade, vou até a Moreninhas, Nova Lima, tudo. No meio da manhã, o movimento dá uma parada e o aplicativo volta a ‘pipocar’ na hora do almoço, que é quando os estudantes saem da aula”, detalhou.
A renda por dia também é variável. O bruto fica em R$ 350, mas com o que deve retornar para o aplicativo, o gasto com a gasolina e manutenção, o ganho cai para R$ 150.
“Mais de R$ 5 mil limpo é impossível de tirar. Hoje, essa é a profissão que paga minhas contas, é a minha renda principal”, disse.
Cenário – De acordo com o presidente da Applic-MS (Associação de Parceiros de Aplicativos de Transportes de Passageiros e Motoristas Autônomos de Mato Grosso do Sul), Paulo Pinheiro, no Estado, são em torno de 35 mil trabalhadores nesta área. Em Campo Grande, são 2 mil entre entregadores e os que trabalham com transporte de passageiros sob duas rodas.
“O maior desafio que a gente sente diariamente é a questão da segurança no trânsito, é muito grande, é muito forte. Muitos deles trabalham em dois ou três lugares para poder se manter, manter a família”, afirmou.
Ele também ressalta que muitos migraram para a profissão de motorista de aplicativo por meio da moto. São dois motivos relatados: passageiros estão pagando mais barato na corrida de moto e também o aluguel mais em conta.
“O valor de corrida de um carro para a moto fica em torno de 15% mais em conta para o passageiro. Por isso que muitos migraram, compensa mais para o passageiro. Para o trabalhador também compensa, a moto é muito econômica. A manutenção é 80% mais barata que o carro. Inclusive, quem trabalha com locação, enquanto a moto é R$ 200 por semana, no carro é R$ 600 por semana”, pontuou.
Paulo também ressalta que é necessário ter mais campanha para conscientização com referência ao motorista de aplicativo e entregadores.
“Quanto mais entrega, mais ganha dinheiro. Mas isso pode trazer sérios riscos à vida. A gente tem que saber que a vida é uma só, que a gente possa ter consciência disso e que possa fazer mais campanhas”, finalizou.
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