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Cidades

Com seis facções agindo em MS, organizações crescem onde a segurança falha

Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital são as maiores e que dominam maior parte dos detentos

Por Lucia Morel | 02/03/2024 12:58
Emblemática, foto mostra detento segurando cabeça em rebelião de 2006 na Máxima de Campo Grande. (Foto: Minamar Júnior/Arquivo)
Emblemática, foto mostra detento segurando cabeça em rebelião de 2006 na Máxima de Campo Grande. (Foto: Minamar Júnior/Arquivo)

Mato Grosso do Sul tem duas facções nacionais e quatro regionais atuando nos presídios do Estado, segundo dados do Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais) encaminhados ao Jornal O Estado de São Paulo. Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital são as maiores e que dominam maior parte dos detentos.

As outras quatro – “Os mano”, do Rio Grande do Sul; Primeiro Comando Catarinense, de Santa Catarina; Sindicato do Crime, do Rio Grande do Norte; e Bonde do Maluco, da Bahia – surgem com a chegada de quem é ligado a elas ao Estado e ao serem presos, dizem representar essas facções.

Segundo a doutora em psicologia, Mônica Leimgruber, pesquisadora na área de organizações criminosas, o domínio em MS é do PCC, com maioria dos presos ligados a ele. Segundo ela, foi com a rebelião no Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, em 2006, que a organização começou a tomar espaço no Estado, antes liderado pelo que se chamava Primeiro Comando de Mato Grosso do Sul.

“As facções chegam a vão tendo mais adeptos e dentro do sistema prisional. É nesse meio que surgem as maiorias das facções. Ali dentro, quando chegam e dominam, os detentos vão se faccionando e a organização expandindo”, explica e pesquisadora, enfatizando que “toda região de fronteira é de interesse das facções, assim como áreas de rio e portuárias”.

Segundo ela, aqui em Mato Grosso do Sul, a morte de  Jorge Rafaat Toumani, o “Rei da Fronteira”em junho de 2016, reorganizou a a atuação das facções. Ele deixou de ser o “entreposto” entre os fornecedores de drogas e as organizações criminosas, ou seja, estas poderiam agora negociar diretamente com os produtores e fabricantes, sem a mediação de Raffat, o que aumenta o lucro.

“Essas organizações vão se estabelecendo e criam seus próprios estatutos e leis. Os integrantes obedecem essas leis, que estão acima das leis de Estado. Elas vão se fortalecendo onde o Estado é falho. Aqui no nosso Estado, assim como outros, sofre com a superlotação carcerária, o que contribui com essa realidade do aumento no número de adeptos”, enfatiza Leimgruber.

A pesquisadora comenta ainda que o fato de Campo Grande ter um Presídio Federal aumenta a chance da atuação das facções, porque os presos considerados mais perigosos do País estão aí e “quando eles chegam, trazem toda uma estrutura, desde famílias até as lideranças das facções que representam”, comenta.

Prejuízos – Os presídios, a população e as cidades como um todo sofrem com a presença dessas facções. As regras próprias, ao serem consideradas maiores que as leis estatais, formam pessoas que vão sempre atuar no crime, fazer disso uma profissão. Assim, a segurança pública como um todo fica ameaçada.

“A atuação deles é na criminalidade, 100%. É no tráfico de drogas e armas. Algumas atuam no tráfico de seres humanos, na lavagem de dinheiro e isso prejudica o cidadão em toda a esfera social”, diz Mônica, que ainda estabelece que, dentro dos presídios há riscos, caso haja ordens das lideranças “de cima, eles vão cumprir”.

“As organizações sempre vão precisar de mais trabalhadores e se tiverem ordens de rebelião, vão cumprir”, cita, dizendo ainda que aqui em MS, os agentes de segurança pública têm e impõe respeito às facções, porque é um trabalho que as próprias facções reconhecem que funciona”, ressalta. Dessa forma, isso de alguma maneira, inibe as ações para severas das facções em MS.

Imagem: Reprodução Estadão
Imagem: Reprodução Estadão

O relatório obtido pelo Estadão cita cinco medidas para reduzir a força das facções nos presídios. A primeira seria ampliar a capacidade do sistema. Dados do CNJ dão o tamanho do desafio: o deficit é de cerca de 191 mil vagas.

Além disso, recomenda criar um procedimento-padrão dentro das prisões; fiscalização de presos no semiaberto e aberto por meio de monitoramento eletrônico; oferta de trabalho e educação e integração das forças policiais para combate ao crime organizado.

Agepen - O diretor-presidente da Agepen ( Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), Rodrigo Rossi Maiorchini informou que "a posição estratégica de Mato Grosso do Sul, por se tratar de estado fronteiriço com países sabidamente relevantes em questão de comercialização de entorpecentes (Paraguai e Bolívia), faz com que diversos criminosos de outras regiões acabem ficando reclusos em MS após suas prisões aqui" e muitos deles são ligados a organizações criminosas.

Ele reconhece que as duas mais fortes em MS são o PCC e o CV, mas que existem outras três, mas "em bem menor número". A Agepen, segundo Maiorchini, realiza ações frequentes para combater o aumento de faccionados no Estado "apesar do aliciamento das facções, principalmente PCC e CV, para angariar novos integrantes".

Entre as ações estão: transferências que coloquem em risco unidades mais frágeis; identificação e “isolamento” de lideranças com mais efetividade; e constantes revistas gerais para apreensão de ilícitos. Para ele, "a presença de faccionados sempre traz preocupações", mas o trabalho constante e efetivo, inclusive com ajuda de outras forças de segurança, dá "certa estabilidade dentro e fora das unidades prisionais, visto a desarticulação de importantes núcleos que porventura pudessem orquestrar atos contra a segurança pública".

Matéria editada às 16h19 para acréscimo de reposta da Agepen.

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