Em júri, acusação leva bacia onde menino morreu para mostrar crueldade do crime
De olhos fechados e chorando, Thayelle acompanhou descrição de como filho foi morto pelo ex-companheiro
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A bacia azul usada para matar Miguel Henrique dos Santos Zenteno, assassinado pelo pai aos 2 anos de idade, era o símbolo materializado da dor da mãe da criança, que assiste ao julgamento esta manhã, em Campo Grande.
A bacia foi levada pela promotora Luciana Rabelo para demonstrar como Evaldo Christyan Dias Zenteno, 23 anos, matou o filho de forma cruel. O crime aconteceu no dia 12 de setembro de 2019, por inconformismo e vingança pelo rompimento da relação com Thayelle Cristina Bogado dos Reis.
Antes disso, ainda durante a introdução da fala da promotora Luciana Rabelo, Thayelle ouviu de olhos fechados como o filho foi assassinado. A perícia indicou que Miguel, que tinha cerca de 62 centímetros e não cabia na bacia, teve a cabeça empurrada, sendo afogado por cerca de 10 minutos.
A promotora lembrou do socorro no dia do crime, 19 de setembro de 2019, quando a criança foi levada à Santa Casa. As manobras de salvamento foram realizadas por 13 minutos, mas a criança morreu.
Miguel tinha líquido no pulmão e nenhuma lesão que comprovasse a primeira versão de Evaldo, a de que o filho foi retirado dos seus braços por assaltantes e arremessado no córrego.
Thayelle chorou quando ouviu a promotora falar que Evaldo matou o filho para se vingar da dela. "É repugnante alguém matar uma criança para atingir a mãe". Segundo a denúncia, o crime foi cometido como vingança da ex, de quem estava separado havia dois meses.
A toda citação que se referia à morte do filho, como “afogamento”, “assassinato”, “corpo rígido”, a jovem fechava os olhos.
Logo depois, a bacia azul foi levado ao plenário, momento que Thayelle se levantou e saiu, voltando alguns minutos depois, quando a promotoria demonstrava como Miguel foi afogado.
A promotora mostrou as roupas usadas pela criança: calça jeans azul e camiseta branca, peças diminutas, que mostravam o tamanho e a fragilidade da criança. Com as mãos, a promotora simulou o crime. “Para afogar uma criança com isso, ele teve que segurar a criança dentro da bacia". Diante da cena, a jovem grávida de 9 meses chorou.
Durante o julgamento, como Evaldo se recusou a falar, a promotoria utilizou a gravação do depoimento dele, sendo reproduzido em plenário. Novamente, Thayelle optou em permanecer de olhos fechados, com as mãos no rosto, enquanto o ex-companheiro descrevia o que fez naquele dia.
"Deixei ele desacordado na bacia, ele estava dormindo", disse Evaldo, justificando que estava fora de si. “Quando ele começou a se debater, fui para sala, não fiz nada para impedir".
Ao pedir a condenação por homicídio triplamente qualificado e acréscimo de duas agravantes "por ter matado o próprio filho e por ser cometido contra criança", a promotora leu texto de Roberto Lyra.
"Nada mais contrário a vida que um filho morrer antes da mãe. Nada mais triste que um berço vazio". Sentada da última fileira da plateia, Thayelle balançou a cabeça. O sim silencioso que expressava todo o sentimento guardado desde o dia que Miguel se foi.
Depois da fala da promotora, foi a vez do assistente de acusação, o advogado Benedicto Figueiredo. "Matou um ser angelical, um ser puro, que confiava na figura do pai. E para fazer a mãe sofrer, isso é mal".
O advogado também usou a bacia para evidenciar a crueldade do crime. Thayelle escutava e chorava. "Vejam os pequenos detalhes que vou demonstrar no depoimento dele", disse Figueiredo.
A partir daí, descreveu que Evaldo afirmou ter dado banho em Miguel de roupa, que viu o filho se debater e não fez nada, assumindo que fez isso para chamar atenção da mãe de Miguel.
A todo mundo, o advogado reforçou que Miguel tinha apenas 62 centímetros e foi assassinado pelo pai em uma bacia cheia de água, por meio cruel, torpe e sem qualquer possibilidade de se defender.
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