ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
AGOSTO, SÁBADO  03    CAMPO GRANDE 25º

Cidades

Em júri, acusação leva bacia onde menino morreu para mostrar crueldade do crime

De olhos fechados e chorando, Thayelle acompanhou descrição de como filho foi morto pelo ex-companheiro

Silvia Frias e Geisy Garnes | 25/08/2021 11:25
Promotora Luciana Rabelo demonstra como Evaldo matou o filho Miguel na bacia: afogamento por 10 minutos. (Foto: Marcos Maluf)
Promotora Luciana Rabelo demonstra como Evaldo matou o filho Miguel na bacia: afogamento por 10 minutos. (Foto: Marcos Maluf)

A bacia azul usada para matar Miguel Henrique dos Santos Zenteno, assassinado pelo pai aos 2 anos de idade, era o símbolo materializado da dor da mãe da criança, que assiste ao julgamento esta manhã, em Campo Grande.

A bacia foi levada pela promotora Luciana Rabelo para demonstrar como Evaldo Christyan Dias Zenteno, 23 anos, matou o filho de forma cruel. O crime aconteceu no dia 12 de setembro de 2019, por inconformismo e vingança pelo rompimento da relação com Thayelle Cristina Bogado dos Reis.

Roupa usada por Miguel quando foi assassinado. (Foto: Marcos Maluf)
Roupa usada por Miguel quando foi assassinado. (Foto: Marcos Maluf)

Antes disso, ainda durante a introdução da fala da promotora Luciana Rabelo, Thayelle ouviu de olhos fechados como o filho foi assassinado. A perícia indicou que Miguel, que tinha cerca de 62 centímetros e não cabia na bacia, teve a cabeça empurrada, sendo afogado por cerca de 10 minutos.

A promotora lembrou do socorro no dia do crime, 19 de setembro de 2019, quando a criança foi levada à Santa Casa. As manobras de salvamento foram realizadas por 13 minutos, mas a criança morreu.

Miguel tinha líquido no pulmão e nenhuma lesão que comprovasse a primeira versão de Evaldo, a de que o filho foi retirado dos seus braços por assaltantes e arremessado no córrego.

Thayelle chorou quando ouviu a promotora falar que Evaldo matou o filho para se vingar da dela. "É repugnante alguém matar uma criança para atingir a mãe". Segundo a denúncia, o crime foi cometido como vingança da ex, de quem estava separado havia dois meses.

Roupas e bacia levadas ao plenário. (Foto: Marcos Maluf)
Roupas e bacia levadas ao plenário. (Foto: Marcos Maluf)

A toda citação que se referia à morte do filho, como “afogamento”, “assassinato”, “corpo rígido”, a jovem fechava os olhos.

Logo depois, a bacia azul foi levado ao plenário, momento que Thayelle se levantou e saiu, voltando alguns minutos depois, quando a promotoria demonstrava como Miguel foi afogado.

A promotora mostrou as roupas usadas pela criança: calça jeans azul e camiseta branca, peças diminutas, que mostravam o tamanho e a fragilidade da criança. Com as mãos, a promotora simulou o crime. “Para afogar uma criança com isso, ele teve que segurar a criança dentro da bacia". Diante da cena, a jovem grávida de 9 meses chorou.

Durante o julgamento, como Evaldo se recusou a falar, a promotoria utilizou a gravação do depoimento dele, sendo reproduzido em plenário. Novamente, Thayelle optou em permanecer de olhos fechados, com as mãos no rosto, enquanto o ex-companheiro descrevia o que fez naquele dia.

"Deixei ele desacordado na bacia, ele estava dormindo", disse Evaldo, justificando que estava fora de si. “Quando ele começou a se debater, fui para sala, não fiz nada para impedir".

Sapatos da criança de 2 anos. (Foto: Marcos Maluf)
Sapatos da criança de 2 anos. (Foto: Marcos Maluf)

Ao pedir a condenação por homicídio triplamente qualificado e acréscimo de duas agravantes "por ter matado o próprio filho e por ser cometido contra criança", a promotora leu texto de Roberto Lyra.

"Nada mais contrário a vida que um filho morrer antes da mãe. Nada mais triste que um berço vazio". Sentada da última fileira da plateia, Thayelle balançou a cabeça. O sim silencioso que expressava todo o sentimento guardado desde o dia que Miguel se foi.

Depois da fala da promotora, foi a vez do assistente de acusação, o advogado Benedicto Figueiredo. "Matou um ser angelical, um ser puro, que confiava na figura do pai. E para fazer a mãe sofrer, isso é mal".

O advogado também usou a bacia para evidenciar a crueldade do crime. Thayelle escutava e chorava. "Vejam os pequenos detalhes que vou demonstrar no depoimento dele", disse Figueiredo.

A partir daí, descreveu que Evaldo afirmou ter dado banho em Miguel de roupa, que viu o filho se debater e não fez nada, assumindo que fez isso para chamar atenção da mãe de Miguel.

A todo mundo, o advogado reforçou que Miguel tinha apenas 62 centímetros e foi assassinado pelo pai em uma bacia cheia de água, por meio cruel, torpe e sem qualquer possibilidade de se defender.

Evaldo se recusou a prestar depoimento e gravação anterior foi usada no julgamento. (Foto: Marcos Maluf)
Evaldo se recusou a prestar depoimento e gravação anterior foi usada no julgamento. (Foto: Marcos Maluf)


Nos siga no Google Notícias