Fogo foi protagonista, arrasando gigante natural e destruíndo atacadista
No Pantanal, 4,4 milhões de hectares queimaram em desastre natural sem precedentes; na Capital, Atacadão foi devorado pelas chamas
Em 2020, o fogo fez muitas vítimas. Entre elas, o Pantanal, que segundo dados atualizados da Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), já está com 30% de toda sua área atingida. Isso corresponde a 4,4 milhões de hectares.
Lá, as queimadas que comumente se iniciam em junho com mais vigor, se apresentarem ainda em fevereiro, num verão com menos chuvas e baixo alagamento, que obrigou ações antecipadas do Governo de Mato Grosso do Sul no combate.
Tanto que houve duas Operações Pantanal este ano no Estado, sendo a primeira entre março e junho e a segunda, começou em julho, sendo finalizada apenas em outubro. Aeronaves, militares daqui e de outros estados, bem como brigadistas federais e voluntários atuaram nos combates, que só foi vencido com a chegada das chuvas.
A importante ação humana foi frequente, mas não suficiente para evitar ou mesmo acabar com o maior desastre ambiental dos últimos anos na maior planície alagada do mundo, berçário de espécies únicas da fauna e da flora.
E se ação humana ajudou a combater os mais de 20 mil focos registrados em 2020 – maior quantidade desde 1998 – também foi a responsável pelo fogo, como apontou relatório da comissão externa da Câmara dos Deputados em Brasília, que analisou as queimadas deste ano nos biomas brasileiros e cujo resultado saiu no começo de dezembro.
Na ocasião da apresentação do relatório, a deputada federal Rosa Neide (PT) do Mato Grosso, apontou que o parecer indica sem dúvidas de que a grande maioria dos incêndios no Pantanal teve origem em alguma forma de ação humana e listou depoimentos de pesquisadores e autoridades, como delegados de polícia que investigaram a questão, apontando para a mesma situação.
Além da vegetação exterminada, muitos animais, de aves a mamíferos e répteis foram queimados com o fogo. Os que sobreviveram, contaram com a doação de frutas e verduras alocados em pontos estratégicos, ou tiveram que ser resgatados, como foi o caso de duas onças encontradas com as patas queimadas e bastante debilitadas. Uma delas morreu.
Além disso, o combate ao fogo também fez três mortes, com dois pilotos que caíram com as aeronaves e uma criança de dois anos.
Pós-fogo – Mas quem dera os males para o Pantanal e sua população tivessem sido eliminados junto com o fogo. A fuligem e as cinzas continuam sobre o bioma, piorando não apenas a qualidade do ar, tão rara, como também a da água, que diante da seca e falta de chuvas, está nos níveis históricos mais baixos.
O Rio Paraguai, que serve tanto para abastecimento de Corumbá – principal município pantaneiro em Mato Grosso do Sul – quanto para pesca, está em nível tão baixo que não está dando conta de fornecer nem um nem outro.
Ribeirinhos são os que mais sofrem, porque sobrevivem ou da venda de peixes e iscas, ou de artesanato e neste ano não puderam contar com nenhum dos dois. O primeiro por causa do fogo e o segundo, porque com a pandemia, os turistas sumiram. Auxílio emergencial e doações são o sustento atual dessas populações.
Previsão para 2021 – Segundo especialistas, com os níveis mais baixos dos últimos anos e sem cheia prevista devido poucas chuvas, as queimadas no Pantanal em 2021 podem ser mais devastadoras que as deste ano. Entre 2019 e 2020, havia se acendido alerta sobre a possibilidade de incêndios de grandes proporções, decorrente do já percebido nível baixo do Rio Paraguai. Para ano que vem, eventos podem ser ainda mais catastróficos.
No entanto, se houver articulação e se sociedade civil e governos se mobilizarem a tempo, o problema pode ser diminuído. Para Cássio Bernardino, analista de conservação da Ong WWF Brasil, apesar do “desastre ambiental sem precedentes”, é possível enxergar de outro modo, sendo este um “momento de refletir sobre os desafios que estão pela frente e focar na recuperação e na proteção do Pantanal”.
“O bioma é um ecossistema único, maior área úmida continental do planeta, tem uma biodiversidade única, uma concentração de animais única. É hora de valorizar essa riqueza que o Brasil tem”, avalia, sustentando que “é momento de focar nos planos de conservação e recuperação e montar um sistema eficaz e permanente de controle de incêndios”.
Atacadão – E também no fogo, loja de um dos maiores atacadistas do Brasil em Campo Grande sucumbiu. O Atacadão na avenida Duque de Caxias queimou por completo em 13 de setembro, quando o combate adentrou a madrugada.
No começo do mês passado, resultados preliminares da investigação policial indicavam que houve falha no sistema de combate a incêndio da loja e que o fogo começou de forma proposital. O inquérito foi prorrogado e as investigações continuam.
O local, de 6 mil metros quadrados, ficou completamente destruído, com alimentos e outros produtos queimados. O que não queimou, estragou, causando mau cheiro na vizinhança, que saiu de suas casas devido ao odor e também, à fuligem. O atacadista agiu para retirar os resíduos e está sendo reconstruído, para possível retomada das atividades ainda em janeiro próximo.