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Fogo foi protagonista, arrasando gigante natural e destruíndo atacadista

No Pantanal, 4,4 milhões de hectares queimaram em desastre natural sem precedentes; na Capital, Atacadão foi devorado pelas chamas

Lucia Morel | 23/12/2020 07:15
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Consumido pelo fogo, 30% do Pantanal foi destruído. (Foto: Divulgação Corpo de Bombeiros)
Consumido pelo fogo, 30% do Pantanal foi destruído. (Foto: Divulgação Corpo de Bombeiros)

Em 2020, o fogo fez muitas vítimas. Entre elas, o Pantanal, que segundo dados atualizados da Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), já está com 30% de toda sua área atingida. Isso corresponde a 4,4 milhões de hectares.

Lá, as queimadas que comumente se iniciam em junho com mais vigor, se apresentarem ainda em fevereiro, num verão com menos chuvas e baixo alagamento, que obrigou ações antecipadas do Governo de Mato Grosso do Sul no combate.

Tanto que houve duas Operações Pantanal este ano no Estado, sendo a primeira entre março e junho e a segunda, começou em julho, sendo finalizada apenas em outubro. Aeronaves, militares daqui e de outros estados, bem como brigadistas federais e voluntários atuaram nos combates, que só foi vencido com a chegada das chuvas.

A importante ação humana foi frequente, mas não suficiente para evitar ou mesmo acabar com o maior desastre ambiental dos últimos anos na maior planície alagada do mundo, berçário de espécies únicas da fauna e da flora.

E se ação humana ajudou a combater os mais de 20 mil focos registrados em 2020 – maior quantidade desde 1998 – também foi a responsável pelo fogo, como apontou relatório da comissão externa da Câmara dos Deputados em Brasília, que analisou as queimadas deste ano nos biomas brasileiros e cujo resultado saiu no começo de dezembro.

Na ocasião da apresentação do relatório, a deputada federal Rosa Neide (PT) do Mato Grosso, apontou que o parecer indica sem dúvidas de que a grande maioria dos incêndios no Pantanal teve origem em alguma forma de ação humana e listou depoimentos de pesquisadores e autoridades, como delegados de polícia que investigaram a questão, apontando para a mesma situação.

Além da vegetação exterminada, muitos animais, de aves a mamíferos e répteis foram queimados com o fogo. Os que sobreviveram, contaram com a doação de frutas e verduras alocados em pontos estratégicos, ou tiveram que ser resgatados, como foi o caso de duas onças encontradas com as patas queimadas e bastante debilitadas. Uma delas morreu.

Além disso, o combate ao fogo também fez três mortes, com dois pilotos que caíram com as aeronaves e uma criança de dois anos.

Pós-fogo – Mas quem dera os males para o Pantanal e sua população tivessem sido eliminados junto com o fogo. A fuligem e as cinzas continuam sobre o bioma, piorando não apenas a qualidade do ar, tão rara, como também a da água, que diante da seca e falta de chuvas, está nos níveis históricos mais baixos.

O Rio Paraguai, que serve tanto para abastecimento de Corumbá – principal município pantaneiro em Mato Grosso do Sul – quanto para pesca, está em nível tão baixo que não está dando conta de fornecer nem um nem outro.

Fogo, aliado à seca e à falta de chuvas, secou represas, açudes e reduziu drasticamente volume dos rios. (Foto: Lasa/Reprodução)
Fogo, aliado à seca e à falta de chuvas, secou represas, açudes e reduziu drasticamente volume dos rios. (Foto: Lasa/Reprodução)

Ribeirinhos são os que mais sofrem, porque sobrevivem ou da venda de peixes e iscas, ou de artesanato e neste ano não puderam contar com nenhum dos dois. O primeiro por causa do fogo e o segundo, porque com a pandemia, os turistas sumiram. Auxílio emergencial e doações são o sustento atual dessas populações.

Previsão para 2021 – Segundo especialistas, com os níveis mais baixos dos últimos anos e sem cheia prevista devido poucas chuvas, as queimadas no Pantanal em 2021 podem ser mais devastadoras que as deste ano. Entre 2019 e 2020, havia se acendido alerta sobre a possibilidade de incêndios de grandes proporções, decorrente do já percebido nível baixo do Rio Paraguai. Para ano que vem, eventos podem ser ainda mais catastróficos.

No entanto, se houver articulação e se sociedade civil e governos se mobilizarem a tempo, o problema pode ser diminuído. Para Cássio Bernardino, analista de conservação da Ong WWF Brasil, apesar do “desastre ambiental sem precedentes”, é possível enxergar de outro modo, sendo este um “momento de refletir sobre os desafios que estão pela frente e focar na recuperação e na proteção do Pantanal”.

“O bioma é um ecossistema único, maior área úmida continental do planeta, tem uma biodiversidade única, uma concentração de animais única. É hora de valorizar essa riqueza que o Brasil tem”, avalia, sustentando que “é momento de focar nos planos de conservação e recuperação e montar um sistema eficaz e permanente de controle de incêndios”.

Atacadão – E também no fogo, loja de um dos maiores atacadistas do Brasil em Campo Grande sucumbiu. O Atacadão na avenida Duque de Caxias queimou por completo em 13 de setembro, quando o combate adentrou a madrugada.

Após destruição, loja já começou a ser reconstruída e deve reabrir ainda em janeiro. (Foto: Thiago Flores/CW Drones)
Após destruição, loja já começou a ser reconstruída e deve reabrir ainda em janeiro. (Foto: Thiago Flores/CW Drones)

No começo do mês passado, resultados preliminares da investigação policial indicavam que houve falha no sistema de combate a incêndio da loja e que o fogo começou de forma proposital. O inquérito foi prorrogado e as investigações continuam.

O local, de 6 mil metros quadrados, ficou completamente destruído, com alimentos e outros produtos queimados. O que não queimou, estragou, causando mau cheiro na vizinhança, que saiu de suas casas devido ao odor e também, à fuligem. O atacadista agiu para retirar os resíduos e está sendo reconstruído, para possível retomada das atividades ainda em janeiro próximo.

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