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Cidades

Imunologista alerta: não tomar 2ª dose da vacina amplia riscos de novas ondas

Doutora em imunologia da UFMS faz alerta em texto e quer incentivar a tomada das doses de reforço

Lucia Morel | 30/06/2021 16:12
Homem recebe dose de vacina em drive thru de Campo Grande. (Foto: Paulo Francis/Arquivo)
Homem recebe dose de vacina em drive thru de Campo Grande. (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

Lentidão na velocidade de vacinação contra covid-19 e falta de regularidade nessa aplicação são fatores que colaboram para que haja novas ondas da doença, mas não completar o ciclo vacinal com a tomada da segunda dose prevista, também.

Além de não garantir proteção eficaz a si mesmo, quem desiste ou perde a aplicação da dose de reforço contribui para adoecimento dos demais. Vale ressaltar, que apenas uma aplicação não concede imunidade suficiente e nenhuma vacina, seja contra covid ou outra doença, impede a contaminação. Elas reduzem as chances de formas graves, apenas.

Em texto de sua autoria - confirmado pela reportagem em conversa com a especialista - que circula nas redes sociais, a doutora em Imunologia e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Inês Aparecida Tozetti, explica que “para qualquer vacina ter o efeito desejado devemos considerar a velocidade de aplicação na população e a cobertura vacinal”.

Isso porque é isso que definirá a manutenção ou cessação da circulação do vírus. “Se aplicamos esta vacina para poucas pessoas e vagarosamente, permitimos que o vírus continue circulando, entrando em contato com as pessoas e algumas desenvolvendo a doença, mesmo que de forma menos grave, mas representando ainda um problema para as pessoas”.

Quanto à necessidade de segunda dose, mesmo se o ritmo de vacinação da coletividade estiver devagar, ela esclarece que “com o aumento da cobertura vacinal (mais pessoas com duas doses completas), e a aplicação de forma mais rápida, mais pessoas estarão protegidas e o vírus circulará menos”.

Em seu texto, a doutora ainda reforça que se assim for, “teremos então menos casos de infecção” e é por isso que é tão “importante tomarmos duas doses de qualquer vacina (aquela que tiver no momento para nos vacinarmos), dessa forma vamos colaborar para diminuir a circulação do vírus”.

Em tom de alerta ela sustenta que “enquanto fico esperando a melhor vacina para tomar, permito que o vírus vença o jogo!”.

Isso diante de tantos casos, registrados inclusive pelo Campo Grande News, de pessoas que desistiram de se vacinar porque o imunizante disponível era a Coronavac ou que deixaram de tomar a segunda dose aguardando que num futuro próximo, chegue sua vez de se vacinar, mas com outra vacina.

“É muito pior não tomar vacina nenhuma ou não tomar a segunda dose. Vão demorar pelo menos uns nove meses ainda para que a população seja revacinada que é quando, provavelmente, teremos outros tipos de vacinas. Enquanto isso, a Coronavac ainda será, por um bom tempo, nossa principal fonte de imunização”, sustenta.

SEGURANÇA E EFICÁCIA – a tecnologia de desenvolvimento da Coronavac é a mesma utilizada há pelo menos 70 anos na maioria das vacinas conhecidas e em largo uso – de vírus inativado – que é a mesma usada na vacina da gripe

A professora explica em seu texto que, por conta dessa tecnologia, esse tipo de imunizante é muito seguro, porque a “inativação de um vírus impede que ele se “reproduza” ou seja, não causa infecção de células e, portanto, não temos a multiplicação viral”, o que a torna ainda adequada para uso em crianças, gestantes e puérperas.

Professora Inês Tozetti. (Foto: Arquivo pessoal)
Professora Inês Tozetti. (Foto: Arquivo pessoal)

Ela cita, por exemplo, a cidade de Serrana (SP), onde houve a vacinação de forma rápida e em toda a população adulta com a Coronavac. “Demonstrou excelentes resultados com diminuição de número de casos, moderados, graves e óbitos”.

Justamente por conta do tipo de tecnologia usada em sua fabricação, a Coronavac e outras vacinas que usam o vírus inativado, tem limitações, tendo uma eficácia mediana se comparada às vacinas que utilizam outras tecnologias.

“Outras vacinas têm essa mesma limitação, uma delas é a BCG, ou seja tomamos a BCG ao nascimento mas mesmo assim temos muitas pessoas com tuberculose na sociedade, mas temos menos formas graves de tuberculose ocorrendo (cerebral, óssea e outras). Essa é ideia da Coronavac: ela não impede que você adoeça, mas ela reduz muito o risco de ter doença mais grave”.

Sobre agravamentos e mesmo óbitos após a conclusão da segunda dose após a vacinação, a doutora explica que isso ocorre não apenas diante da eficácia de uma determinada vacina, mas diante a idade imunológica de cada indivíduo, que varia conforme seus hábitos de vida.

“Com o nosso envelhecimento, o sistema imune também envelhece, fica mais lento para responder e responde com menor potência. Alguns estudos questionam a eficácia da Coronavac em idosos, relatando uma faixa de 30 a 60%, por isso devemos ter uma vacinação rápida, com elevada cobertura vacinal”.

A professora lembra ainda, que além da vacina, é importante continuar adotando as medidas não farmacológicas, que são o uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social. Isso, enquanto o vírus estiver circulando. “Dessa forma protegeremos inclusive as pessoas que o sistema imune tem maior dificuldade para responder em virtude do envelhecimento”.

“As medidas de proteção não farmacológicas são importantes não somente para proteger as pessoas ao nosso redor, mas também para diminuir a circulação do vírus. Enquanto tivermos a taxa de infecção elevada, teremos um maior número de mutações virais e então risco de surgimento de variantes mais transmissíveis, mais agressivas (com maior risco de casos graves e óbitos) e que podem não ser cobertas pelas vacinas disponíveis. Se permitirmos isso acontecer voltaremos dez casas atrás no jogo e teremos um impacto muito maior em nossas vidas”, finaliza.

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