Infraestrutura das rodovias de MS gera acidentes e desperdícios milionários
Rede rodoviária de MS conta com 18.610 km de extensão e coleciona problemas de pavimentação e sinalização
Uma das principais rotas do Brasil para o escoamento de minério, celulose e grãos, Mato Grosso do Sul conta com malha rodoviária de 18.610 quilômetros de extensão, composta por rodovias federais, estaduais e concessionadas.
De toda a malha rodoviária, apenas 1.064,9 quilômetros são administrados por concessionárias privadas, sendo 219,5 quilômetros da Way-306, responsável por toda a extensão da MS-306, desde o km zero até o km 218,1 e 1,4 quilômetro da BR-359. Já a CCR MSVia administra os 845,4 quilômetros da BR-163, que corta o Estado de Mundo Novo a Sonora. Nestas, as condições de pavimentos são consideravelmente melhores que as demais.
As condições das vias impactam diretamente toda a economia. De acordo com o mapa de condições da manutenção do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), dos 3.197 quilômetros de malha rodoviária de responsabilidade do Governo Federal, 54% é classificada como regular, ruim ou péssimo. Menos da metade, 46% são consideradas boas para o tráfego.
Um dos piores trechos apontados no mapa está localizado na BR-262, entre Ribas do Rio Pardo e Água Clara, onde há pontos considerados péssimos. De Corumbá a Campo Grande, 90% dos 426 quilômetros da BR-262 é considerado regular. A BR é a principal rota dos pesados caminhões de minério que seguem em direção aos portos.
Outro ponto crítico apontado no mapa está na BR-060, entre Camapuã e Chapadão do Sul. O trecho com variações entre ruim e péssimo faz parte do “triângulo” da celulose, que esta em plena expansão no Estado. A BR-487, até o entroncamento com a BR-163, entre Naviraí e Itaquiraí, também se destaca pelas péssimas condições. Da mesma maneira está a BR-158 e BR-497, saindo de Selvíria até chegar a Cassilândia, passando por Aparecida do Taboado e Paranaíba, região nordeste do Estado.
Conforme o mapa atualizado em janeiro de 2023, todos os trechos de responsabilidade federal possuem contrato de conservação. O levantamento leva em consideração informações sobre sinalização, trincamento, drenagem, remendos, roçadas e panelas, que são os famosos buracos no asfalto. Apenas a BR-419 não possui pavimentação asfáltica, o trecho de 247 quilômetros vai de Anastácio a Rio Verde do Mato Grosso.
Sob responsabilidade do governo estadual estão 15.413 quilômetros de extensão rodoviária, contando com 1.600 quilômetros de rodovias planejadas, que ainda não saíram do papel. Além disso, são 5.142 quilômetros de rodovias pavimentadas e 8.671 quilômetros de rodovias não pavimentadas.
De acordo com a Secretaria de Infraestrutura e Logística de Mato Grosso do Sul, existe um monitoramento dos pontos mais críticos da malha rodoviária estadual, que são rodovias que recebem investimentos em manutenção, mas que precisam passar por ações de restauração.
Entre os piores trechos se destaca a MS-040, entre Campo Grande e Santa Rita do Pardo. Para o local, dois projetos de restauração estão em andamento: um para melhorar 94 quilômetros, do acesso à Colônia Yamato à ponte do Ribeirão Lontra; e outro de 116 quilômetros, do Córrego Santa Terezinha ao município de Santa Rita do Pardo.
O Executivo estadual também está com planejamento para restaurar um trecho de 60,5 quilômetros da MS-276, que vai da BR-163 ao início do trecho urbano de Deodápolis. Um projeto semelhante está previsto para a recuperação da MS-180, entre Juti e Iguatemi. Ao todo, serão recuperados 98 quilômetros da via.
Dados repassados pelo Governo do Estado apontam que o investimento paliativo na malha estadual entre rodovias pavimentadas e não pavimentadas chega a média de R$ 22,5 milhões por mês, com serviços de manutenção da pista de rolagem, roçada, limpeza e recomposição do pavimento. Neste valor não estão contabilizadas as manutenções das obras com pontos e sinalização.
Em resposta a reportagem, a Seilog (Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística) informou que está desenhando novo modelo de gerenciamento dos contratos. O objetivo é fazer com que a secretaria tenha serviço de supervisão para acompanhamento de projetos e obras em execução. Dentro dessa supervisão, será colocado em prática o sistema de gerência de pavimentos, que vai indicar o momento certo para intervir nas rodovias, atendendo com mais eficácia as demandas da malha estadual.
Além do novo sistema de gerenciamento, a pasta indicou que a fiscalização das cargas dos caminhões que circulam por Mato Grosso do Sul também será prioridade, uma vez que o debate sobre o tráfego de caminhões de minério e outras cargas acima do peso permitido está em pauta entre as categorias de transporte do Estado.
Logística - Segundo o estudo, divulgado em dezembro de 2022 pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes), os pavimentos deficientes implicam maiores gastos de manutenção do veículo, maior demanda do motor e de consumo de combustíveis por quilômetro rodado, entre outras despesas ocasionadas pela precariedade de alguns trechos
Em Mato Grosso do Sul, levando em consideração as estradas federais e estaduais, o custo usual dos transportadores sofre um acréscimo médio de 32,6% por conta das rodovias em regular, ruim e péssimo estado de conservação.
De acordo com a confederação dos transportes, a maior oneração aos transportadores reduz a rentabilidade das empresas e aumento de custos, que acaba sendo repassado para o preço das cargas e da movimentação de passageiros.
Os dados revelam também o grande desperdício de combustível devido a problemas de qualidade das rodovias do Estado. Ao todo, em 2022, foram “jogados fora” mais de 33 milhões de litros de diesel fóssil. O desperdício representou prejuízo financeiro de aproximadamente R$ 153 milhões para os transportadores de cargas e de passageiros no Brasil. O diesel desperdiçado resultou em mais de 87 mil toneladas de CO² na atmosfera.
Dorival de Oliveira, gerente da Setlog (Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas de MS), avalia, devido às dificuldades, como reduzir e aumentar a velocidade ao desviar de buracos, desníveis, falta de acostamento, entre outros problemas que fazem com que aumente o consumo de combustível e demais custos com o caminhão.
“O combustível também eleva bastante, pois o caminhão tem que frear a todo momento. Também tem os problemas com suspensão e perda de carcaça de pneus. Além disso, se precisar fazer uma ultrapassagem fica muito perigoso”, avaliou o representante da categoria.
Na estimativa do CNT, para recuperar as rodovias públicas em Mato Grosso do Sul, seria necessário investir aproximadamente R$ 3,1 bilhões, sendo R$ 2,4 bilhões para custear a restauração de forma emergencial e outros R$ 730 milhões em custos de manutenção.
Acidentes – Falta de sinalização e as condições precárias das vias impactam diretamente na ocorrência de acidentes.
Compilado de acidentes divulgados pela CNT aponta que 1.636 acidentes foram registrados em 2022 nas rodovias federais que cortam Mato Grosso do Sul, sendo 1.301 com vítimas (mortos ou feridos). Em média, aconteceram três acidentes com vítimas a cada 10 km de rodovia em 2022.
Somente em 2022, no Estado, foram 167 vidas perdidas, ou seja, a cada 100 acidentes com vítimas, 13 pessoas morreram em 2022. A rodovia com o maior número de acidentes em 2022 foi a BR-163, onde foi contabilizado um total de 668 acidentes com vítimas. A BR-163 é a rodovia em que mais se morre. Em 2022, foram 53 vidas perdidas. Vale lembrar que a rodovia está sob concessão da iniciativa privada e será alvo de nova licitação, devido à falta de investimentos em melhorias.
Em seguida, no ranking de rodovia mais perigosa, aparece a BR-262. Em 2022, foram 232 acidentes na extensão entre Corumbá e Três Lagoas, que resultaram em 44 óbitos. Na BR-060, foram 94 acidentes com 18 mortes. A BR-158 registrou 84 acidentes com 11 mortes, enquanto a BR-267 contabilizou 80 acidentes com 17 óbitos. A maior taxa de letalidade foi registrada na BR-376, onde foram 59 acidentes que resultaram em 20 óbitos.