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Cidades

“Não foi homofobia”: assassino de gays dizia ser “bi” para atrair vítimas

Assim como em depoimento, em entrevista, José Tiago Soroka diz que queria roubar e mortes foram consequência

Anahi Zurutuza | 04/06/2021 09:49
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Não tem nada a ver com a opção sexual [sic], mas pela facilidade de conseguir adentrar [na casa da vítima]. Vou deixar bem claro que não foi por ódio nem homofobia”. A frase foi dita por José Tiago Correia Soroka, assassino confesso de 3 homens gays, um deles sul-mato-grossense, à Folha de S. Paulo.

A reportagem pôde conversar com o homem de 33 anos por 15 minutos, no dia 31 de maio, dois dias após a prisão dele, conforme publicado em reportagem na noite de ontem. Soroka, que para a polícia, tem características de serial killer, disse friamente que atacaria homens heterossexuais ou mulheres que estivessem sozinhos com ele.

“Independente se fosse homem ou mulher [...], independente, se fosse um homem hetero que me chamasse para adentrar à casa e eu visse que tinha a possibilidade de êxito na situação, teria ido”, disse completando que seu único objetivo era roubar as vítimas.

Segundo a reportagem, a entrevista, sem foto, aconteceu em uma sala da DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Curitiba. José Tiago estava com mãos e pés algemados. Disse que naquele dia havia contactado advogado de um dos seus quatro colegas de cela para lhe representar.

Negou sentir atração por homens e se bissexual, como se apresentava em uma rede social. Ele afirma que esta foi uma estratégia usada como isca.

Soroka diz que logo que entrava no apartamento das vítimas e aplicava o golpe “mata-leão” e esperava as pessoas acordarem para “explicar que só queria levar alguma coisa”.

Alega que as mortes foram consequências de atitudes tomadas pelos homens que atacou. “[Expliquei] que não queria fazer mal para eles e que não queria o mal para mim. Eles tentaram reagir, [começaram] a me bater, xingar, falaram que iam chamar a polícia, e eu acabei apertando um pouco mais [o pescoço] e não voltaram”.

Narrou ainda que o assassinato de Robson Olivino Paim, 36, o primeiro descoberto pela polícia, só aconteceu porque a vítima supostamente teria tentado fazer sexo com ele. Foi o professor de Geografia que o abordou, segundo o assassino confesso, em um parque na cidade catarinense de Abelardo da Luz.

“Eu tinha um perfil no Grindr [aplicativo de relacionamento direcionado ao público gay] e acredito que ele deve ter visualizado aquele perfil e que eu estava ali próximo. Pela tatuagem, alguma coisa assim, me localizou. Conversou comigo, expus algumas situações minhas para ele, que eu estava precisando de dinheiro e tal, e marcamos um encontro. Só que ele entrou no banheiro e, quando voltou para o quarto, já estava nu. Então deu toda essa situação. Fiquei surpreso porque em momento algum tinha falado de relação sexual. Ele veio para cima de mim querendo ter relação, não aceitei e deu essa situação”, contou.

O suspeito afirma ainda que a última vítima, arquiteto de Curitiba (PR) que sobreviveu a ataque no dia 11 de maio, se livrou da morte “porque colaborou”. Os dois lutaram, mas a vítima permitiu que Soroka o roubasse. Ele nega que tenha se identificado como “Coringa” e dito que “gosta de matar”, como revelou a vítima à polícia.

“Até porque eu não quero ficar conhecido assim [como serial killer]”, disse à Folha. “Penso que realmente foi um erro ter cometido tudo isso, tanto para mim, para minha vida, quanto para as famílias e a vida das pessoas. Foi um erro, realmente”.

Sobre ter feito mais vítimas, José Tiago se recusou a falar. No interrogatório, ele admitiu ter cometido outros assaltos, mas nega que tenha matado mais. “Têm pessoas que já fizeram denúncia depois que viram minha foto, que vieram falar. Mas são pessoas que talvez, eu não sei se é ou não, tenham cooperado, não reagiram. Isso vai do decorrer dos processos para saber. Não sei se é verdade ou mentira”.

Serial killer - Embora sustente que matava para roubar, para a Polícia Civil do Paraná, que comanda as investigações, há evidências de que os crimes tenham relação com algum “trauma não resolvido”.  Entre as vítimas do homem, também conhecido como “Japa”, está o estudante sul-mato-grossense Marcos Vinícios Bozzana da Fonseca, de 25 anos, que morava na capital paranaense.

“Alguns elementos demonstram que pode existir também um componente de ódio nas ações dele”, revelou a delegada Camila Cecconello, em coletiva de imprensa no dia 29 de maio, horas após a prisão, conforme registrado pelo jornal Tribuna do Paraná. Ela toca as investigações ao lado do delegado Thiago Nóbrega, da DHPP.

Segundo a polícia, José Tiago afirmou durante a confissão que “conseguia fazer” de R$ 4 mil a R$ 6 mil com a venda de objetos que roubava a cada nova vítima, que estava se sustentando com esse dinheiro e continuaria planejando um assassinato por semana para custear compras, segundo a polícia, de “coisa supérfluas” e cocaína.

Mesmo assim, os delegados responsáveis pelo caso acreditam que estejam lidando com um serial killer, um psicopata que mata por “gosto”. O autor da série de assassinatos prestou depoimento na presença de um psicólogo, que, em análise preliminar, também entendeu que a motivação não seja somente obter vantagens financeiras com os assassinatos.

“Acreditamos que escolhia homens gays por algum trauma não resolvido. Nas palavras de um psicólogo que acompanhava o depoimento, 'ele matava fora o que o matava por dentro'. Escolhia as vítimas homossexuais para matá-las mesmo e se aproveitava das mortes para roubá-las. Em nenhum momento optou por mulheres, homens heterossexuais ou idosos. Deu a impressão de que gostava de matar [homens gays]”, detalhou Thiago Nóbrega, conforme trecho de matéria publicada pelo portal Uol.

Os crimes – Além de Marcos Vinício, morto no dia 4 de maio, segundo as polícias do Paraná e Santa Catarina, também foram executados por “Japa”, o enfermeiro David Júnior Alves Levisio em 27 de abril e Robson Paim em 16 de abril.

A vítimas eram atraídas por meio de aplicativo de relacionamentos e os assassinatos cometidos no primeiro encontro. José Tiago não chegou a fazer sexo com os rapazes e os matou asfixiados.

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