ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, SEGUNDA  22    CAMPO GRANDE 21º

Cidades

Sem vacina contra leishmaniose, donos buscam alternativa para proteger cães

Após suspeita de violação de lotes, empresa suspende a venda da única vacina para a doença no país

Mylena Fraiha | 06/06/2023 15:42
Agentes do CCZ colocando coleira repelente em cachorro (Foto: Divulgação)
Agentes do CCZ colocando coleira repelente em cachorro (Foto: Divulgação)

Donos de cães estão preocupados com a recente suspensão temporária da venda da vacina Leish-Tec, o único imunizante contra leishmaniose disponível no Brasil. A medida de suspensão foi tomada pela empresa de saúde e bem-estar animal, Ceva Saúde Animal, que é responsável pela comercialização da vacina no país.

A suspensão foi anunciada no dia 22 de maio, após suspeitas de violação em seis lotes do imunizante. Em nota emitida pela empresa, foram identificados desvios em 42 lotes. A multinacional decretou que os imunizantes deveriam ser recolhidos imediatamente para análise.

Com a suspensão do único imunizante disponível no mercado, os donos de pets se mostraram apreensivos com a decisão. Um deles é o engenheiro eletricista Gustavo Roberto Vieira Nunes, de 54 anos, que sempre vacinou seus cachorros com a Leish-Tec. "Sempre tratei meus animais com essa vacina, mas agora estamos sem saber como será o desenrolar. Não sabemos se a imunização foi efetiva."

Gustavo é dono de sete cachorros, sendo que dois deles moram com ele em sua residência em Campo Grande. Os outros cinco estão em uma fazenda, na região do município de Terenos, a 25 km da Capital. “Com exceção de um cachorro, todos os outros eram tratados com a Leish-Tec. A gente agora está sem saber o que fazer, porque essa é a única vacina que temos no Brasil para leishmaniose.”

Rambo, cane corso recentemente vacinado (Foto: Arquivo pessoal)
Rambo, cane corso recentemente vacinado (Foto: Arquivo pessoal)

Um dos cachorros é Rambo, um cane corso que recentemente foi vacinado com a Leish-Tec. “O mais novinho tomou as três doses. Uma semana depois, eu fiquei sabendo da suspensão, então não sabemos se o animal está imunizado ou não”, relata Gustavo.

De acordo com Gustavo, ele e sua família sempre tentaram dar uma condição digna para os animais, mas o cuidado foi redobrado após perder Edu, um cachorro da raça fox, no ano passado para a leishmaniose. “Fizemos todo o acompanhamento com a veterinária durante um ano e meio. Usamos os medicamentos recomendados, monitoramos com exames. Só que infelizmente ele não resistiu e faleceu”, lamenta.

Desde então, o engenheiro eletricista vacina regularmente seus outros cães com a Leish-Tec. “A gente conhecia a doença, mas não tinha noção de quão agressiva era. Com a perda do Edu, ficamos preocupados e começamos a procurar mais informações. Foi quando encontramos a vacina. Desde então começamos a fazer a vacinação periódica dos nossos animais.”

Para Gustavo, a Leish-Tec era considerada a principal opção de prevenção, entretanto, com a suspensão, ele relata que está apreensivo. “Mesmo que o animal use a coleira, é arriscado, ainda mais para animais que moram em fazenda e tem o risco de se perder no mato. A vacina dava um reforço a mais”.

Gustavo adotou Timão e Pumba, que moram em sua fazenda em Terenos (Foto: Arquivo pessoal)
Gustavo adotou Timão e Pumba, que moram em sua fazenda em Terenos (Foto: Arquivo pessoal)

Prevenção - Mesmo sem previsão de volta da vacina, alguns veterinários têm recomendado outras medidas de prevenção. A veterinária Ana Beatriz de Barros Maciel aponta que existem tratamentos que podem auxiliar na prevenção da doença, como o uso de repelentes.

“Atualmente, com a suspensão da vacina, a orientação para os tutores é usar repelentes tópicos e manter a limpeza dos quintais para evitar a proliferação do flebótomo, além do uso de coleiras e sprays repelentes. Existem opções de duração curta e longa, de modo que é essencial proteger os animais que não foram vacinados para evitar que se infectem com a Leishmaniose”, explica Ana Beatriz.

No caso de animais já infectados, ela menciona que, embora não haja uma cura definitiva para a doença, é possível alcançar a cura clínica, proporcionando aos animais uma boa qualidade de vida.

A veterinária Ana Beatriz também ressalta que caso os animais estejam em tratamento com a terapia autoimune, é recomendado que os donos procurem um veterinário para fazer a troca do tratamento, a fim de evitar a disseminação da Leishmaniose. “É importante ajustar e adaptar o tratamento de acordo com a situação de cada animal."

Doença - A leishmaniose visceral é uma doença transmitida pela picada de flebotomíneos infectados, conhecidos popularmente como mosquito-palha. No Brasil, de acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, foram registrados 1.683 casos de leishmaniose visceral humana no ano de 2021.

Cachorro em estágio intermediário da leishmaniose visceral (Foto: Arquivo/Divulgação)
Cachorro em estágio intermediário da leishmaniose visceral (Foto: Arquivo/Divulgação)

A enfermidade também afeta os animais, sendo um problema especialmente relevante em Campo Grande. Segundo o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), em 2022 foram registrados 1.670 casos positivos de leishmaniose em animais, considerando apenas os tutores que procuraram o órgão para realizar testes.

Os exames realizados em clínicas particulares não são computados nas estatísticas do CCZ. Entre janeiro e abril deste ano, já foram registrados 703 casos positivos, representando um índice de 35% em relação ao número total de coletas realizadas.

Previsão - A reportagem entrou em contato com a Ceva Saúde Animal para obter informações sobre a previsão de retorno da vacina Leish-Tec ao mercado. Até o fechamento desta matéria, não foi obtida resposta. O espaço permanece aberto para futuros posicionamentos da empresa.

Nos siga no Google Notícias