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Cidades

Sem vacina contra leishmaniose, donos buscam alternativa para proteger cães

Após suspeita de violação de lotes, empresa suspende a venda da única vacina para a doença no país

Mylena Fraiha | 06/06/2023 15:42
Agentes do CCZ colocando coleira repelente em cachorro (Foto: Divulgação)
Agentes do CCZ colocando coleira repelente em cachorro (Foto: Divulgação)

Donos de cães estão preocupados com a recente suspensão temporária da venda da vacina Leish-Tec, o único imunizante contra leishmaniose disponível no Brasil. A medida de suspensão foi tomada pela empresa de saúde e bem-estar animal, Ceva Saúde Animal, que é responsável pela comercialização da vacina no país.

A suspensão foi anunciada no dia 22 de maio, após suspeitas de violação em seis lotes do imunizante. Em nota emitida pela empresa, foram identificados desvios em 42 lotes. A multinacional decretou que os imunizantes deveriam ser recolhidos imediatamente para análise.

Com a suspensão do único imunizante disponível no mercado, os donos de pets se mostraram apreensivos com a decisão. Um deles é o engenheiro eletricista Gustavo Roberto Vieira Nunes, de 54 anos, que sempre vacinou seus cachorros com a Leish-Tec. "Sempre tratei meus animais com essa vacina, mas agora estamos sem saber como será o desenrolar. Não sabemos se a imunização foi efetiva."

Gustavo é dono de sete cachorros, sendo que dois deles moram com ele em sua residência em Campo Grande. Os outros cinco estão em uma fazenda, na região do município de Terenos, a 25 km da Capital. “Com exceção de um cachorro, todos os outros eram tratados com a Leish-Tec. A gente agora está sem saber o que fazer, porque essa é a única vacina que temos no Brasil para leishmaniose.”

Rambo, cane corso recentemente vacinado (Foto: Arquivo pessoal)
Rambo, cane corso recentemente vacinado (Foto: Arquivo pessoal)

Um dos cachorros é Rambo, um cane corso que recentemente foi vacinado com a Leish-Tec. “O mais novinho tomou as três doses. Uma semana depois, eu fiquei sabendo da suspensão, então não sabemos se o animal está imunizado ou não”, relata Gustavo.

De acordo com Gustavo, ele e sua família sempre tentaram dar uma condição digna para os animais, mas o cuidado foi redobrado após perder Edu, um cachorro da raça fox, no ano passado para a leishmaniose. “Fizemos todo o acompanhamento com a veterinária durante um ano e meio. Usamos os medicamentos recomendados, monitoramos com exames. Só que infelizmente ele não resistiu e faleceu”, lamenta.

Desde então, o engenheiro eletricista vacina regularmente seus outros cães com a Leish-Tec. “A gente conhecia a doença, mas não tinha noção de quão agressiva era. Com a perda do Edu, ficamos preocupados e começamos a procurar mais informações. Foi quando encontramos a vacina. Desde então começamos a fazer a vacinação periódica dos nossos animais.”

Para Gustavo, a Leish-Tec era considerada a principal opção de prevenção, entretanto, com a suspensão, ele relata que está apreensivo. “Mesmo que o animal use a coleira, é arriscado, ainda mais para animais que moram em fazenda e tem o risco de se perder no mato. A vacina dava um reforço a mais”.

Gustavo adotou Timão e Pumba, que moram em sua fazenda em Terenos (Foto: Arquivo pessoal)
Gustavo adotou Timão e Pumba, que moram em sua fazenda em Terenos (Foto: Arquivo pessoal)

Prevenção - Mesmo sem previsão de volta da vacina, alguns veterinários têm recomendado outras medidas de prevenção. A veterinária Ana Beatriz de Barros Maciel aponta que existem tratamentos que podem auxiliar na prevenção da doença, como o uso de repelentes.

“Atualmente, com a suspensão da vacina, a orientação para os tutores é usar repelentes tópicos e manter a limpeza dos quintais para evitar a proliferação do flebótomo, além do uso de coleiras e sprays repelentes. Existem opções de duração curta e longa, de modo que é essencial proteger os animais que não foram vacinados para evitar que se infectem com a Leishmaniose”, explica Ana Beatriz.

No caso de animais já infectados, ela menciona que, embora não haja uma cura definitiva para a doença, é possível alcançar a cura clínica, proporcionando aos animais uma boa qualidade de vida.

A veterinária Ana Beatriz também ressalta que caso os animais estejam em tratamento com a terapia autoimune, é recomendado que os donos procurem um veterinário para fazer a troca do tratamento, a fim de evitar a disseminação da Leishmaniose. “É importante ajustar e adaptar o tratamento de acordo com a situação de cada animal."

Doença - A leishmaniose visceral é uma doença transmitida pela picada de flebotomíneos infectados, conhecidos popularmente como mosquito-palha. No Brasil, de acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, foram registrados 1.683 casos de leishmaniose visceral humana no ano de 2021.

Cachorro em estágio intermediário da leishmaniose visceral (Foto: Arquivo/Divulgação)
Cachorro em estágio intermediário da leishmaniose visceral (Foto: Arquivo/Divulgação)

A enfermidade também afeta os animais, sendo um problema especialmente relevante em Campo Grande. Segundo o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), em 2022 foram registrados 1.670 casos positivos de leishmaniose em animais, considerando apenas os tutores que procuraram o órgão para realizar testes.

Os exames realizados em clínicas particulares não são computados nas estatísticas do CCZ. Entre janeiro e abril deste ano, já foram registrados 703 casos positivos, representando um índice de 35% em relação ao número total de coletas realizadas.

Previsão - A reportagem entrou em contato com a Ceva Saúde Animal para obter informações sobre a previsão de retorno da vacina Leish-Tec ao mercado. Até o fechamento desta matéria, não foi obtida resposta. O espaço permanece aberto para futuros posicionamentos da empresa.

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